DE VEZ EM QUANDO... Por: Afonso Brandão
Historiador, investigador, homem do Teatro e da Rádio (da qual era reformado), cronista, escritor e jornalista, Machado da Graça era, mais do que soma de rótulos, uma voz irredutivelmente lúcida. E um Amigo «de mão cheia» com quem tive o privilégio de conviver, amiúde, um Amigo que acabo de perder e cuja memória irei venerar e recordar para sempre, com um Homem Vertical, sereno e dócil.
Perante a notícia do seu desaparecimento no dia 18 do corrente mês de Julho, morte anunciada para os que sempre souberam do diagnóstico fatal ouvido pelo médico com essa "expressão macambúzia" de quem traz toque finados, morte adivinhada para mim através de um dos seus últimos "e-mails" enviado em Maio, foi como se eu tivesse levado um soco no estômago quando me confidenciou que «morrer é mais difícil do que parece, acredita que sim, Amigo Afonso...» (sic). João Machado da Graça, de seu nome completo, fora vítima de cancro hepático, ou seja, cancro do fígado.
Depreendi destas inesperadas palavras um sentimento de resistência que consola os que o admiravam e liam: não houve testamentos traídos. Lúcido, inteiro, corajoso, estes atributos ganharam ressonância perante a (re)leitura desse testamento deixado nas inúmeras crónicas semanais que escreveu para a coluna «A Talho de Foice», no Semanário SAVANA e também no jornal português Correio da Manhã, aos quais esteve ligado desde sempre.
Figura destacada na luta contra o actual regime da FRELIMO, com o qual discordava em inúmeros pontos essenciais de base, Machado da Graça, a par de nomes como o malogrado jornalista Carlos Cardoso, Daniel Lipanga, Salomão Moyana, Abel Faife ou Viriato Caetano Dias. Machado da Graça foi, acima de tudo, um Patriota que amava o seu País Moçambique e, sobretudo, o seu Povo e os mais desfavorecidos.
Deixa um enorme vazio no actual panorama da Comunicação Social Moçambicana. Foi alguém que trocou quase tudo pelo fulgor das ideias, da Literatura e do Jornalismo.
Tinha 70 anos. Por vontade expressa foi cremado no Crematório do Cemitério Hindu, em Lhanguene esta 5ª Feira, dia 21. Paz à sua Alma de Eleição! Até Sempre, João!
O AUTARCA – 27.07.2016