O Reino Unido votou pela saída da União Europeia (UE) no referendo realizado quinta-feira, reporta a agência noticiosa AFP, após os partidários do Brexit garantirem 16,8 milhões de votos.
O líder do Brexit Nigel Farage declarou que é 'a vitória da verdade, da gente simples'. 'Faremos isto por toda a Europa. Espero que esta vitória derrube este projecto falido e nos leve a uma Europa de Nações soberanas'.
'Vamos nos livrar desta bandeira (europeia), de Bruxelas e de tudo que fracassou. Façamos deste 23 de Junho nosso dia da independência', declarou Farage.
A chefe de governo da Escócia, Nicola Sturgeon, declarou que 'a votação aqui mostra claramente que os escoceses vêem seu futuro como parte da UE'.
Já o líder do partido republicano Sinn Fein, Declan Kearney, estimou que a província britânica da Irlanda do Norte deve realizar um referendo sobre sua união com a Irlanda após a saída do Reino Unido da UE.
'Temos esta situação em que o norte está sendo arrastado para fora (da UE) pelo resultado na Inglaterra (...). O Sinn Fein pressionará por sua demanda de referendo'.
O líder da extrema-direita holandesa, o deputado Geert Wilders, exigiu um referendo sobre a permanência de seu país na UE, após a vitória do Brexit no Reino Unido, nesta sexta-feira.
'O povo holandês também merece um referendo. Por isto, o Partido da Liberdade exige um referendo sobre a saída da Holanda da União Europeia', disse Wilders em um comunicado.
'Queremos estar a cargo do nosso próprio país, queremos nosso próprio dinheiro, nossas fronteiras e nossa política de imigração. Se fosse o primeiro-ministro, teríamos um referendo na Holanda sobre a saída da União Europeia. Que o povo holandês decida'.
As más notícias para os defensores da permanência na UE começaram em Newcastle, primeira cidade a divulgar resultados, onde a permanência venceu por pequena margem, mas muito inferior às previsões favoráveis à permanência, com 50,7 por cento contra 49,3 por cento.
Já em Sunderland, outra cidade do norte da Inglaterra, a saída do grupo europeu ganhou com ampla vantagem, por 61,34 por cento, contra 38,66 por cento.
Escócia e as grandes cidades votaram pela permanência na UE, inclusive superando as previsões, mas regiões inteiras do centro e do sul da Inglaterra, e o País de Gales, apoiaram em massa pela saída do Bloco.
Londres, Glasgow, Aberdeen e Liverpool votaram a favor da UE, mas cidades de tradição operária e portos pesqueiros deram um rotundo não à permanência na UE.
Pânico nos mercados. Os mercados asiáticos foram dominados pelo pânico nesta sexta-feira, diante do resultado favorável à saída do Reino Unido da União Europeia.
A Bolsa de Tóquio recuava oito por cento e Hong Kong e Sidney perdiam algo em torno de três por cento no final da manhã de hoje.
Por volta das 03h15 GMT (05h15 em Moçambique), a libra esterlina era cotada a 1,3466 dólar, seu nível mais baixo em relação à moeda americana desde 1985. Minutos depois, caía a 1,33 dólar.
Paralelamente, o dólar era cotado abaixo dos 100 ienes e o euro, a menos de 110 ienes.
'O Banco do Japão anunciou sua disposição de facilitar a suficiente liquidez, utilizando em particular as operações de 'swap' em vigor entre os seis bancos centrais, para garantir a estabilidade dos mercados', declarou o governador Haruhiko Kuroda à AFP.
O ministro japonês das Finanças, Taro Aso, assegurou à imprensa que está disposto a actuar rápido diante dos movimentos 'extremamente bruscos' que estão sacudindo os mercados.
'Responderemos com firmeza quando for necessário', declarou o ministro, acrescentando que está 'preocupado com os riscos que pesam sobre a economia mundial e os mercados financeiros e de divisas'.
As acções dos grupos bancários Standard Chartered e HSBC, com sede em Londres, recuavam 9,2 por cento e 8,6 por cento respectivamente, na Bolsa de Hong Kong.
No sector petrolífero, o barril do West Texas Intermediate para entrega em Agosto cedia 3,11 dólares, a 47,00 dólares. O barril do Brent do Mar do Norte recuava 3,14 dólares, a 47,77 dólares.
As casas de apostas britânicas mudaram sua tendência na madrugada de sexta-feira e passaram a antecipar a vitória do Brexit.
Após dois meses de uma campanha dura e tensa, que teve como momento mais dramático o assassinato da deputada trabalhista e pró-UE Jo Cox, 46,5 milhões de eleitores responderam a seguinte pergunta: 'O Reino Unido deve permanecer como membro da União Europeia, ou abandonar a União Europeia'?
O primeiro-ministro britânico, David Cameron, que convocou o referendo e jogou seu futuro político na consulta, votou no centro de Londres bem cedo.
Nunca um grande país abandonou a UE desde o nascimento do projecto europeu nos anos 1950, quando as nações ainda viviam sob os escombros da Segunda Guerra Mundial, e metade do continente era governado por ditaduras. Actualmente, a UE engloba 28 países democráticos.
O Reino Unido entrou para o bloco em 1973 e, dois anos depois, organizou um referendo para calar os eurocépticos, com vitória da permanência. A votação desta quinta-feira dificilmente encerrará esse debate.
'Estamos em território desconhecido', afirmou o professor Chris Bickerton, da Universidade de Cambridge e autor de 'The European Union: A Citizen's Guide'.
'A saída será um golpe muito duro para UE. Há muito tempo a moral não estava tão baixa em Bruxelas', concluiu.
AFP/SG
AIM – 24.06.2016