A Economist Intelligence Unit (EIU) considera que o restabelecimento do apoio técnico e financeiro do Fundo Monetário Internacional (FMI) a Moçambique não deve acontecer este ano por causa da "relutância" do Governo em fazer reformas.
"Dada a continuada relutância do Governo em comprometer-se com transparência orçamental e a inexistência de medidas políticas impopulares, um restabelecimento do programa do FMI em 2016 parece improvável", dizem os peritos da unidade de análise económica da revista britânica The Economist.
Numa análise à visita do FMI ao país, que terminou na semana passada, a EIU escreve que, ainda assim, "à medida que a crise de liquidez avança e a escassez de divisas tem mais impacto nas instituições públicas, o Governo e a `linha dura` dentro do partido no poder vão ficar cada vez mais abertos às políticas do FMI".
Sobre a auditoria externa às contas públicas, exigida pelo FMI e pelos doadores internacionais, que também suspenderam o apoio financeiro no seguimento da divulgação de empréstimos escondidos no valor de mais de 1,4 mil milhões de dólares, a EIU, na nota de análise a que a Lusa teve acesso, diz que "uma auditoria completamente transparente ainda é improvável, mas os constrangimentos financeiros vão forçar o Governo a aceitar reformas e a apertar os seus instrumentos políticos".
Na análise, com o título `Visão altamente crítica do FMI` sobre Moçambique, os analistas da EIU afirmam que os peritos do FMI assumiram uma "linha dura, culpando os desafios económicos da visão excessivamente expansionista e, com o país arriscando um alto nível de dívida, concluíram que o plano do Governo para instruir a Procuradoria-Geral para aferir o nível de dívida era insuficiente".
Os analistas da Economist deixam também um tom crítico quando se referem à "falta de sinceridade do Governo sobre as medidas necessárias para restaurar a estabilidade económica", exemplificando com as declarações do ministro das Finanças sobre a crise, atribuída "à seca, inundações e à queda do preço das exportações" e lembrando que "já antes, o Presidente Nyusi tinha negado que o congelamento das ajudas estava ligado aos empréstimos secretos, afirmando, ao invés, que era o resultado de dificuldades nas economias dos países de origem" dos doadores internacionais.
"Com as taxas de juro exigidas pelos investidores a serem as segundas mais altas do mundo, a seguir à Venezuela, parece que o Governo também tem ainda de recuperar a confiança do mercado", conclui a EIU.
LUSA – 30.06.2016