Pensamento de: África Monitor
Depois da cedência à Renamo na exigência de mediação internacional para relançamento do processo político, o Governo revela agora pressa em ter no terreno os mediadores, cuja presença até há pouco tempo rejeitava.
O principal objectivo parece ser assegurar as condições de segurança exigidas pela Renamo para que se realize um encontro entre os dois líderes, numa altura de grande pressão interna e externa para o fim das hostilidades – quer da comunidade internacional de doadores, cujos desejos as autoridades se vêem na obrigação de acautelar para conseguir o mais rapidamente possível a reposição das ajudas orçamentais, quer dos investidores e demais agentes económicos, com os confrontos a terem já repercussões significa tivas na actividade económica e projectos de investimento futuros, além da população, principal vítima dos ataques de ambas as partes.
Para o Presidente da República, Filipe Nyusi, que em relação ao seu antecessor, Armando Guebuza, sempre adoptou uma postura mais aberta à via negocial.
O relançamento do processo negocial político representa o triplo teste de repor as condições de segurança no Centro e Norte território, conseguir “remendar” as relações com os parceiros internacionais, e ainda impor-se perante a ala mais “belicista” do regime, com quem disputa o controlo sobre as forças de segurança.
Ainda com peso significativo entre as forças de segurança e na Frelimo, a ala mais afecta a Guebuza está agora acossada pelo caso das dívidas escondidas, durante o mandato do anterior Governo, que ditou a suspensão das ajudas dos doadores e actual situação de aflição orçamental.
Já depois dos encontros havidos entre Filipe Nyusi e Afonso Dhlakama em 2015, registaram-se o ataque das forças de segurança à residência de Dhlakama na Beira, o atentado contra secretário-geral da Renamo, Manuel Bissopo, e ataques a outros responsáveis do partido, que fizeram instalar na Renamo, e entre parte dos parceiros internacionais, dúvidas sobre a capacidade de efectivo controlo de Nyusi sobre as Forças de Defesa e Segurança (FDS), perante a forte influência de “ala dura” da Frelimo, adepta da solução “angolana” de resposta militar tendo em vista eliminar capacidade da Renamo e deter líder.
No terreno, mantém-se a situação de conflito de baixa intensidade, com episódios esporádicos de violência e insegurança em zonas do Centro e Norte do país, e confrontos envolvendo dirigentes dos dois partidos, que a qualquer altura podem atingir uma expressão suficiente para fazer descarrilar o retomar do processo negocial.
* título da responsabilidade do Correio da manhã
CORREIO DA MANHÃ – 24.06.2016