Antes, gostaria de salientar que a racionalidade é a capacidade de escolher uma via correcta e mais efectiva para alcançar certos fins. Neste contexto, ser racional é ser capaz de escolher fins, escolher metas e doptar-se de meios mais eficazes para atingi-los. O que acontece é que os homens, sobretudo as principais instituições responsáveis pela promoção da justiça e paz, têm capacidade de escolher fins e meios eficazes para isso. Já a razoabilidade seria a capacidade de escolher fins e meios justos que não gerem prejuízo a pessoas inocentes.
Tenho a certeza que o Governo da Frelimo e a Renamo são duas entidades responsáveis pela promoção da justiça e paz em Moçambique. E, para além disto, as duas partes são compostas por gente racional e razoável. Caso contrário, não estariam na dianteira nos assuntos políticos.
Os agentes racionais e razoáveis têm uma grande responsabilidade na vida política, mormente o Governo, o partido no poder e, todos partidos da oposição. Na resolução de conflitos, esses podem ser acusados de violação de princípios e critérios razoáveis quando são movidos por interesses pessoais, e não pelo bem comum. Neste âmbito, o Governo da Frelimo e a Renamo, por serem duas entidades racionais e razoáveis, violam os princípios e os critérios da razoabilidade, porque têm capacidade de escolher fins justos e meios eficazes que não possam trazer prejuízos para os demais. E mais do que isso, os racionais e razoáveis têm a responsabilidade de conjugar os seus planos com eficiência para se poder alcançar pontos de vistas comuns na resolução de conflitos.
O Governo e a Renamo, pela incapacidade espontânea de comungar os seus apetites, violam os princípios e os critérios da razoabilidade. As pessoas racionais e razoáveis têm amor pela sua terra e respeitam os direitos humanos. Quando os seus interesses beneficiam para si mesmos, eles tornam-se absolutistas e ditadores.
O Governo e a Renamo são protagonistas da guerra em Moçambique. O primeiro é protagonista porque é composto por entidades que acumulam rendimentos, riquezas e distribuem desadequadamente ao povo. Este facto gera uma dominação económica e, consequentemente, leva à dominação política. O Governo é protagonista, pelo facto de usar da força e do poder que detém para deixar os menos favorecidos fora do processo de tomada de decisões e, finalmente, acaba por se beneficiar dessa situação de opressão e exclusão.
A Renamo é protagonista pelo facto de usar meios não razoáveis nas suas exigências. É racional pensar numa descentralização, é racional pensar numa distribuição equitativa de oportunidades, mas não é razoável usar o povo como sacrifício para se conjugar a ideia da descentralização e distribuição equitativa dessas oportunidades. É racional cogitar numa inclusão, mas não é razoável matar pessoas inocentes em nome de inclusão ou qualquer outra coisa.
O Governo e a Renamo são protagonistas da guerra em Moçambique. Estes dois devem ter força e vontade para que a paz se materialize. É a vontade que reflecte racionalmente sobre o desejo e este é apenas uma força negativa que fortifica os interesse e o egoísmo.
O Governo e a Renamo são duas entidades que ao menos deveriam ter uma responsabilidade moral, assim como aparentam ter responsabilidade política. E, quando aparecem com discursos corriqueiros do tipo “nós desejamos pela paz dos moçambicanos”, isto só monstra que os dois estão possuídos por uma irresponsabilidade moral. O Governo e a Renamo devem meter a mão na consciência e assumir a responsabilidade de que são eles que devem devolver a paz aos moçambicanos, são eles que têm a missão de escolher os princípios que devem orientar as suas exigências. São eles que têm a tarefa de elencar regras que podem orientar os termos fundamentais da sua associação. São eles que devem resolver o problema duma vez por todas.
O observador simpatizante não garante a imparcialidade porque não tem noção do principal motivo do conflito. Não só, o observador simpatizante tem seus interesses e é capaz de beneficiar um lado. Isto pode ser consciente ou inconscientemente, visto que não sente na pele o motivo do confronto. Então, é melhor que os próprios sujeitos do conflito decidam quais os princípios que devem guiar as suas exigências. Para o nosso caso, é o Governo de Moçambique e a Renamo.
Por Rabim Chiria
@VERDADE – 30.08.2016