EUREKA - Laurindos Macuácua
Bom dia, Presidente: como é que acordou hoje? Eu, infelizmente, acordei alvoraçado por conta da crise que abala o meu País. Para lhe ser franco, nem dormi. Passei a noite toda a ruminar tristezas. Isto não será o caos, Presidente?
Ontem, fui ao contentor habitual do nigeriano. Queria comprar qualquer coisa para o jantar lá em casa. Qual é o meu espanto: até as patinhas subiram por causa do dólar. E se o preço dos produtos subisse enquanto existe o metical em circulação, a situação seria outra. Mas não há dinheiro!
Sabe o quanto dói, Presidente, quando um chefe de família não consegue nem comprar patinhas para a família? E há quem diga que isto é só o começo. Aonde vamos, Presidente?
Na verdade, esta fome, esta desgraça, vai atazanar 22 milhões de moçambicanos.
Um punhado, os suspeitos de sempre, é que vai aumentar os quilos. Alguns vão ficar rechonchudos. Beneficiar-se-ão também os engraxistas, os vizinhos ou amigos do poder do dia.
Na verdade, somos um país de compadres e “quem não tem padrinhos morre mouro”. Isto, lamentavelmente, se vai acentuando cada vez mais. Ainda me ocorre o seu comentário, Presidente, pouco depois da vinda da equipa técnica do FIM a Moçambique: “O que o FMI nos recomendou, é de fácil execução”. Recorda-se? Está a pôr isso em prática?
Desde que eclodiu a crise vamos ser sinceros, desde que tomou posse como Presidente da República- , o Presidente ainda não fez além da imitação de Pôncio Pilatos, empurrando os problemas para os outros. Se não há dinheiro, é por causa da conjuntura mundial e não do Governo de Armando Guebuza. Se há guerra, é por causa da Renamo que gosta de desestabilizar o País.
Sinceramente, já não sei quem é o desestabilizador…
O futuro colectivo, dos moçambicanos, continua a ser decidido no secretismo e na opacidade. Mas conhecemos a matéria que serviu de base para esta convulsão: clientelismo, nepotismo, corrupção…aqui dá-se prioridade, sobretudo, às influências, sacrificando o povo.
Digo-lhe com sinceridade, Presidente: é de uma confrangedora desonestidade intelectual continuar a escutar as afirmações dos governantes da Frelimo negando o óbvio: o País está ser sancionado pelo mau desempenho dos sucessivos governos da Frelimo, partido que governa o País desde a independência nacional.
E o Dhlakama, o seu mais directo interlocutor para a paz, disse esta semana que a Frelimo não está interessada em negociações sérias. Está interessada em lhe eliminar fisicamente. Não sei se isto é verdade. Vou lhe dar o benefício da dúvida em respeito à sua maturidade política.
Hoje não me vou alongar. Até à próxima, Presidente.
DIÁRIO DE NOTÍCIAS – 15.07.2016