Americano, 74 anos. Começou como académico, estreando-se na política em 1970 pela mão de Alexander Haig, chefe do Conselho de Segurança Nacional durante a Administração Nixon. Regressou ao mundo académico em 1972, mas com a eleição de Reagan assumiu o cargo de subsecretário de Estado adjunto para os assuntos africanos, tendo como missão conseguir a retirada dos cubanos de Angola e consolidar a África Austral como zona de influência americana.
Apesar de toda a retórica “anti-imperialista” e “anticapitalista”, Samora Machel deseja uma aproximação aos Estados Unidos, que começa nos fins da Administração Carter e prossegue com Reagan. Vai mais longe: propõe-se a ajudar Washington na retirada cubana de Angola. A ala dura da Frelimo, apoiada pela segurança cubana, tenta travar essa aproximação em Março de 1981, com a expulsão de diplomatas americanos, acusados de espionagem. Tentaram os duros que Machel deixasse de "andar em más companhias", e tratam de assassinar Aquino de Bragança. A carta-bomba endereçada a quem mal aconselhava o Camarada Presidente causa "danos colaterais", matando Ruth First. As costas largas do apartheid irão permitir tapar a gafe.
Da ajuda económica que passa a prestar ao regime da Frelimo, transformando Moçambique no maior receptor de ajuda americana em toda a África subsariana, Washington quer depois auxiliar militarmente a ditadura instalada em Maputo na luta contra a Renamo. Mas o Congresso não avaliza a iniciativa. O que não impede que a gente de Chester Crocker no Bureau de Assuntos Africanos, utilizando canais próprios, se redobre em esforços para destruir a Renamo sob outras formas, negando-lhe legitimidade, retirando-lhe credibilidade, tentando esvaziar todo o conteúdo político da luta que trava e claramente enunciada num programa político, mas que o Departamento de Estado sentencia ser "muito geral". Coincidentemente, um americano ao serviço da BBC em Maputo, surge a dar continuidade à postura do Bureau de Assuntos Africanos, inclusivamente ao absurdo da tese crockeriana de que a Renamo não era um movimento como a UNITA, pois não havia lutado contra o colonialismo, como que a pretender transmitir o conceito sui generis de que o processo histórico moçambicano se esgotou com a conquista da independência. A mesma coincidência de posições ocorre na fase da chamada democracia pluripartidária descoberta à última hora pela Frelimo de Chissano: americanos, incluindo o antigo correspondente, entretanto transformado em consultor da AWEPA, avalizam repetidamente as burlas eleitorais, raiz do conflito que agora pretendem sanar como respeitados mediadores.
É no contexto dos esforços envidados por Crocker, que o Departamento de Estado paga USD125,000 por uma consultoria a Robert Gersonny para que este apresente um relatório, culpando a Renamo – e não o ZNA, nem a TPDF – pelo fluxo de refugiados para o Malawi, Zâmbia e Zimbabwe, e de deslocados para as capitais provinciais. A par disso, Crocker pede à UNITA que ajude no isolamento da Renamo, impedindo que ela se filie na «Resistência Internacional» : os Stinger que afro-americanos da CIA manuseiam em Angola têm preço, que Savimbi não hesita em pagar, mesmo que isso signifique legitimar a ditadura de Maputo, fotocópia do regime que pretende destronar em Luanda.
Crocker promete a Machel a paz a troco de um acordo de boa vizinhança com a África do Sul. No fim, enganou-se Washington, enganou-se Maputo: A destruição de uma imagem ou o votar de um movimento ao ostracismo, não é o mesmo que a destruição de uma causa, de um ideal, de uma vontade, de uma razão de ser; a paz de que Machel procurava em Nkomati, encorajado por Crocker, não a pôde dar aos moçambicanos.
João Cabrita