Centelha por Viriato Caetano Dias ([email protected] )
“O senhor Dhlakama não está interessado em resolver o problema da paz. Ele encarnou no seio de si que as armas é que o tornam mais relevante e forte. Sem armas em punho, perde o seu poder e, neste momento, não se quer ver despido desse poder.” Padre Couto in SAVANA, 29 de Julho de 2016, p. 3.
D e vez em quando algumas pessoas perguntam-me se não apanho perturbações mentais face a cobardia dos insultos de alguns internautas que não aceitam a diferença de pensamento. O dogmatismo que professam a favor da Renamo, a par de acumuladas frustrações provocadas pela indivisibilidade do país, criam territórios e fronteiras mentais que não admitem a diversidade de opiniões. Agem como uma legião de loucos com o objectivo de destruir o carácter alheio. A propósito, valerá a pena recordar as palavras de Gilberto Mendes, apresentador do programa Super Sextas, na TVM: “Dar cabo do carácter dos outros é coisa que o moçambicano adora.” Para aqueles que me insultam, a minha resposta é só uma: nos caminhos de Deus não há portagens, nem porteiros, muito menos aderentes específicos. Ainda há tempo para se curarem do ódio que nutrem por mim.
A obsessão da Renamo pelo estrangeirismo não é de hoje. A História ensina-nos (para quem realmente quiser aprender) que para celebrar o Acordo Geral de Paz, em Roma, a Renamo precisou de mediadores estrangeiros. Em 2014, em Maputo, para a assinatura do Acordo de Cessação das Hostilidades Militares, a Renamo outrossim exigiu a presença de estrangeiros. Em 2015, o abandono das matas do líder da Renamo, foi condicionado a presença de diplomatas estrangeiros. Actualmente, para parar com as matanças de civis, a Renamo voltou a exigir mediadores estrangeiros. Esta obsessão pelo estrangeirismo não é à toa que surge, nem é por falta de confiança na Frelimo, pois mesmo com a presença dos seus “amiguinhos estrangeiros” nas negociações, a Renamo nunca abandonou as armas. Face ao exposto, co-loco três questões: Porque é que a Renamo é obcecada pelo estrangeirismo? Porque é que a Renamo tem tanta fobia pelos moçambicanos? Afinal quem manda na Renamo? Afonso Dhlakama é, até que me provem em contrário, um instrumento do estrangeiro. Aliás, é assim que a Renamo nasceu no xadrez político nacional.
Existem, porém, algumas incongruências, senão vejamos: Quando há conflitos no Ocidente, a Renamo não é chamada como mediadora/facilitadora. Quando o Ocidente corre com moçambicanos dos seus países, alegadamente por possuírem documentos ilegais, a Renamo não é chamada e nem chama a razão. Quando há xenofobia contra moçambicanos, no estrangeiro, a Renamo também não é chamada e nem chama ao juízo. Quando o Ocidente bombardeia países economicamente prósperos, sob pretexto de possuírem armadas de destruição maciça, a Renamo não é consultada em condena o acto. Em contrapartida, minúsculo desentendimento entre irmãos moçambicanos, a Renamo asinha corre para o estrangeiro chamar os seus “amiguinhos”.
Destarte, estamos a permitir que feiticeiros entrem em nossas casas, para nos roubar as riquezas. Isto é neocolonialismo. Eu compreendo perfeitamente que a Renamo precisa dos “amiguinhos” estrangeiros para internacionalizar o seu conflito e/ou evitar possíveis condenações pelos acções macabros contra civis desarmados e inocentes, o que não faz sentido é o continuo acto de subestimar a capacidade intelectual dos moçambicanos na resolução dos conflitos. Isto revela, também, a falta de auto-estima. Se não for falta de auto-estima, então, estamos perante um caso de um partido que cumpre agendas do estrangeiro. O país não pode continuar refém de um partido que se guia pelos interesses dos estrangeiros. Infelizmente, esta novela ainda terá muitos capítulos, se bem que a Renamo não tenciona desarmar-se NUNCA.
A Renamo não aprende. Sempre que recorre as armas perde tempo e eleições. Perde o leme e cai no abismo. Os mediadores podem testemunhar, mas não podem votar. Não são os mediadores que fazem ganhar eleições, mas sim o eleitorado que está a ser vítima da teimosia da Renamo, quando esta opta pela via armada, para resolver os seus problemas. A ideia de que os mediadores serão a salvação da Renamo é ridícula, porque não fazem parte do xadrez político nacional. A Renamo deve apostar nos ensinamentos de David Aloni, na inteligência pura de Jafar Gulamo Jafar, na prudência de Raul Domingos, na paciência chinesa de Joaquim Vaz e Jerónimo Malagueta, na visão de águia de Celestino Bento e Vicente Ululu, na militância de Almeida Tambara, na bravura de Hermínio Morais, se quiser realmente ganhar eleições. Caso contrário, continuará presa na armadilha das armas.
Infelizmente, a Renamo continua a dar tiros no próprio pé. Há uma velha frase que aprendi na vida que diz: Na primeira quem quer cai, na segunda cai quem quer, na terceira quem é parvo. Para um bom entendedor, meia palavra basta. Zicomo e um abraço nhúngue a todos os leitores do Wamphula Fax, especialmente ao amigo Veniça.
P.S.: No sábado passado, 30 de Junho, conversei com um amigo sociólogo que me fez ver o seguinte: “O diálogo não é inocente, ele está revestido de valores, crenças e interesses. Porquanto a sociedade exige diálogo entre a Frelimo e a Renamo, então, as duas lideranças estão a dar-nos o que exigimos: diálogo. O que se quer, na verdade, é a resolução dos problemas.”
WAMPHULA FAX – 01.08.2016