Tarda tudo porque existem “moçambicanos de primeira” assim desejando.
Quem sobrevive sendo “yes man” defende o “status” com unhas e dentes, e com tudo previamente minuciosamente montado, a máquina funciona com perfeição.
Em cada esquina e onde importa, existem abnegados funcionários prontos a cumprir as instruções prévias.
Quando agora se fala de que qualquer entendimento na Comissão Mista terá de ser apresentado ao Parlamento e lá aprovado, dá para perceber que ainda estamos numa rota de colisão ou de sucessivas manobras de “falsas aterragens”.
Os moçambicanos estão sofrendo os efeitos de uma obtusa política em que os “complexos de superioridade” e o abocanhamento efectivo do poder pelos nossos “libertadores” de ontem não deixa espaço para que algo diferente ocorra.
Imagine-se só como se resolverá o problema da partidarização do aparelho de Estado, sabido que foi, durante décadas, preenchido e enchido de pessoas portadoras do cartão vermelho? Não é por instruções administrativas que se mudam mentalidades. Assim como já tivemos ministros e quadros superiores do partido no poder mentindo sobre a partidarização existente, teremos outro tipo de arranjo para que os “cartões vermelhos” continuem dando ordens nas instituições governamentais.
O tipo e natureza de “pronunciamentos” de “quadros e dirigentes” não deixa sombra de dúvidas sobre a firme vontade de deixar tudo na mesma.
Parece que, no fim, teremos uma situação de impasse, que definirá os passos subsequentes. O mais certo é que a opção abraçada conduza à generalização da guerra. Ou então tudo se enquadra numa estratégia de arrastar o assunto até que AMMD seja impotente e se submeta aos ditames da Comissão Política da Frelimo.
Atendendo ao facto de o presidente honorário da Frelimo jamais se ter reformado e ao formato das negociações adoptado, tudo aparenta ser a repetição do “quadro de Roma”, em que JAC baralhou e distribuiu as cartas. Há uma direcção colegial da Frelimo que continua a ser preponderante, desenhando e determinando o que se tem de fazer. Cada partido defende-se com os recursos que tem, e, nesse aspecto, resulta óbvio que só teremos aquilo que os senhores que detêm realmente o poder desejarem como rescaldo da Comissão Mista.
Seria ingenuidade considerar que os “partidos libertadores” não aproveitarão a oportunidade da Cimeira da SADC na Suazilândia para afinarem estratégias de sobrevivência política. Se o último Congresso do MPLA serve de alguma indicação sobre o espírito que reina nos “partidos libertadores”, os últimos acontecimentos de Harare com as manifestações descaindo para a violência, é de crer que teremos tempos turbulentos na região. Moçambique só vai oficializar a violência que reina num ambiente em que a democracia sofre revezes, tudo porque uma “máfia política” não desarma nem permite que a pacificação e normalização aconteçam.
O quadro do regime político é deprimente na medida em que não se vislumbram sinais de cedências reais entre os que dizem que estão negociando para a paz e estabilidade nacional.
Uma retórica envenenada com base em estereótipos não convincentes, repetidos numa perspectiva pura e simples de manutenção do poder, não ajuda a que se registem desanuviamentos estruturantes.
Reconheçamos que FJN recebeu um pesado fardo. O PR ainda tem de ser liberto pelos “li
libertadores” para que tenha a possibilidade de agir como o mais alto magistrado da nação.
Aquilo que há tempos foi dito por um veterano da luta anticolonial: “entregar o poder a uma nova geração contém o risco de esta vender o país”, jamais teve sentido, pois este mesmo país já foi realmente retalhado e vendido pela “geração de 25 de Setembro”.
Depois de anos cultivando a falsidade discursiva, os moçambicanos encontram-se por vezes em posições extremadas mesmo quando esse não seja o caso real.
Fala-se muito de comunidade, de megaprojectos, de participação das comunidades e de cidadania, mas tudo acaba resumindo-se a todo um povo esperando que os grandes senhores do poder, através dos seus tentáculos e controle dos aparatos judiciais, policiais e securitários dão a palavra final e “todo o mundo cumpre”.
“Pérola do Índico” para a qual os seus filhos deram vidas e sacrifícios para a libertação da terra e dos homens agora virou a palco de conflito de terras e os seus cidadãos despojados e reassentados sem que os seus direitos sejam precavidos.
Já não se pode ignorar que interesses empresariais poderosos ligados fortemente à elite político-financeira tomaram as melhores terras do país. Também não se pode ignorar que conflitos latentes estão em regime de incubação e, se os negociadores não forem capazes de delinear saídas convincentes, mais crises nos esperam.
Como se pode ver, são assuntos políticos, militares, policiais, inteligência, económicos que devem ser abordados e resolvidos tendo em conta os mais altos interesses nacionais.
Esta perspectiva nacional tem de ser incutida nos negociadores e definidores da agenda, porque, de contrário, se tudo se limitar a interesses de grupos de políticos, nenhuma solução encontrada será sustentável.
Há que entender definitivamente que este Moçambique não pode ser “pasto fértil” para uma “elite” parasita.
Nenhuma postura de dureza e inflexibilidade nos trará PAZ. (Noé Nhantumbo)
CANALMOZ – 31.08.2016