O mural do pintor Malangatana "Vovó Chipangara está zangada" na Beira vai ser declarado património nacional de Moçambique, informou o consulado português na segunda cidade do país, que assumiu o restauro da obra numa parceria com o Governo moçambicano.
A declaração deverá ser feita na quarta-feira pelo Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, no âmbito da visita que iniciou na segunda à província de Sofala, avançou à Lusa o Consulado Geral de Portugal na Beira.
No ano em que Malangatana Valente Ngwenha, falecido em 2011, completaria 80 anos, a iniciativa do consulado português, em parceria com o Ministério da Cultura e Turismo de Moçambique, devolveu, nas últimas semanas, vida ao mural, que se encontrava em avançado estado de degradação, pelas mãos do restaurador português Fernando Mariano, com a colaboração do moçambicano Jonas Tembe, do Museu Nacional de Arte de Maputo.
Trata-se de uma intervenção que "permitirá resgatar do esquecimento e destruição esta obra do maior pintor moçambicano", resumiu António Inocêncio Pereira, cônsul na Beira.
O restauro, com um custo calculado em mais de 500 mil meticais (sete mil euros), será integralmente suportado pela comunidade e empresas portuguesas na Beira.
"A melhor forma de homenagear Malangatana" refere o diplomata, "seria então tudo fazer para ajudar a reabilitar a sua 'Vovó Chipangara está zangada'", mural criado pelo artista em 1970, em pleno período colonial, na antiga galeria e auditório da Beira, atual casa da Cultura da província de Sofala.
O mural segue a narrativa anticolonial transversal no percurso de Malangatana, na Beira traduzida por um dos seus principais bairros, Chipangara (também conhecido como Espangara), e pela voz de uma "vovó", que, na tradição africana, "pelo menos os mais novos tinham que ouvi-la, até porque estava zangada", segundo o sociólogo e escritor Filimone Meigos.
Chipangara, prossegue o autor num texto escrito em 2012, era e continua a ser um bairro periférico, populoso e cujas "paupérrimas condições de vida" inspiraram Malangatana.
"A zanga significaria por hipótese o prenúncio de cansaço, do avizinhar-se da gota que transbordaria a água do copo que Espangara representava, a parte pelo todo, metonímica do Moçambique colonizado", observa Filimone Meigos.
A Beira acolhe, entre 24 e 28 deste mês, a nona edição do Festival Nacional da Cultura, com a presença prevista do chefe de Estado.
Também na Beira, o Centro Cultural e a Universidade Zambeze organizam, na sexta-feira, o seminário "Patrimónios: Modos de Olhar".
Trata-se de uma extensão na Beira de uma parceria com o Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra e o Centro Cultural Português de Maputo.
Ao longo de todo o dia, segundo um comunicado enviado à Lusa, investigadores do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra e da Universidade Zambeze debatem a temática do património "a partir de uma perspetiva multidisciplinar, mas com enfoque na influência portuguesa".
O tema património é ainda alvo de uma exposição - "Património Arquitetónico Modernista na Cidade da Beira, patente na Galeria do Centro Cultural Português até 09 de setembro.
HB // JMR
Lusa – 23.08.2016