O conflito tende a ocorrer quando os indivíduos buscam um objetivo que só pode ser alcançado por um ou poucos entre eles, ou, ainda, quando indivíduos, grupos ou categorias sociais têm interesses ou objetivos incompatíveis entre si. Sebastião Vila Nova – Introdução à Sociologia, 1985, pp. 106-107.
Um parêntesis: Dá-me puro dó ler este tipo de notícias. Foi adiado o concerto do músico Xidiminguana, que estava marcado para sexta-feira passada, 12 de Agosto de 2016, por falta de patrocínio. Neste país, por negligência ou cumplicidade, tributa-se mui-to pouco para as coisas de cultura. Numa altura em que a crise mundial atinge a economia moçambicana, a cultura devia estar no topo das prioridades. A cultura é, por si mesma, a reguladora das sociedades: combate os excessos e reanima as almas desfalecidas. Certas manifestações culturais, como as didácticas composições de Xidiminguana, são capazes até de ressuscitar os decessos. Que não haja dúvida: Xidiminguana é uma sumidade musical com lugar GARANTIDO no panteão dos heróis nacionais, tanto mais que, as suas composições, como referi, são terapêuticas.
A questão da responsabilidade social das empresas e instituições com falsa capa de filantrópicas falham porque atendem caprichos da maioria vadia, e mandam às urtigas, uma minoria de talentos. É um paradoxo: há dinheiro para passeatas familiares em grandes capitais do mundo, mas não há patrocínio para o espectáculo de um homem a quem o país inteiro tanto deve: Xidiminguana! Quando o Xidiminguana já não estiver neste “Vale de Lágrimas” (este é o destino de todos nós), os influenciadores, decisores, promotores, empresários, etc., das coisas de cultura, que hoje lhe recusam patrocínio, estarão na primeira fila da frente a derramarem lágrimas de crocodilo. São 65 anos de carreira ao serviço da Pátria Amada. É obra.
Dirijo-me a si, meu conterrâneo Francisco Nota Moisés, porque é dos poucos panegiristas do Ocidente e das matanças da Renamo que não recorre ao anonimato para debitar suas ideias. Como não sou daquelas pessoas que deixam uma injustiça morrer nos lábios, volto a insistir, colocando-lhe as seguintes perguntas: afinal, quem está a matar na região centro e norte do país? Quem impede a circulação de pessoas e bens na região centro e norte do país. Como é que pode haver desenvolvimento nessas regiões, se os homens armados de Afonso Dhlakama estão a “desorganizar organizadamente” o país? Quero dilucidar ao meu conterrâneo Francisco Nota Moisés, que, antes do conflito político-militar, as populações de Zero, Homoíne, Macossa e Moatize, só para citar alguns exemplos, desenvolviam suas actividades em paz. Hoje, nesses pontos do país, as populações estão a morrer devido a querelas políticas. Como mitigar a fome em Sofala se em Muxúnguè a produção e comercialização de ananás parou por causa dos apetites exacerbados da Renamo pelo poder? Como é que a fome pode acabar na Zambézia se em Morrumbala não há produção e comercialização do milho? As populações das regiões centro e norte do país, meu conterrâneo Francisco Nota Moisés, vivem clima de terror. O diabo até sabe esconder-se dos seus pecados, mas o líder da Renamo não: gaba-se por matar.
Diz-me, meu conterrâneo Francisco Nota Moisés, alguma vez viu uma benfeitoria pública feita pela Renamo? Qual e quando isso aconteceu? Insisto, colocando a questão de outra maneira: alguma vez a Renamo reabilitou uma única infraestrutura por si destruída? Onde é que está a lógica? O filósofo italiano Norberto Bobbio dizia, entre outras lucubrações, que “Do mesmo modo que não há filho sem pai, não há direito sem obrigação e vice-versa.” Onde está a obrigação da Renamo como partido político? Nenhuma. Mas como um partido armado tem uma obrigação moral perante Lúcifer: ROUBAR, MATAR e DESTRUIR. Conhece outra? Se a Renamo é um partido político-democrático, porque é que tem medo de eleições? O diabo até sabe esconder-se dos seus pecados, mas o líder da Renamo não: gaba-se por matar.
Não pense, meu conterrâneo Francisco Nota Moisés, que a Frelimo vai sair do poder por causa do vosso ódio. E nem pense, meu conterrâneo Francisco Nota Moisés, que os resultados das eleições autárquicas na África do Sul vão afectar a predominância do poder da Frelimo. De resto, eu sempre disse que Mandela nunca resolvera os problemas da África do Sul, apenas congelou-os. O povo sabe a quem escolher. Note, meu conterrâneo Francisco Nota Moisés, que a Frelimo está no terreno a lançar sementes para o seu XI Congresso e a Renamo? Está no mato a matar gente. É desta forma que a Renamo quer ganhar eleições? Veja outra incongruência: os engravatados estão a comer e a beber à tripa-forra, o seu líder está em “parte incerta” nos búnqueres frios da Gorongosa, acometido por diversas doenças.
O senhor diz que foi seminarista no Zóbuè, entretanto, insulta-me sem porquê e sem razão de ser. O que falhou enquanto peregrino no seminário de Zóbuè? Muitas vezes o meu pai, enquanto funcionário sénior da administração de Moatize, tirou do próprio bolso dinheiro para ajudar na funcionalidade do Seminário de Zóbuè, na esperança de que os seminaristas fossem educados e, mormente, guardiões dos ensinamentos bíblicos. No seu caso, penso que esse esforço titânico foi debalde! Fica-lhe mal apoiar um partido político que atira contra o seu próprio eleitorado. Deus não gosta disso.
Zicomo e um abraço nhúngue ao Xidiminguana pela celebração do seu octogésimo aniversário natalício, assinalados no dia 3 do corrente mês.
Viriato Caetano Dias
WAMPHULA FAX – 15.08.2016