Centelha por Viriato Caetano Dias ([email protected]
“Deus deu-me agulha sem linha e flecha sem seta” – Hosiah Chipanga, músico e compositor zimbabueano
E deu-nos também alguns dirigentes com uma fraca capacidade de análise do futuro. É curioso que continua-se a pensar que os recursos naturais são a vereda do progresso económico do país. Engana que assim pensa, porque a maior parte dos recursos são efémeros, ao contrário da cultura, é duradoura. O futuro das nações está precisamente no turismo não dogmático, nem igualitário.
O país precisa de um turismo dinâmico, genuíno e de qualidade, que faça a diferença no contexto das nações. O pensamento estratégico do turismo deve olhar para a gastronomia nacional, a dança, a música, a escultura, a pintura, enfim, o património arqueológico e arquitectónicos, para solucionar os problemas locais de pobreza e do desemprego. Estes são os motores capazes de puxar pelo país. É disto que o país precisa. Falta-nos técnicos de cultura, dotados de uma visão estratégica, para dinamizar o turismo. Há tantas reuniões públicas, muitas delas inúteis em termos de agenda e de resultados, mas raramente debate-se o turismo cultural.
Aquilo que conseguirmos fazer de diferente, certamente despertará interesse a toda a gente. Todos vão querer ter, comprar, vender e publicitar. Se o governo de Inhambane incentivasse o seu povo a apostar mais na utilização das suas ramadas para construir hotéis e objectos de arte, decerto aumentaria a presença dos turistas na província. Se o governo de gaza apostasse mais no turismo aquático, com certeza traria maiores ganhos para a província.
Se o governo de Manica publicitasse mais a suas artes rupestres e o seu património geológico, certamente não estaria a minguar. Se os governos de Tete e Niassa prestassem mais atenção na sua fauna, naturalmente estariam no poleiro e a prosperar. Se o governo de Nampula capitalizasse a sua história, é óbvio que a província estaria noutro estágio de desenvolvimento.
Não basta levar dezenas de artistas para Portugal, Suíça, França, Holanda, Bélgica, Alemanha, etc., quando internamente desconhece-se o valor das suas obras. Não se faz turismo sem elementos culturais. Não pensar nisso, que a cultura é o fermento do desenvolvimento, é amputar o sonho libertário da nação. Numa altura em que o país ressente-se da falta de divisas, o turismo cultural poderia ser uma alavanca certa para o desenvolvimento.
Gostaria de falar das passagens áreas, mas as palavras morrem-me nos lábios. Há duas semanas estive na Bélgica e visite o memorial da Batalha de Waterloo (para ser mais preciso o Monte do Leão). O que é que há de especial? Nada mais que um amontoado de terra que se diz ter sido trazida do próprio terreno de batalha. Ao cimo está a famosa estátua do leão. Conversei com uma das funcionárias que me disse que aquele local histórico recebe diariamente dezenas de visitantes de todo o mundo.
Outro aspecto interessante é que não há elevador, o visitante sobe e desce dos próprios pés os 226 degraus de escadas que dão acesso ao pico do monte. Perguntei e a resposta foi pronta “com esta escada ganha-se saúde”.
As visitas geram divisas para a região. Isto é que é fazer turismo, o turismo do futuro. Um turismo que não compromete o meio ambiente, pelo contrário, promove o progresso económico, social e cultural da região de Waterloo. Não sei porque é que não seguimos o exemplo. Estou a ver, por exemplo, o monte Binga ou a cabeça de Velho, na província de Manica, que são monumentos naturais únicos, mas que não têm sido devidamente aproveitados.
A diferença é que os belgas já vivem o futuro, os moçambicanos ainda estão à procura da chave para abrir as portas do futuro. ZICOMO e um abraço nhúngue ao amigo Saene.
WAMPHULA FAX – 27.06.2016