Por: Ermelinda Nhatave
Após uma análise generalizada sou levada a admitir e, desde já peço antecipadamente desculpas pelo meu atrevimento, que o Estado da Nação é Caótico. A anarquia institucionalizada assentou arraiais e, até ver, veio com armas e bagagens decidida a ficar. Infelizmente o momento que a sociedade moçambicana atravessa não é saudável seja qual for à perspectiva em que se avalie. Enumerando alguns casos que talvez pelo seu impacto tenham merecido o foco da mídia, somos levados a concluir não porque assim o deseje a imprensa nacional, mas porque impõe-se que assim seja, que as notícias veiculadas são grosso modo reportagens de catástrofes em que o factor homem é a determinante.
No que respeita a vida do cidadão, actualmente bastante alterada muito por culpa da alta de preços que enriquece a olhos vistos os comerciantes sem escrúpulos que, a título de exemplo, têm as mercadorias expostas na sexta-feira com um preço para na segunda-feira os mesmos ostentarem outro com uma subida assinalável como se o câmbio tivesse registado alguma subida durante o fim-de-semana. As sempre “culpadas” autoridades, nunca estão onde são precisas e casos existem em que organismos de tutela fornecem números, verdes alguns, mas que a acreditar nas inúmeras vezes em que as ligações são feitas sem que do outro lado alguém se digne atender, tudo leva a crer que os mesmos “amadureceram”, tamanhas são as solicitações que o “Zé Povinho” tem feito sem que alguma tenha sido atendida e respondida, salvo honrosas excepções.
O à-vontade com que o povo trata determinadas matérias algumas extremamente sensíveis, mas que são abordadas com leveza e alguma sobranceria fazem com que o estado de caos que regista-se na Pátria Amada seja deveras assustador, receando-se que o curto rastilho que é o custo de vida possa detonar o barril de pólvora que a cada dia ameaça explodir. As tensões sociais que são reportadas com cada vez maior freqüência, os actos de banditismo que são noticiados
praticados na sua maioria por jovens, à titulo de exemplo o adiamento do julgamento do jovem que assassinou os pais sem olvidar a tentativa gorada da mãe desesperada que tentou afagar a cabeça do filho atenuando a acção tresloucada deste que em plena escola atacou o colega com recurso a uma arma branca em um acto friamente premeditado, vem a semelhança do que se passa a um nível mais elevado em que indivíduos que foram eleitos pelo povo para os representar marcam encontro na Casa do Povo na Avenida 24 de Julho e mesmo sabendo que são expostos ao país, ao mundo e arredores, não fazem por menos,
usam e abusam do escárnio, do insulto e da sem-vergonha, argumentos que esgrimem com mestria em suposta defesa de agendas que nada têm a ver com os compromissos assumidos com o eleitorado que confiou-lhes os seus destinos. Estranhamente ou talvez não, o único ponto em que convergem nas “acaloradas” discussões que são apanágio da suposta Casa do Povo, seja na atribuição de suas benesses e regalias o que, por si, identifica a “grandeza” dos “melhores filhos da Nação” eleitos para representar o povo. Subindo um pouco mais nos degraus da hierarquia governamental, deparamo-nos, frise-se, sem espanto, com o “famigerado empresário” que fez fortuna a vender os patos que ao afundar os glúteos no cadeirão da Ponta Vermelha, desatou a distribuir epítetos ao seu antecessor apelidando-o e ao grupo com que governara e bem o país, de “mariazinha” classificando a governação deste ilustre personagem de era do “espírito de deixa andar”, a verdadeira epopéia governamental que terminou com a atribuição do prémio Mo Ibraimo para a Boa Governação, o que nada tem a ver com os podres que a cada dia são dados a conhecer sobre a passagem de má memória do “empresário” dos “vinte e cinco milhões de patos” que acreditaram e votaram confiando-lhe “os cofres” do país.
Se porventura alguém duvida da nobreza de um e da vileza de outro, basta sair à rua e em jeito de inquérito colocar duas urnas cada uma com o nome de cada um dos dois ex-inquilinos da Ponta Vermelha e garantidamente na urna de JC haverá mel e na outra apenas mer... Voltando a premissa e tendo em consideração o que tem estado a acontecer no país há sensivelmente doze/treze anos teremos que admitir, porque o exemplo vem muito de cima, que o Estado de Caos em que a Nação encontra-se mergulhada, mais não é que uma táctica do governo do dia para manter o povo (pre) ocupado com esta questão de modo a não aperceber-se do Estado de Calamidade Absoluta em o país está mergulhado. Portanto não espanta que os mediadores e os observadores e outros cuja denominação termina em “dores”, tenham entrado no “esquema” e viajem para os países de origem por quinze ou mais dias, que protestem devido a ausência de logística, (brada aos céus como se convida alguém e não acautelam-se princípios básicos para a estadia do convidado) e o que não espanta são as “carantonhas de indigestos” com que saem das salas climatizadas onde discutem o que não nos dizem, tudo em um autêntico jogo de queimar tempo junto com a paciência dos cidadãos, enquanto são noticiadas mais mortes ao longo da Estrada Nacional Número Um, consequência directa da manutenção do “esquema mortal” que as “conversas secretas”, à semelhança de outras havidas com os mesmos personagens há tempos não muito distantes da lembrança popular, das quais apenas resultou uma enorme factura que o povo continua a pagar.
Não espanta que filhos matem os pais, que um jovem esfaqueie outro em plena escola, que um professor seja agredido por um pai porque ousou levantar à voz a filha, que o automobilista buzine e insulte o peão que circula na estrada porque os proprietários de viaturas atulharam os passeios, que o peão não seja respeitado ao atravessar a rua pela passadeira, enfim, que mil e uma coisas e loisas, não possam ser resolvidas com a força de um sorriso, simplesmente porque os maus exemplos vêm todos da mesma direcção: de cima e cada vez mais de cima. E para que as influências perniciosas dos maus exemplos que vêm de cima não me contaminem é-me conveniente parar aqui e agora. E mais não digo!
O SOL – 27.09.2016