Canal de Opinião por Noé Nhantumbo
Quem quer a paz, promove-a.
Agudizam-se os sinais de que existe uma ofensiva de retaliação significando o assassinato de compatriotas por razões meramente políticas.
Enquanto os beligerantes se batem mais ou menos abertamente, nas sombras verifica-se a existência de “gangs” que se dedicam à eliminação de moçambicanos.
Algum comando terá sido accionado para executar acções de eliminação física de moçambicanos julgados inconvenientes?
Será produto de acções de “vigilantes voluntários”?
E estranhamente na comunicação social os habituais comentadores residentes nas estações televisivas pouco ou nada dizem.
Os “ilustres académicos” amiúde entrevistados sobre os grandes temas da actualidade fingem que nada está acontecendo.
Quando a casa do vizinho pega fogo, é obrigação do outro vizinho ajudar, como diz o ditado
Está instalado um clima de medo entre compatriotas que deveriam estar unidos na resolução dos seus problemas.
O número de vítimas cresce a olhos vistos, e não se encontram respostas para estas acções que ferem os esforços encetados pela pacificação de Moçambique.
Depois de uma vaga de raptos, alegadamente para fins de cobrança de resgates, começou uma nova onda de assassinatos e acções de terror dirigidas contra cidadãos de todo o espectro político.
Académicos, deputados, ex-membros da guerrilha da Renamo, régulos e chefes postos administrativos, membros do Conselho Nacional de Defesa e Segurança já foram vítimas.
As ameaças de morte e a perseguição de deputados, presidentes de municípios também tem acontecido.
Se quem governa não age e nem esclarece o que se passa no terreno concreto, é justo duvidar, conjecturar e questionar esse Governo. O cidadão merece e exige respostas.
Isso é um direito constitucional.
Num momento particularmente grave, requer-se e exige-se que figuras como o PR, PM, ministro do Interior, Serviços de Inteligência procurem e encontrem respostas para a deterioração das questões de segurança dos cidadãos.
Sem populismo e sem inclinações políticas, Moçambique e o seu povo exigem acção para substituir a tendência do silêncio, da “vista grossa”.
Independentemente da filiação partidária ou orientação de outra natureza, cabe ao Governo proteger a vida dos cidadãos.
Se era normal, nos tempos do partido único, vermos acções repressivas contra opositores, os ditames democráticos são outros.
Quem vive cultivando ódio para com seus compatriotas deve ser repreendido, criticado e, se houver provas de envolvimento em acções criminosas, deve ser levado à barra dos tribunais.
Não se pode permitir que crimes contra cidadãos ocorram e jamais sejam encontrados os culpados.
Os casos de Cistac, Jeque, Macuiane são relevantes, mas há outros moçambicanos que foram sequestrados ou baleados sem que se conheçam os autores.
O nosso PR deve tomar a dianteira no combate a este verdadeiro banditismo.
Vive-se uma crise de valores de tal modo que a troco de algum dinheiro alguns compatriotas nossos aceitam contratos para silenciar outros.
Moçambique tarda em encontrar os caminhos da PAZ porque alguns de nós querem primazia e exclusividade em tudo o que se relaciona com benefícios, mordomias e regalias.
Com defesas em bloco inflexíveis e irredutíveis, aquela confiança que deveria ser cultivada não acontece.
Como se pode compreender e aceitar que, enquanto se gastam recursos discutindo a restauração da PAZ, apareçam pessoas assassinadas como era comum na America Latina dos dias de ontem? Pessoas desaparecem e abandonam as suas casas com medo de serem sequestradas. Pessoas emigram e refugiam-se em países vizinhos.
Compatriotas, o lixo que não se limpa não desaparece, como todos sabemos. Há motivo para nos preocuparmos, dada a falta de acção prevalecente.
Do Parlamento também há a lamentar uma quase completa cegueira e surdez. Deputados sofrem atentados, e nem a esse nível se encontram respostas. Algo de muito estranho se passa. Afinal, quem governa? E qual é a responsabilidade de quem governa?
Salários de luxo, viaturas de luxo, vivendas de luxo, mordomias e regalias de luxo, e depois tão pouco e fraco desempenho na defesa dos cidadãos, exigem questionamento.
Quem cria dispositivos legais para punir o fraco desempenho dos funcionários e agentes do Estado também deve estar sujeito aos mesmos dispositivos.
Há que colocar um travão aos agentes da promoção do terror no seio da família moçambicana, e a responsabilidade é do Governo, do Parlamento e do sistema judicial.
Mais do que nunca, é preciso não “deixar a culpa morrer solteira”.
Honrar os combatentes pela Independência passa por ver acção acontecendo mais do que discursos ou oratória pueril.
Uma das causas do actual estado de coisas tem sido a incapacidade de encarar e resolver os problemas.
A responsabilidade dos partidos e demais organizações sociais, das organizações da sociedade civil, deve ultrapassar aparições nos telejornais e programas afins.
Combater o terror cabe ao Governo, e este possui meios policiais e de inteligência para tal. E quem não sabe, deve aprender. (Noé Nhantumbo)
CANALMOZ – 29.09.2016