Um colega meu alertou-me que na tradição, nos momentos fúnebres, a crítica passa ao lado.
Parece-me difícil falar de jornalismo e de jornalistas e passar ao lado da crítica , ela que é um elemento fundamental da profissão, sobretudo dos que levam a sério a profissão.
Talvez aqui passar ao lado da tradição.
Mas não vou falar do Machado da Graça. Ele cumpriu a sua missão. Com brio e cidadania.
Por isso nos deixa um pesado legado.
Por isso nos vai fazer falta. Por isso nos faz falta.
Faz-nos falta a sua palavra cinzel que em construções simples e bem articuladas nos explicava o que parecia mais complicado. Com golpes certeiros, ia directo ao assunto, ao cerne das questões.
Fazem-nos falta estas pessoas.
Quando a intimidação nos parece sufocar, quando a desconstrução da realidade se tornou oficina metódica, faz-nos falta aquela voz, aquelas vozes, que, como o poeta, nos dizem, eu irei por aqui. Sem atalhos, nem advérbios, dando o peito às balas.
Vozes assim catalizam vontades e desvanecem medos e incertezas.
É nos momento de penumbra, nos nevoeiros que povoam as nossas consciências e quereres que é importante sentir a palavra certeira e firme.
Precisamos da palavra, mas faz-nos falta o humor, a ironia, o sarcasmo mordaz. De tudo isto era feito o labor metódico do Machado, da sua foice demolidora, do gozo dos seus bonecos, das suas montagens bem dispostas. Até a crise parece menos crise.
São estas coisas simples mas com alguma profundidade que queria deixar aqui para todos nós. Os que gostamos e os que se sentiam incomodados com a sua forma de estar.
Não sou, não somos donos de símbolos e palavras.
Mas sei que o Machado, da sua graça, gostava de ouvir.
A luta continua !
Até sempre camarada !
(mensagem do PCA da mediacoop SA, Fernando B. de Lima, na cerimónia de despedida ao jornalista Machado da Graça, colaborador indefectível do jornal SAVANA)