Canal de Opinião por Noé Nhantumbo
É preciso não dar oportunidade aos “falcões da guerra”.
Alguns do que fazem apelos para que AMMD abandone a parte incerta esfregavam as mãos de contentamento quando ele foi cercado na Beira.
Alguns que se apresentam como apologistas da paz são, como se diz, ”lobos vestidos de cordeiros”.
As doses de ódio que circula entre políticos nacionais é demasiado grande para ser ignorada.
Se os medidores internacionais trouxeram algum ar fresco numa atmosfera que se apresentava com altos níveis de “monóxido de carbono”, isso não quer dizer que tudo entregue a eles será resolvido a contento dos moçambicanos.
Bom é ninguém se esquecer que pululam pessoas adversas a um entendimento nacional. Pessoas que abertamente, através de espaços na comunicação social, despejam as suas opiniões veiculando intenções assassinas. Pessoas que gostariam e rezam todos os dias para que aconteça a AMMD o mesmo que aconteceu a Jonas Malheiro Savimbi. E essa gente não se esconde nem recebe críticas dos quadrantes afectos ao Governo.
Muito pode ser dito sobre a criação de um “corredor de segurança” que leve os mediadores a encontrar-se com AMMD. Esse corredor também pode ser insegurança e, para atestá-lo, temos os “acontecimentos da Beira”, onde após o “corredor de segurança” criado, forças policiais cercaram e desarmaram AMMD.
É preciso ser dito que podem existir atiradores especiais mercenários em posição e com ordens de disparar contra AMMD independentemente das consequências.
Pode haver um “lobby” activo e atento a qualquer oportunidade de eliminar aquele que é, por alguns, impedimento para que as suas teses vinguem e o seu poder não seja ameaçado.
Pode também haver uma mediação internacional que actue como a ONUMOZ fez, que foi deixar o trabalho incompleto.
Trazer AMMD para Maputo e, depois, que os moçambicanos se arranjem, pode ser o que alguns dos mediadores estejam a pensar.
Tem de haver uma postura de reconciliação e de promoção de confiança entre as partes para que os apologistas de “soluções de descontinuidade” se sintam sem argumentos nem ambiente favorável para a suas acções.
Revela-se e é pertinente que o PR comece a falar como PR e não como presidente da Frelimo. As suas visitas presidenciais precisam de mudar de formato e reinventadas para que sirvam de factor catalisador da moçambicanidade. Uma visita em que os visitados repetem pedidos do passado, em que o PR repete que isso está inscrito no programa do Governo denota falta de criatividade em descobrir soluções para os problemas que existem.
Os moçambicanos querem ver FJN e AMMD agindo como políticos adultos e encontrando caminhos que tragam a paz efectiva. Que há interesses concretos em jogo e que também existem tentativas de proteger esses interesses, isso é por demais sabido.
Nenhuma fórmula baseada na exclusão dos outros surtirá efeitos.
Caça às bruxas ou exercícios de vingança contra este ou aquele também não vão curar feridas.
Com sentido de Estado superior à sua proclamação verbal é possível normalizar a governação em Moçambique.
Havendo responsabilidade e hombridade, é preciso começarmos a ver um “corte das linhas de passe” aos protagonistas da guerra total como solução para os problemas de Moçambique.
Certo que houve um ambiente propício ao florescimento do nepotismo, tráfico de influências, que agora se vê em perigo de morte.
Os “boladores” e os protegidos sabem que, se a normalização e a paz chegam com emendas à CRM, muita coisa vai mudar e o “capim para os cabritos vai secar”.
A PAZ exige sacrifícios e um posicionamento inequívoco das partes.
Se quiserem que vos diga, tem sido uma elite conspurcada e habituada a viver “sugando sangue” dos seus concidadãos que tem estado activamente engajada em subverter os esforços pela pacificação do país. As obstruções recorrentes a arranjos que promovam a paz são parte de exercícios de autoprotecção bem definidos.
Há uma realidade que convém não esquecer: as alas no seio da Frelimo se digladiam e nem estão preocupadas com o que pode acontecer a AMMD.
Para quase todas elas, um eventual desaparecimento de AMMD seria a “cereja no topo do bolo”.
Somos uma República em construção, mas já existe conhecimento suficiente para não repetirmos erros crassos.
Recordar que outros estrados falhados e falidos de África tiveram uma génese bem parecida com o que se vive hoje em Moçambique.
(Noé Nhantumbo)
CANALMOZ – 23.08.2016