XICARA DE CAFÉ por Salvador Raimundo
EM mais uma efeméride virada às Forças Armadas de Defesa de Moçambique, a reedição do discurso de há anos.
Ainda se evoca o heroísmo dos primeiros guerrilheiros que puxaram o gatilho da metralhadora contra posição do exército colonial português.
Por tabela, a primeira experiência em prol de um exército com ideias futuristas, tem sido copiosamente rejeitada pelos políticos de uma contenda que nunca mais acaba.
Poucos anos após a criação do exército único, o governo-Frelimo decidiu, de forma unilateral, desenhar novo organigrama para as Forças Armadas de Defesa de Moçambique, sem consultar a Renamo, co-subscritor dos acordos gerais de Roma, os mesmos que levaram à criação das Forças Armadas de Defesa de Moçambique.
Os mentores da iniciativa eram de uma visão futurista, virada para o desenvolvimento e modernização da tropa, mas pecando por colocar a leste os tipos da Renamo.
E não admira que o documento tenha demorado a vir a público, andando de gabinete em gabinete, até à hesitação do conselho de ministros da época, que acabou aprovando o instrumento da polémica e submetido à Assembleia da República, onde apenas a Frelimo aprovou com a sua maioria esmagadora.
Dado que o organigrama sugeria aposta científica, havia que mandar para o olho da rua os militares sem canudo. Calhou que os oriundos da Renamo eram em número considerável que os vindos do governo.
A zaragata não tardou, prolongando-se até aos nossos dias.
Pelo meio, ainda bem que as Forças Armadas de Defesa de Moçambique abraçaram ‘ene’ projectos profissionalizantes, sobretudo a partir da Academia Militar Marechal Samora Machel.
De Nampula saem periodicamente peritos em medicina, tecnologias de informação, comunicações, mecânica e outras tantas frentes do conhecimento científico, um ganho para a tropa e áreas civis.
Todo este role promissor está ameaçado. A necessidade de reintegrar os elementos oriundos da Renamo – maioritariamente sem canudo – compromete as aspirações de um exército moderno e virado para apostas futuristas.
É que a Renamo ainda não tem homens à altura de acompanhar os sinais de uma tropa modernizada. Há necessidade de explicar isso a Renamo, coisa que devia ter sido feita antes da primeira lava de expulsões. Assim, os políticos atrapalham iniciativas das Forças Armadas.
Durante a criação do exército único, no âmbito do acordo de Roma, a Renamo indicou para Comandante da Marinha de Guerra, um dos seus oficiais. Ora, a Renamo nunca possuiu o ramo da Marinha. Mas a vontade política abriu brechas para isso.
Em pleno 2016, devia ser impraticável. Mas se os políticos do governo e da Renamo se entenderem nessa matéria, e se isso fôr causa essencialmente para o término do bang-bang, não há mais nada que se possa fazer…Retardem o desenvolvimento da tropa.
Façam isso, malditos políticos.
EXPRESSO – 27.09.2016