A equipa de medição internacional das negociações entre o Governo e a Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), maior partido de oposição, reuniu-se hoje em Maputo à porta fechada, um dia após a retomada das negociações de paz em Moçambique.
Falando aos jornalistas, à margem do encontro, Angelo Romano, da Comunidade de Santo Egídio, um dos mediadores indicados pela União Europeia (UE), disse que se tratou de "uma reunião interna", sem avançar pormenores sobre a agenda em debate.
Angelo Romano limitou-se a avançar que na segunda-feira a equipa de mediação esteve reunida na segunda-feira com o Governo e na quarta tem previsto um encontro com a delegação da Renamo.
As negociações de paz foram retomadas na segunda-feira, na presença de mediadores internacionais, que estavam ausentes do país desde 27 de julho.
Após a reunião da segunda-feira, Quett Masire, antigo Presidente do Botsuana e um dos mediadores internacionais, disse aos jornalistas que o encontro tinha sido satisfatório, sem entretanto avançar pormenores.
O italiano Mario Raffaelli, também indicado pela União Europeia (UE), tem sido o porta-voz dos mediadores internacionais, mas a Lusa apurou junto de fonte comunitária que o político italiano adiou o seu regresso a Maputo por razões pessoais e só deverá retomar o seu lugar nas conversações a partir de quarta-feira.
Raffaelli foi o mediador-chefe do Acordo Geral de Paz, que colocou, em 1992 em Roma, fim a 16 anos de guerra civil em Moçambique entre as forças do Governo e a Renamo.
As negociações de paz em Moçambique foram suspensas a 27 de julho e os mediadores deixaram uma proposta a ser analisada pelas delegações do Governo e da Renamo.
"Não é uma interrupção por um motivo particular, é uma interrupção logística", afirmou na altura aos jornalistas Mario Raffaelli, sem fornecer detalhes sobre a proposta, comentando que "a negociação não é uma coisa pública".
As conversações estão focadas no primeiro ponto da agenda, sobre a exigência do principal partido de oposição de governar nas seis províncias onde reivindica vitória nas eleições gerais de 2014.
Os mediadores partilharam, no entanto, com os jornalistas algumas mensagens transmitidas às delegações, entre as quais que aproveitassem os dias de suspensão "para preparar as posições de cada parte sobre todos os assuntos" previstos na agenda negocial.
"Do nosso lado, é preciso ter uma visão completa das posições das partes em relação aos quatro pontos da agenda", precisou Raffaelli.
Além da exigência da Renamo em governar em seis províncias, a agenda de negociações integra a cessação imediata dos confrontos, a despartidarização das Forças de Defesa e Segurança, incluindo na polícia e nos serviços de informação, e o desarmamento do braço armado da Renamo e sua reintegração na vida civil.
O coordenador dos mediadores disse que a conclusão do documento deixado nas mãos do Governo e Renamo "é um forte apelo para acabar com a violência e criar condições para a paz", num período em que as negociações estão a ser acompanhadas de notícias de confrontos entre as partes, ataques atribuídos pelas autoridades aos homens armados da oposição e denúncias mútuas de raptos e assassínios.
"No país estão a acontecer coisas - não estou a dizer que são criadas por uma parte ou por outra -, mas falando com o povo é fácil perceber que a sua primeira preocupação é a paz", declarou o mediador da UE, instando os moçambicanos "a fazerem sentir a sua própria voz", no sentido de um entendimento "claro e definitivo".
"Não tenho a bola de cristal", disse, por outro lado, o coordenador dos mediadores, quando questionado sobre o prazo para um entendimento, esperando que seja "no mínimo tempo possível".
EYAC (HB) // EL
Lusa – 09.08.2016