A bancada parlamentar da Frelimo acusou hoje a Renamo e o seu líder, Afonso Dhlakama, de negociarem a paz ao mesmo tempo que semeiam a morte e a destruição no país.
"Nós, Frelimo, condenamos a Renamo e o seu líder que, simultaneamente, está em negociação, nos termos por ela mesmo sugeridos, está sentada connosco no parlamento, nas assembleias provinciais, e continua a atacar, a matar, a mutilar, a saquear e a destruir", declarou a líder parlamentar da bancada maioritária.
Segundo Margarida Talapa, que discursava no encerramento da III sessão ordinária da Assembleia da República, as acções atribuídas à Renamo são "um sinal inequívoco de que o seu compromisso é destruir e atrasar o desenvolvimento do povo moçambicano".
O discurso da chefe da bancada da Frelimo acontece um dia depois de as negociações de paz entre Governo e Renamo terem sido suspensas até ao regresso dos mediadores internacionais, a 08 de Agosto, num momento em que persiste um ambiente de confrontação entre as partes no centro do país.
"A Renamo, teimosa e injustificadamente, assalta unidades hospitalares, saqueia viaturas, ataca comboios, destrói nas estradas e nas aldeias e aterroriza populações", afirmou Margarida Talapa, lamentando que muitos moçambicanos estejam a abandonar as suas zonas de origem, a deixar as escolas ou não tenham acesso a centros de saúde.
Para a chefe da bancada da maioria, a chegada da equipa de mediação internacional, em meados de Julho, representa a reunião de condições para o "reencontro da família moçambicana", esperando que, "com a maior celeridade se abra caminho para a paz efectiva e duradoura".
Margarida Talapa fez uma referência à difícil conjuntura económica e financeira que Moçambique atravessa e a paz, referiu, é uma das soluções.
"Além da paz, é condição fundamental a construção da confiança com os parceiros de cooperação para o desenvolvimento económico e social do país", assinalou Margarida Talapa, numa alusão à suspensão dos apoios do Fundo Monetário Internacional e dos doadores do orçamento do Estado, na sequência do caso das dívidas não declaradas pelo Governo.
A deputada disse que o Executivo já prestou informações ao parlamento o assunto e "reafirmou o seu compromisso de reforçar a transparência" e também de equilibrar o pagamentos dos seus encargos e a angariação de recursos para dinamizar a economia.
"Estamos satisfeitos porque estão criadas as condições objectivas, no respeito pelos preceitos legais, para esclarecer todas as dúvidas sobre a dívida pública, em particular a relativa à emissão das garantias soberanas", comentou.
A dívida pública moçambicana disparou para 86% do Produto Interno Bruto, após a revelação em Abril de empréstimos de 1,4 mil milhões de dólares garantidos pelo Governo entre 2013 e 2014, à revelia do parlamento e dos doadores.
O caso tornou-se conhecido quando Moçambique vive uma crise económica, marcada pela descida das exportações, queda do metical, subida da inflação e redução do investimento, e também relatos de confrontos entre as Forças de Defesa e Segurança e a Renamo no certo do país, além de denúncias mútuas de raptos e assassínios de dirigentes políticos.
As autoridades moçambicanas acusam a Renamo de emboscadas e ataques contra alvos civis na região centro e o maior partido de oposição, por sua vez, denunciou recentemente bombardeamentos na serra da Gorongosa, onde se presume encontrar-se o seu líder, Afonso Dhlakama.
A Renamo recusa-se a aceitar os resultados das eleições gerais de 2014, ganhas oficialmente pela Frelimo, e ameaça governar em seis províncias onde reivindica vitória no escrutínio.
Lusa – 28.07.2016