Centelha por Viriato Caetano Dias ([email protected] )
“ Nenhum caudilho, nem partido, nem grupo particular, pode substituir o povo na sua tarefa de governar”. Fidel Castro, líder cubano.
“Acorda, Viriato: já há entendimento para a governação da Renamo nas seis províncias onde diz ter ganho as eleições gerais de 2014”. Foi desta forma que um panegirista da Renamo e das suas matanças interrompeu a minha sesta, no passado dia 17 do mês em curso, quando circulavam nas redes sociais um falso acordo para a nomeação de governadores da Renamo nas seis províncias. A minha pronta resposta, que ainda hoje guardo no telemóvel, foi esta: a Frelimo ainda não perdeu o leme para atender os caprichos da Renamo. O povo endossou à Frelimo a governação deste país e, portanto, não passa pela cabeça de alguém que tenha no mínimo dois dedos de testa a concessão das seis províncias a um partido que rouba, destrói e mata populações civis e indefesas. Esta é uma hipótese improvável, caso esta vontade não passe pela revisão da Constituição da República. Como no capitalismo sonhar é das poucas coisas gratuitas, aqueles que apoiaram e ainda apoiam à Renamo, nesta investida assassina contra o povo, podem “tirar o cavalinho da chuva”, pois nós os paladinos da paz cá estamos para defender a indivisibilidade do Estado moçambicano.
Alguns destes panegiristas, como o meu conterrâneo Francisco Nota Moisés (FNM),defendem a Renamo sem a conhecer pelas entranhas. Eu tive a sorte de conviver com alguns intelectuais de vulto da Renamo, muito diferente destes fanfarrões e mafiosos, que não pensam no povo. Conheci algumas sumidades mentais da Renamo que, mesmo diante de grandes adversidades e com motivos suficientes para vestir luvas de pugilistas, não violaram os preceitos religiosos e constitucionais. Tinham a mente de Gandhi e o coração de Mandela: a violência era algo que não fazia parte dos seus vocabulários. A paz era o farol dos seus passos. Nem em pensamento deixavam nascer uma ideia que empurrasse o país à guerra. Esses intelectuais, alguns entre nós, sempre defenderam a pulverização da Renamo para acabar com a monarquia instalada, o espírito de recompensa, a mente assassina, o lambebotismo, o radicalismo extremo, o regionalismo, o terrorismo e o boçalismo. Com esses intelectuais, dignos de respeito, a Renamo conseguiu atingir resultados eleitorais notáveis e tinha um eleitorado fixo, mesmo em locais considerados como bastiões da Frelimo.
O líder máximo da Renamo, Afonso Dhlakama, mandou às urtigas a esses intelectuais e deixou-se intoxicar por gente que só pensa em si. Disse e bem o meu conterrâneo, Sérgio Vieira, que Dhlakama gosta duas coisas: dinheiro e turiferações, aliado ao facto de ser um narcisista nato. Ao contrário do que se propala, eu penso que o líder máximo da Renamo não está cercado pelas forças de defesa e segurança governamentais, mas sim pelos apetites desenfreados dos seus assessores. A esse propósito, valerá a pena citar uma frase de uma anciã da minha terra, Tete, que me disse o seguinte “Esse Dhlakama está a brincar mal, até os passarinhos, que andam no ar, são caçados e apanhados.”
Voltando à meada, questiono: Até quando Afonso Dhlakama continuará escondido no mato? Até quando conseguirá esconder-se da lei? Quem, na ausência dele, movimenta cheques da Renamo? Quem, na sua ausência, distribui “rações” para a família das “perdizes”? Quem, na ausência dele, comanda a Renamo (ala política), em Maputo, em Tete, em Manica, etc.? Que futuro tem a Renamo no mato? As eleições são daqui a 3 anos, mas o líder monarca da Renamo continua no mato. Porquê? Se conseguirem responder a essas perguntas compreenderão o porque dos seus assessores empurrarem Dhlakama ao mato. Manter o “velho” no mato é uma mais-valia para os assessores fanfarrões e imprudentes da Renamo. Ou seja, ajuda aos radicais do partido Renamo a enriquecerem. Quantos desses têm frotas de viaturas? Quantos desses capatazes têm condomínios? Coitado de Dhlakama, ainda não conseguiu perceber que está a ser instrumentalizado pelos seus generais e assessores fanfarrões.
Ainda sobre os panegiristas da Renamo, na crónica da semana passada, fiz várias perguntas ao meu conterrâneo Francisco Nota Moisés sobre a actuação da Renamo, na expectativa de obter respostas. Como já imaginava, o meu conterrâneo Francisco Nota Moisés não respondeu patavina. Aliás, respondeu, mas coisas balofas. Terá muitas dificuldades em responder-me, pois sabe que a Renamo não tem um único plano de governação. Conhece? Desafio-o a apresentar publicamente ou em privado para o meu e-mail. Por acaso o meu conterrâneo Francisco Nota Moisés viu algum plano da Renamo sobre a governação nas seis províncias? Querem o poder, mas não apresentam uma só linha de governação. O que é que a Renamo fará nas seis províncias? Posso avançar em algumas hipóteses: Alimentar os assessores, os generais, os compadres, os capatazes, os amiguinhos, os patrões, etc., para depois investir uma ofensiva contra o poder central em Maputo. Quero insistir num ponto: senhor Francisco Nota Moisés, conhece outro partido no mundo da oposição bicéfalo: político e armado?
Zicomo e um fervoroso abraço nhúngue a Irundy, votos de boas férias.
WAMPHULA FAX – 23.08.2016