Os termos de referência que regem as negociações entre a Frelimo e a Renamo e fixam o âmbito da actuação de cada interveniente, incluindo os mediadores, referem que nenhuma das partes pode fazer declarações públicas sem uma prévia concertação na comissão mista. Acontece que, na passada quarta-feira, o chefe da delegação da Frelimo, Jacinto Veloso veio a público explicar o entendimento do partido Frelimo em relação ao documento assinado entre as partes, depois de a comissão ter indicado José Manteigas, da Renamo, para ler os documentos que acabaram por ter várias interpretações na opinião pública.
A conferência de imprensa de Jacinto Veloso viola os termos de referência, na medida em que nem os mediadores nem a Renamo foram informados sobre a mesma.
A Renamo e os mediadores viram pela televisão a Frelimo a dar uma conferência de imprensa sobre uma matéria acerca da qual, aparentemente, havia sido alcançado acordo na comissão mista.
Na sessão realizada na quinta-feira, os mediadores lamentaram que a Frelimo tenha vindo a público sem comunicar às outras partes. Segundo apurou o “Canalmoz”, durante a sessão houve troca de acusações entre a Renamo e a Frelimo exactamente por causa da aparição de Jacinto Veloso. A sessão terminou sem que houvesse declarações à imprensa.
À saída do encontro, ninguém das delegações quis prestar declarações, embora fosse o dia em que cabia a Jacinto Veloso falar em nome da comissão.
Segundo uma fonte, os mediadores também lamentaram o facto de não terem sido contactados, embora a delegação frelimista tenha as vias para os contactar.
A Renamo considera que era preferível que fosse um porta-voz da Frelimo a dizer o que Jacinto Veloso disse, em vez de ter sido ele próprio a assumir esse papel.
Deslocação à Gorongosa
Ainda na quinta-feira, as delegações voltaram a falar sobre a deslocação dos mediadores à Gorongosa para se encontrarem com Afonso Dhlakama.
Segundo as nossas fontes, a Renamo diz que os mediadores não podem ir à Gorongosa enquanto o Governo Governo não fizer recuar as suas forças nas 23 posições indicadas por Afonso Dhlakama como estando em volta da Gorongosa, enquanto o Governo insiste que as posições vão-se manter.
A Renamo considera que os mediadores não podem ir à Gorongosa com a presença daquelas tropas e do material de guerra que possuem, permitindo apenas a presença da Polícia.
Subcomissão
Ainda na quinta-feira, a subcomissão para a revisão da legislação reuniu-se para definir modalidades de funcionamento.
Até amanhã, terça-feira, as delegações deverão apresentar as suas propostas sobre a revisão constitucional e, no fim-de-semana, outros documentos que devem merecer revisão. Para o efeito, as partes deverão convidar alguns especialistas e funcionários de organizações não-governamentais, para darem as suas contribuições antes da apresentação das propostas nas negociações na próxima semana.
As delegações voltam a reunir-se hoje em mais uma sessão da Comissão Mista. (Bernardo Álvaro)
CANALMOZ – 22.08.2016