Exmo. senhor Presidente da República, Filipe Jacinto Nyusi. Esta é a nona missiva que lhe dirijo. Quero acreditar, aliás, a minha consciência me diz que as minhas cartas lhe chegam às mãos. É satisfação maior para mim que Vossa Excelência leia as minhas humildes missivas e, se possível, tirar delas algumas ilações. São cartas de um humilde cidadão moçambicano, preocupado com o seu país e que em nenhum momento lhe passou pela cabeça ofender a quem quer que seja com essas cartas.
Como moçambicano, sinto que tenho o dever patriótico de alertar quando o meu (nosso) país está a afundar. A cada hora revela-se-nos a antecâmara do precipício. Esta singela contribuição, tem em vista provocar um debate de ideias sobre como podemos salvar Moçambique do buraco. O país está de rastos, Presidente.
Excelência
O “camarada” Sérgio Viera, que ostenta a patente de Coronel, disse numa longa entrevista publicada pelo semanário Magazine Independente, datada de 24 de Junho passado, que: “FRELIMO ESTÁ EM RISCO DE PERDER PRÓXIMAS ELEIÇÕES”.
Isto é grave para si e, sobretudo, para o partido, Presidente, quando vozes contestatárias da governação do dia se erguem de dentro da própria Frelimo. Isto é sinal inequívoco de que algo não esta a correr a contento. Faço parte dos que pensam que o senhor Presidente não deveria exercer apenas um mandato. Sinto que tem muito para pôr em prática e não caberia num único mandato. É sintomático o que Coronel Sérgio Viera disse publicamente e no seio do partido até se comenta.
Senhor Presidente, Moçambique está em colapso total. Tenho a certeza de que o senhor sabe disso. Há quem diga que o Presidente Nyusi não conhece a realidade amarga que assombra os quase 23 milhões de moçambicanos, porque vive noutro mundo. Está na sumptuosidade da Ponta Vermelha , a pisar relva e comer caviar, enquanto o povo come o pão que o diabo amassou ou melhor dizer continua a comer xima com feijão.Este pensamento não é de Nini Satar, mas, sim, de milhões de nossos concidadãos!
Senhor Presidente, na semana antepassada, o seu ministro da Economia e Finanças, Adriano Maleiane, disse num briefing em que estavam presentes vários jornalistas que o país estava a atravessar dificuldades sem paralelo e, que este ano seria o pior dos último 15 anos. Se Maleiane, economista de créditos há muito firmados, disse isso é porque de facto estamos mal.
Na semana passada, o seu ministro dos Transportes e Comunicações, Carlos Mesquita, veio também a público afirmar que a área da sua tutela também estava em crise. Mesquita falou também de uma imperiosa necessidade do Governo concessionar alguns aeroportos. Senhor Presidente, isto é gravíssimo. Provavelmente querem com as “vendas” desses aeroportos pagar as dívidas em atraso ou juros de demora.
estamos a retroceder!!!!
Há meses atrás vimos circular nas redes sociais informações dos ministérios da Saúde e da Terra, Ambiente avisando sobre atrasos salariais dos trabalhadores. Um claro sinal do colapso em que nos encontramos como país.
O Ministério do Interior, que zela sobre questões de ordem e segurança públicas, também tem problemas salariais. Há quem diga que até já há cortes no combustível às viaturas de patrulhamento. Podem até ser medidas de austeridade, mas pecam por ser graves para este sector.
Em gíria popular diz-se que numa casa onde não há comida, todos ralham e ninguém têm razão...
Senhor Presidente,
Nas minhas habituais conversas com alguns administradores de empresas públicas e privadas e com alguns membros do seu elenco tem sido nota dominante de que “estamos em colapso total”.
O senhor Presidente Nyusi, eventualmente ainda não havia chegado aos cálculos que cheguei quando alertei em primeira mão que o país estava em colapso.
escrevi em novembro passado aqui neste pagina.
Moçambique poderá ser como Guiné-Bissau ou Nigéria onde os agentes da lei e ordem, procuradores e juízes são corruptos. Os funcionários públicos vão entrar nos esquemas da corrupção. Sabe quem vai sofrer com isso, senhor Presidente? É o povo que depositou a sua total confiança em si. O povo, meu Presidente, não tem dinheiro para pagar uma dívida, ainda mais contraída por outrem em nome do Estado moçambicano mas para fins escusos. Os que contraíram a dívida são conhecidos e circulam livremente a coçar as suas barrigas avantajadas.
Senhor Presidente, vai chegar uma altura em que os polícias de trânsito, em vez de exigirem as cartas de condução e livretes, vão sair à rua só para chantagearem os automobilistas. Até existem inspectores do Ministério da Economia e Finanças que vão às lojas de pobres comerciantes, exigir documentos inexistentes, só para obterem subornos.
Se o governador do Banco Central, Ernesto Gove, declarou que o país já não tem reservas em moeda estrangeira porque não exporta nada, estamos a caminhar para a fase em que iremos aos supermercados e mercearias e encontraremos os estabelecimentos às moscas. O dólar americano caminha a passos largos para os 100 meticais a unidade e o Rand sul-africano para os 6 meticais!
vai ser imposivel importar mercadorias como sabe senhor presidente até tomate nos importamos.
A culpa será a si atribuída, Presidente, pois nos tempos eleitorais, de caça ao voto, o senhor sentava na esteira e comia xima e feijão com o povo. Fingia humildade e simplicidade. Nesse tempo o senhor Presidente pisava o mesmo chão que os seus eleitores e estes acreditavam que o senhor também era um igual. Muita coisa mudou no imaginário da população com esse simples gesto: passaram a pensar que as suas casas de caniço tinham os dias contados e que teriam casas de alvenaria. Para o povo, Deus tinha mandado um anjo, com nome de Filipe Jacinto Nyusi para ajudar o seu rebanho.
DECEPÇÃO TOTAL!!!
Sim, decepção total. O povo esta decepcionado consigo, Presidente, porque só come caviar e deixou o feijão para o povo. E ainda bem se tivesse o povo esse feijão!!!!
Soluções
O senhor Presidente disse na tomada de posse que o povo era o seu “único e exclusivo patrão” e que na sua cabeça só cabia a palavra “Paz, Paz, Paz”. Aliás, isto foi o seu slogan o cavalo da batalha da sua campanha eleitoral. Acompanhando os noticiários, tomo conhecimento de que o seu Governo tem pretensões de chamar mediadores internacionais para resolver a tensão político- militar. Pode explicar ao povo o que andam a fazer Jacinto Veloso, Benvida Levy e outros integrantes da sua equipa negocial?
O país esta em guerra e economicamente de tangas. Senhor Presidente, da mesma forma que no dia do IDE se sentou com os muçulmanos na sua oração sagrada, de cofio na cabeça, não vejo dificuldades de quebrar o protocolo e dizer aos seus camaradas que “eu sou Filipe Jacinto Nyusi, Presidente da República de Moçambique. O povo votou em mim e, eu tenho a obrigação e dever de agradar a estes meus patrões, que depositaram em mim toda a sua confiança.”
Diga-lhes que quer PAZ com a Afonso Dhlkama. Estabeleça um marco para se alcançar essa paz nem que isso lhe custe o deslocar-se até à Serra da Gorongosa. Segura o Dhlkama pela mão direita e mostre-lhe que apesar de adversários políticos, são ambos moçambicanos e todos querem construir e desenvolver Moçambique em clima de paz. A paz, Presidente, não tem cores partidárias, não tem raças, não é de ricos ou pobres. É de todos.
Traga Dhlkama a Maputo e convoque a imprensa toda, desde a CNN, BBC, Al Jazeera, Reuters, Rádio Moçambique, STV, TVM para que todos testemunhem que a guerra em Moçambique acabou.
Diz-se que conversando nos entendemos. Tudo se resolve. Tenho a certeza que todos aqueles que estão decepcionados consigo irão mudar de pensamento imediatamente. Só assim poderá resgatar a esperança dos moçambicanos e quiçá, restaurar a confiança dos doadores e da comunidade internacional.
Para finalizar, gostava de encorajá-lo a tomar como agenda principal o resgate a paz. Não há ninguém no mundo que mete dinheiro num país em guerra, onde as pessoas são mortas como se de animais se tratassem.
Um abraço patriótico de
Nini Satar