O ex-Presidente moçambicano Joaquim Chissano afirmou hoje que desarmar e desmilitarizar a Renamo "não é nada do outro mundo", exigência que deverá presidir, do lado de Maputo, a negociações entre as duas partes, que, admitiu, poderão reunir-se em breve.
Em declarações à agência Lusa, à margem da Conferência Moçambique - Portugal, que decorreu em Cascais, Joaquim Chissano admitiu estarem em curso contactos com vista a preparar, para breve, um encontro entre o presidente Filipe Nyusi, e o líder da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), Afonso Dhlakama.
"Nem é do interesse da Renamo continuar nas matas e a ser vista como um partido não credível, por manter armas de um lado, e paralelamente, membros no Parlamento. Está muitas vezes conotada com terrorismo, etc", sublinhou Chissano.
"Creio que a Renamo não está interessada nisso. E o Governo, por seu lado, não está interessado em continuar com um país cuja economia se vai novamente tornando uma economia de guerra. Não pode ser. O Estado está interessado em avançar e valorizar mais as conquistas feitas no passado", acrescentou.
Chissano, que se escusou a adiantar pormenores sobre os contactos em curso, e que envolvem também o Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, afirmou acreditar que as negociações poderão ter um "desenlace positivo", mas insistiu na desmilitarização da Renamo.
"Não é nada do outro mundo. O ponto principal é desarmar a Renamo, desmilitarizar o partido Renamo. Depois, segue o resto, que é toda essa filosofia de reconciliação de que falamos há muito tempo", defendeu.
Questionado sobre que garantias poderá o Governo dar à Renamo numa eventual pós-desmilitarização, Joaquim Chissano defendeu que a pergunta está "ao contrário".
"Pensava que iria pôr a questão ao contrário: que garantias é que a Renamo vai dar? Porque quem voltou às armas não foi o Governo, foi a Renamo", respondeu defendendo mais tarde, já aos jornalistas, que, por não estar no Governo, não pode saber quais as exigências a apresentar por cada uma das partes.
"Isso é o que vão discutir. Não estou no Governo e não posso dizer o que cada parte exige. Vão exigir e depois haverão negociações e as cedências. Até agora não sabemos o que vão pôr em cima da mesa", frisou.
Sobre os esforços de Marcelo Rebelo de Sousa no processo de paz moçambicano - esteve no Vaticano e com a Comunidade de Santo Egídio, em Roma, e efetuou uma visita oficial a Moçambique -, Joaquim Chissano defendeu que o Presidente português "agiu precisamente como devem agir os amigos".
"Procurar soluções e não complicar os problemas. Não se distanciou dos problemas. Os contactos terão tido algum impacto para o que se está a passar agora, que é a preparação das partes para um novo diálogo. Penso que foi positivo", indicou.
Joaquim Chissano considerou, por outro lado, que a população moçambicana há muito que quer a paz, defendendo não ser possível o retorno à guerra moldes em que decorreu o conflito civil no país (1976/1992).
"A paz em Moçambique está a penetrar no coração dos moçambicanos. Não é possível em Moçambique, jamais, o retorno à guerra como no passado. Há de haver desestabilização, um ataque a um autocarro, etc, são coisas desagradáveis, mas o retorno a uma guerra é impossível porque o povo não quer e o povo está consciente disso", acrescentou.
"Aprendemos com os 16 anos de guerra. Uns (Frente de Libertação de Moçambique - Frelimo) e outros (Renamo)", concluiu.
Lusa – 28.06.2016
NOTA: Então porque o não fizeste?
Fernando Gil
MACUA DE MOÇAMBIQUE