Xícara de Café de salvador raimundo
JÁ cá está o momento negocial tão aguardado pelos moçambicanos de pé rapado, aqueles que enfrentam a verdadeira crise do rebentar de uma guerra não declarada.
O momento que pode colocar ponto final à maldita guerra não declarada, responsável pelo suspense das mães de jovens a soldo das Forças de Defesa e Segurança em campos de batalha.
Enquanto estes jovens que só sabem obedecer ordens superiores, para isso é que juram bandeira, as mães não sabem se eles voltam ou acabam morrendo nas matas e os corpos atirados debaixo de uma ponte qualquer lá de Macossa, ou abandonados no mesmíssimo local da morte.
Mais caricato é que três meses nas matas da Serra da Gorongosa, em riste com a rebeldia, a malta não pensa em mais nada que não na guerra.
No final do período de tensão alta, duas semanas de folga acabam por saberem a pouco. Há que retornar às matas. Ao cheiro a pólvora, ao suor e ao sangue.
O cheiro a catinga invade qualquer indivíduo que se faz às matas, metido em roupa militar, de correria em correria.
Entre a malta jovem, há os que não retornam à casa mesmo volvidos os três e com direito a folga.
Nestes casos, as mães e outros parentes insistem em telefonemas e os pequenos aparelhos mudos. De tão mudos que a preocupação cresce, cresce e cresce.
Os serviços de apoio, que deviam fornecer informação fiável, por mais ruim que seja, insistem que nada de ruim aconteceu com o jovem nas matas, simplesmente o telemóvel ficara sem carga. O blã blã blã do costume…
Quando, por meios alternativos, lá se apura a veracidade da situação, difícil, muito difícil mesmo, é transladar o corpo para junto dos seus.
Da intensa troca de informação, lá se chega à fala com Alice Mabota, essa mulher activista e líder da Liga dos Direitos Humanos.
Pessoalmente, vasculha aqui e acolá, acaba desvendando o que parecia complicado e o corpo, em tempo útil, é transladado e sepultado como mandam as regras militares, muitas vezes ignoradas quando não se presta atenção por quem de direito.
Lá, na Serra da Gorongosa, e noutros lugares de Manica e Sofala, morre-se mãe…morre-se. E onde não há Mabota, os mortos acabam em carne para abutres...
A cada pressão do exército, Dhlakama desvia o conflito para longe, atacando na N1, N6 e noutras frentes. Assim, fica momentaneamente aliviado.
A rebeldia, sem mantimentos e medicamentos, recorre à N1 e a unidades sanitárias, tal e qual na guerra dos 16 anos.
Este intensificar de violência bélica não sossega Maria Helena Taipo. A governadora, mamã dos sofalenses, deixa escapar lágrimas de tristeza e confessa-se: “a minha gente está a morrer”.
Essas mortes, querida chefe, estão próximas do fim. Basta que o governo e a Renamo saibam que numa negociação há que saber ceder. O pé rapado está atento…
EXPRESSO – 21.07.2016