Canal de Opinião por Noé Nhantumbo
Agora que caiu a máscara e as defesas do indefensável já não colhem nem colam, multiplicam-se esforços para diminuir ou anular o impacto que possa advir da auditoria que as dívidas ilícitas e ocultas possa trazer.
Uma defesa arquitectada em volta da protecção dos promotores e ideólogos da dívida perdeu tracção depois de ter sido alavancado e mediatizado através de posições ao nível do Parlamento e do famigerado G-40. Ninguém ou muito poucos mordeu a isca de as dívidas foram ocultadas por razões ligadas à segurança nacional e defesa da soberania.
Apresenta-se por demais claro e cristalino que as dívidas que desestabilizaram as finanças públicas e credibilidade do Governo foram contraídas no quadro de um esquema de EEI, Enriquecimento Económico Ilícito, protegido por uma maioria parlamentar seguidista e obediente.
Foi um assalto feroz e sem contemplação aos cofres do Estado que aconteceu sob falsas alegações.
Um Governo arrogante e incapaz de escutar ou tomar em consideração a voz dos cidadãos lançou-se no endividamento como cultura de Estado, numa atitude lesa-pátria sem precedentes em Moçambique.
Porque a preocupação predominante era enriquecer não importando o meio, viu-se uma equipa governamental merecedora de “impeachement” cavando um poço em que hoje se vê metida a maioria dos moçambicanos.
Se nos recordarmos, veremos que a cultura do secretismo tem sido o apanágio de sucessivos Governos no país.
Negociaram a reversão da HCB no segredo, e jamais vimos o Parlamento exigindo um esclarecimento profundo dos meandros daquele negócio.
Hoje, diz-se que as empresas públicas estão quase todas na bancarrota, mas do Governo não surgem sinais de que esteja interessado em aclarar e descobrir as causas reais para esta situação que aumenta o fardo negativo das contas públicas.
Muito já se disse sobre as causas da actual crise político-militar.
Aqueles que avançavam a tese de que a oposição político-militar tinha origem externa, hoje reconhecem que é necessário corrigir erros na implementação do AGP de Roma. É um primeiro passo que esperamos seja explorado e perseguido em toda a linha.
Embora se compreenda que as coisas dificilmente se fazem com perfeição também se deve compreender que as pessoas não podem aceitar “gato por lebre” o tempo todo.
A insensatez continuada de dar voz sempre às mesmas pessoas sobre os assuntos relevantes do país peca por invalidar a voz dos outros. Não é assim que se faz ou se promove a inclusão.
Dos palcos e tribunas ouvem-se discursos ocos e completamente desfasados da realidade, pintando a oposição política com cores grotescas, como se isso fosse resolver os nossos problemas.
O falhanço visível da obliteração da oposição tem sido um “espinho na garganta” de alguns políticos antes habituados a “cavalgar” o povo com base e fundamento na sua participação na luta pela Independência.
E tem sido uma atitude obtusa de negar com veemência reconhecer que se vivem novos tempos em que velhos paradigmas já não encontram correspondência nem relevância que atrasam o alcance de um acordo que ponha fim à crise político-militar.
A exclusão de que amiúde se fala começou quando alguns quiseram açambarcar a agenda política nacional.
Os “príncipes de sangue azul” paridos ou gerados durante a luta de libertação nacional precisam de aceitar que não são deuses. A elite intelectual muitas vezes recrutada pelos serviços de inteligência pode produzir ideias muito mais eficazes para pôr fim a este conflito fratricida.
Sente-se e sabe-se que as questões de barriga e o egocentrismo doentio chocam-se com a agenda nacional de concórdia, paz e desenvolvimento inclusivo.
As guerras e guerrinhas que se fazem nas redes sociais denotam uma precariedade intelectual preocupante. O ataque pessoal e o assassinato de carácter estão sendo eleitas como armas para resolver problemas de barriga.
Ressuscitam-se racismos pueris e tribalismos oportunistas, tudo para fazer vingar posições.
Não somos iguais, mas somos todos os moçambicanos com direitos e deveres iguais.
O 25 de Setembro de 2016 passou e não foi aproveitado para honrar os nossos heróis caídos na batalha contra o colonialismo. Não foi aproveitado para promoção do perdão e da tolerância política.
A discussão que acontece em sede da Comissão Política não está avançando com celeridade porque manifesta-se a existência de vários centros de poder entre os que deveriam estar decidindo.
Requer-se humildade e realismo acima do facciosismo ou do mero complexo de superioridade patente nas declarações de muitos dos nossos “libertadores” quando tratam do “dossier” político nacional.
Outra questão importante é que, ao receberem espaço privilegiado para opinarem, os nossos intelectuais assumissem uma postura de honestidade intelectual.
Não se pode permitir que a agenda nacional e o bem-estar dos moçambicanos sejam ofuscados pelas “holdings” secretas e alianças empresariais que sendo criadas pelos ministros-empresários.
Probidade e responsabilidade ainda não estão sendo respeitadas, e as consequências também não esperam.
Este Moçambique só pode ser viável com os outros.
A fórmula resolvente dos nossos problemas passa pela aceitação dos outros. (Noé Nhantumbo).
CANALMOZ – 27.09.2016