EUREKA Laurindos Macuácua
Bom dia, Presidente. Como vão as coisas ai pelas terras da Zambézia?
Faria muito gosto se as novidades fossem boas. Eu, felizmente, vou melhorando.
Ou seja, sigo o mesmo ritmo que o País: altos e baixos. Contudo, tenho um sorriso a desabrochar: afinal os mediadores já cá estão. Só esperamos o bendito dia do vosso (Afonso Dhlakama e Filipe Nyusi) frente-a-frente.
Pois bem: alguém disse um dia que é temerário em política ditar sentenças finais. Não sei se é verdade, se a experiência em questão for a moçambicana. Aqui o desfecho político quase sempre é conhecido. Ou seja, só votamos por mero exercício da cidadania. O vencedor sempre é conhecido. Ganhe ele bem ou mal. Com fraude ou não. Sempre é conhecido!
Este meu pequeno intróito, Presidente, vem à propósito do que o senhor disse esta quarta-feira: “A prioridade do diálogo com a Renamo são os interesses do povo”. Não sei se estava a falar deste povo moçambicano, ou, metaforicamente, povo, para si, significa a súcia dos camaradas.
Não quero duvidar da sua boa vontade, mas tenho o direito de colocar algumas reticências em tudo o que o senhor diz. É que desde que foi eleito Presidente da República sempre tem dito que o seu patrão é o povo. Eu, talvez se for a me esclarecer, não conheço patrão nenhum que é posto de lado pelo seu próprio empregado, quando o assunto são mordomias.
O povo, o tal patrão, anda desenrascado. Dorme mal, acorda mal, alimenta-se mal…quer dizer vive taxativamente mal, enquanto o seu empregado usufruiu as benesses da vida.
À mesa de diálogo com a Renamo, gostava que se sentasse uma outra Frelimo. Uma Frelimo madura, interessada, verdadeiramente, com o povo.
Porque se for a mesma Frelimo de hoje, as negociações não terão desfecho agradável, porque tem arrogância à flor da pele e vai querer influenciar todas as alíneas do cardápio do diálogo.
Chega de construir um Estado falhado. Um castelo de areia. O diálogo em bem-vindo e fazemos votos para que o desfecho seja ideal para o povo moçambicano. Este povo, Presidente, já sofreu o que tinha que sofrer. Se se aguenta até hoje, de certeza, é por milagre, ou seja, é por aquela velha ideia sem fundamento de que a esperança é a última coisa a morrer.
Que esperança tem o povo moçambicano? Que esperança tem um povo humilhado? Que esperança tem um povo que abandona a escola, não tem hospitais, as suas casas estão destruídas, as machambas foram abandonadas, tudo em nome de uma guerra que o povo não declarou?
Afinal, que guerra é essa, Presidente, que faz com que as pobres viaturas do povo moçambicano sejam queimadas na Estrada Nacional Número Um? Quem esta a lutar com quem? Os beligerantes o que querem? Essa raiva da Renamo é de hoje? O que se devia ter dado a Renamo que se não deu?
Será que a Renamo tem razão de reclamar alguma coisa? São estas pequenas questões que devem nortear o diálogo. É proposta do povo!
O povo quer continuar a viajar de Maputo a Rovuma usando a via terrestre sem escolhos. O povo quer ter acesso à educação, saúde, emprego e, sobretudo, ir às suas machambas sem ser amedrontado por disparos de beligerantes cujo interesse é o melhor naco. O povo há-de continuar a comer a sua maçaroca, mas para que isso se efective, deixem-no trabalhar em paz.
DN – 22.07.2016