Centelha por Viriato Caetano Dias ([email protected] )
Numa sociedade em crise de valores, com escassez de referências morais, tem que haver algumas 'ilhas' de seriedade para a inversão da situação prevalecente, atacando positivamente, pela conduta exemplar, a 'gangrena' que diariamente produz vítimas. Frase extraída de uma conversa com amigo e poeta Nkulu Durante a semana passada, num retiro na província de Gaza, pus-me a esmiuçar sobre o país. Dessa reflexão, longa e exausta, tirei duas conclusões: a primeira é que o partido Frelimo está a ressentir-se das consequências do envelhecimento.
É a lei da natureza, quando o envelhecimento atinge o Homem, gravitam problemas de saúde física e mental, com enfoque para complicações respiratórias e das juntas, perda de memória, dificuldades de visão, improdutividade, rotina de hábitos, inércia, resistência à mudança, etc. Isto também acontece com os partidos políticos. Penso que a Frelimo deixou de agir como um colectivo que sempre se empenhou no imperativo do povo, para muscularizar-se no plano partidário, onde predomina o individualismo e a bajulação. Quando o leme de um partido, com responsabilidades governativa, consiste em recompensas de cargos políticos, o povo se divide e a nação morre. Acredito que o presidente Filipe Jacinto Nyusi tenha-se apercebido deste triste cenário e que tão breve quanto o agora consiga virar esta página muito negra e muito triste em que a Frelimo tenha chegado.
Este é um problema muito sério que, se continuar colado ao partido, comprometerá a governação da Frelimo nas próximas eleições. Dizem que nada dura eternamente. Porém, a Frelimo não deve sair do poder agora, pelo menos até conseguir afastar os “Estados predadores”, interessados pelo NOSSO património natural.
A segunda conclusão é sobre a actuação da Renamo. Este partido está a matar gente, instigado por um único desejo: PODER. Os tiros que dispara, contra alvos militares, infelizmente, mutilam e matam civis desarmados e indefesos. As incursões militares da Renamo retraem o investimento nacional e estrangeiro, enfim, atrasam o desenvolvimento sustentável do país. Posso estar enganado, mas acredito que não é propriamente a dívida que afunda o país (as dívidas gerem-se, reescalona-se, negocia-se, etc.).
O que carcoma o país é o seu esquartejamento contínuo e incessante pela Renamo. A circulação normal de pessoas e bens só acontecem em algumas zonas, porque noutras, o tiro é mais sonante que o Hino Nacional. Ceder uma exigência da Renamo porque rouba, mata e destrói é o mesmo que beber água salgada. Não mata nem alivia a sede. O governo deve ceder, sim, mas no campo político, parlamentar, científico, cultural, etc.
Em democracia, cedência por via das armas, não resolve problemas. Começou por solicitar a presença de mediadores nacionais e internacionais no diálogo agora em curso. Pedido que foi aceite pelo governo. Depois veio à terreiro exigir o alargamento da equipa negocial. Também foi aceite pelo governo. Não sabe-mos o que mais vai solicitar, amanhã. Quando as fomes apertarem o estômago, surgirão outras reivindicações e mais reivindicações. Temos que nos habituar a viver e conviver com uma Renamo bicéfala, o contrário é pura ficção. O meu maior desgosto é ver um actor político como Afonso Dhlakama deixar-se ludibriar por alguns correligionários seus ambiciosos e gananciosos. Eu conheço alguns deles. Não os vejo a trocarem a comodidades e a luxúria que disfrutam como políticos para viverem como cobras no mato. Felizmente as minhas centelhas são lidas por gente próxima de Afonso Dhlakama e, nesta esteira, espero que este meu apelo lhe chegue aos ouvidos. “Mato é para cobras”, canta e encanta o músico beirense João Estima. Zicomo e um abraço nhúngue ao amigo Laimo. ´
P.S.: Todos os anos o nosso país recebe dezenas de figuras públicas, alguns deles antigos e actuais decisores políticos, geralmente oriundas do Ocidente, para proferirem palestras nas universidades públicas e privadas. Trazem consigo muitas teorias e teoremas que nos seus países de origem nunca foram capazes de receitar para os seus governos e povos. A mobilidade académica só tem um sentido, nunca é equitativa, como se nós (moçambicanos) fossemos aselhas e inaptos. Aconchegam-se em hotéis de luxo pagos pelos nossos impostos, por debitarem algumas ideias, das quais, acreditam eles, que os moçambicanos estão desprovidos. A culpa não é deles, são dos nossos reitores e políticos preconceituosos que ignoram e pontapeiam sumidades mentais nacionais, a favor do estrangeirismo geográfico e de cor. Bem disse o amigo Nkulu que “As competências e as incompetências não têm etnia, tribo, região, raça, religião, sexo nem geração.”
WAMPHULA FAX – 21.07.2016