Em primeiro de tudo não sou um amante de guerras nem mesmo de vídeos wargames, mas de autoridade.
Um estado sem autoridade não garante a segurança do cidadão, sendo olhado com desconfiança pelos investidores, que apenas admitem investir em clima de estabilidade e segurança, sendo porta aberta para o banditismo armado e o caos.
No meu entender o líder da Renamo o que quis demostrar até aqui, é que detem a capacidade de desgovernar o país, e mesmo assim manter-se no activo político sem punição. Esta é no fundo a ilação a tirar de todas incongruências registadas no epicentro da crise política, e cuja tendência é o seu agravamento, caso o governo não se transcenda, e ponha a ordem necessária para erradicar o mal pela raiz.
O oposto da ordem é a violência indiscriminada protagonizada pelos homens da Renamo. No fim de contas um estado respeitável é também autoritário, que se impõe através da Lei e ordem. A morosidade do Estado ou incapacidade de tornar o quadro funcional e colocá-lo nos eixos, funciona em sentido contrário, estimula forças regressivas, e inebria alentos em direcção ao pressuposto poder, acalentado das matas.
Para quem viveu o espectro de uma guerra, o constante matraquear da linguagem da guerra e os actos de terrorismo evidenciados, geram inevitalmente um sindroma psicológico de medo e de insegurança nas pessoas.Sendo crime, é táctica empregue pela Renamo, a mando de grupos com interesses económicos em Moçambique, para obrigar o governo a fazer concessões político económicas, ao mesmo tempo que espera com o acto capitalizar ganhos políticos e ao mesmo tempo diluir o partido do governo.
É verdade que a paz e o desenvolvimento do país, estiveram sempre reféns da ambição de um só homem, porque reféns do desarmamento da Renamo sob a chefia de Afonso Dlhakama que quando entende de acordo com a sua agenda e dos seus amigos colonial-fascistas, aciona os seus homens para semear o terror entre as populações indefesas. Concordo com o ex-presidente Chissano quando este reafirma que Dlhakama “agiu de má-fé” ao não respeitar o principal ponto dos acordos Geral de Paz, de 1992, e de Cessação das Hostilidades Militares, de 2014.
Posto isto pergunto o porquê mais um diálogo com a Renamo, se o interlocutor provou não ser honesto, apenas interessado em sair no jornal e estar na ribalta da mídia? Por outro lado não vejo como confiar em alguém com provas de ser falsário, um psicopata que mata por prazer moçambicanos inocentes, e destrói bens privados e do estado, para obter ganhos políticos?
O presidente Nyusi, diz que confia no interlocutor, muito bem, ele é o Comandante e chefe das forças de defesa e segurança. O diálogo deve ser visto como o ónus para solucionar os problemas, no entanto está a criar-se uma cultura de impunidade, que viola a soberania, a identidade cultural nacional, e a ideia de uma sociedade política plural harmonizada numa democracia. É que nenhum destes valores e ideias estão esgotadas. O governo não declarou guerra, no entanto encontrámo-nos num ponto sem retorno, no qual a Renamo deve respeitar o poder constituído, e estabelecer-se no seu espaço político conquistado, como qualquer outro partido.
Quando Dlhakama assegura que a existência dos seus homens armados está estipulada no AGP, (como seus seguranças),anda brincar com a inteligência nacional. Pergunto se os homens da Renamo espalhados de Funhalouro a Moatize, de Morrumbala a Gorongosa, são todos eles seguranças de Afonso Dlhakama? E quanto se sabe o AGP, preconizava que logo após as primeiras eleições gerais democráticas de 1994, a segurança pessoal do líder da Renamo, seria substituída pela PRM.
As desculpas esfarrapadas para fugir ao desarmamento do seus efectivos militares da parte de Dlhakama, tiveram sempre um sentido: manter a milícia armada fora do controlo estatal, para uso do terrorismo, com a finalidade de obter ganhos político e económicos.
Para que haja uma paz efectiva em Moçambique, em primeiro de tudo tem de haver respeito pelo poder constituído. Não pode haver um estado dentro do estado, duas polícias, nem dois exércitos, um do estado e outro privado. Os homens da Renamo em idade militar devem deixar de estar sob o comando e políticas de desestabilização, contra o estado democrático de direito, desarmar e integrar-se nas FDS.
Moçambique está a viver um momento particularmente delicado, por um lado vítima dos ataques dos homens da Renamo, e do outro a lidar com a questão do défice orçamental e a divida pública, no valor de1.66 milhões de dólares(10.1 mil milhões de euros), que corresponde a 71 por cento do PIB, contraídos pelo anterior executivo em 2013 e 2014,neste momento sob investigação do PGR e FMI.
Quanto a questão da crise política despoletada da Renamo, com as suas pretensões autonomistas, a via do diálogo é sempre uma porta aberta de alternativa guerra, contudo não vislumbro como acomodar contrasensos e reivindicações inexequíveis no quadro constitucional vigente, e uma revisão constitucional nunca será para agradar interesses de indivíduos ou grupos de pressão. Fala-se que em breve teremos paz em Moçambique, mas fala-se de forma leviana, por no meu entender a actual crise político militar nunca deveria ter tido lugar. Vamos ter paz, mas e a que preço? Sabemos que por detrás destas movimentações existem interesses de corporações nas tintas com a integridade territorial de Moçambique, nem com a sua soberania ,constituição e o seu povo; países que deram luz verde à separação do Sudão, deram luz verde à divisão do Iraque, à invasão e destruição da Libia; grupos que apenas se interessam é tirar proventos económicos.
As várias sensibilidades expressas no xadrez político nacional e à sociedade no geral, exigem dos actores politicos honestidade, além de compromisso com a democracia, e não uma democracia armada, por ser uma aberração, e se o mundo mudou, ajustámo-nos a ele, sem contudo perder a identidade e valores que nos identificam como povo. São os valores de parte importante da população, eventualmente maioritária, classe média baixa e as elites que de uma forma multiforme valerá a pena observar, para evitarmos o barranco. As forças da globalização representada por grupos de interesses ligadas a forças neocolonialistas , continuam a semear sementes de desunião em Moçambique, e essa história de flor do Indico continua a ter um gosto amargo na boca de uma população, que ainda não usufrui da paz e desenvolvimento, sustentado nos imensos recursos a que tem direito.
Chegou-se ao ponto de termos comportamentos estranhos, protagonizados por diplomatas de países da UE, como se não nos bastassem os actores políticos, e o desfilar de comentaristas, alguns de muito mau gosto cá do burgo. Julgam que pelo facto de até ao momento terem contribuído para o OGE, têm direito a antena , dar entrevistas e fazer pender as decisões de acordo com a sua chancela política, e ideológica ; simplesmente uma vergonha. É dessa forma que lidam com a Africa? Não tenho conhecimento de algum diplomata africano ter actuado de forma leviana no ocidente.
Não somos anti-ocidentais, mas temos de ser realistas. O que questiono é o motivo que leva alguns países a brincar com a vida dos moçambicanos?
Aconselharam Dlhakama a ir para as matas, e agora esfregam as mãos sobre a possibilidades de mediar a crise político-militar, e vão exclamando que a solução para a saída da crise não é militar, etc, etc. A pergunta é se a missão de alimentar uma crise politica em Moçambique fazem parte do curriculum diplomático ocidental? E dizem que a democracia não funciona em Africa. Depois da propalada existência de valas comuns, que se provou ser notícia pré-fabricada, e fala-se em asfixia democrática. Como pode haver falta de liberdade de expressão quando todos os dias jornais e pasquins conotados com a oposição, produzem tantas mentiras para defenderem os seus pontos de vista, e nem se importam de utilizar impropérios e insultos quando se dirigem ao chefe do Estado?
E para terminar não entendo como é que um assunto que podia ser resolvido dentro de casa, deixou de poder sê-lo, e a haver mediadores qual irá ser o seu papel, quando as mortes de nacionais e destruição de bens são usados como pressão, numa balança evidente a servir de guião na destruição do regime. O líder da Renamo sempre conhecia as regras de jogo antes da eleições, e não me venham gora com lamúrias de mau perdedor, porque nem sequer é o que está em causa. A Renamo perdeu e bem as eleições gerais e presidenciais, e se não fosse a alta abstenção teria perdido por muito mais. Então este é o plano B?E qual será o plano C? Será que afinal o terrorismo compensa?...Isto porque as exigências da Renamo são as mesmas, portanto inexequíveis à ordem constitucional vigente em Moçambique.
Ps. Sobre a questão da divida escondida, concordo com a asserção do ex-presidente Joaquim Chissano, de que o processo de investigação deve ser feito com calma e sem emoção, por o governo ter mostrado total abertura em resolver a questão, e por envolver pessoas com certa integridade.
O estado deve promover o ensino das línguas nacionais com mais profundidade, por serem elas que nos identificam como parte deste mosaico cultural, e como povo soberano que somos. E conforme apregoa um filósofo contemporâneo nos seus ensinamentos,`` Se individualmente nos sentimos mais confortáveis em falar, vestir ou viver como ocidentais, é uma opção individual; contudo devemos ter em mente, que na ótica ocidental, por sermos negros , mulatos, orientais, ou hindus, por mais que nos esforcemos nunca seremos considerados iguais a eles.
Inácio Natividade
JORNAL DOMINGO – 26.06.2016