A Opinião de Marcelo Mosse
Joaquim Chissano parece estar a empurrar-se para uma situação donde sairá diminuído e com um capital político porventura menos favorável a uma reforma condigna e moralmente estável. Trata-se da sua permanência no poder até 2009 - assumindo que em 2004 ele volte a vencer Dhlakama - o que, convenhamos, será mais difícil do que foi em 1999.
Até muito recentemente, os moçambicanos estavam convencidos que Chissano iria abandonar a liderança do partido e, por consequência, a política activa.
Essa era uma escolha racional, a nosso ver, que encerrava três pressupostos: o de estar há muito tempo no poder e no Governo e precisar de descansar; o de querer dar um sinal favorável à renovação da liderança do partido; e, por último, o de que Moçambique encontra-se numa encruzilhada difícil de pobreza, endividamento e dependência externa que se prolongará por muito e muitos anos e que ele não será capaz resolver.
Os dois primeiros pressupostos foram assumidos por ele próprio. O terceiro, que ressalta de uma realidade pungente capaz de motivar a renúncia, é uma assumpção nossa. Pesando os pressupostos, era racional que, abandonando o poder nesse momento, Chissano manteria em si uma boa dose do capital político e moral que acumulou ao longo dos anos.
Capitalizaria mais ganhos do que perdas, pese embora alguns sinais de hesitação e fraqueza que continuam a caracterizar determinados momentos da sua liderança (uma dessas hesitações é a forma como está a abordar a questão Brazâo Mazula; uma dessas fraquezas é a sua incapacidade em combater o crime organizado e o empobrecimento ou o seu despertar tardio para uma abordagem crítica das políticas de desenvolvimento).
Mas Joaquim Chissano está a recuar nessa sua disponibilidade em não se recandidatar em 2004. De certeza que o Presidente pesou outros pressupostos para optar pelo recuo e pela permanência no poder. A ideia de que são os militantes que assim o querem e a busca de legitimidade num futuro referendo aos eleitores do partido - que votam grosso modo consoante os desejos do aparelho - não justificam as escolhas em si; é uma espécie de tautologia política, aquela justificação rasteira para inglês ver.
O que importa agora é que o Presidente tomou tal decisão. Mas será que ela encaixa na actual conjuntura política do país? Do ponto de vista do actor que ele é, cremos que Chissano está a empurrar-se para um cenário donde é mais passível obter resultados sub-óptimos que ganhos. De 1999 para cá, a conjuntura mostra um país mais difícil, onde o custo de vida, a corrupção, e crimininalidade organizada, o roubo no Estado, o endividamento nada transparente galopam a passos largos.
O roubo impune na banca e no fisco, os assassinatos brutais de gente honesta (de Montepuez a Siba Siba, passando por Cardoso), não contribuem para o reforço daquele naco da imagem boa que muitos continuam a guardar dele. E os próximos dias, meses e anos não auguram um futuro melhor. Por isso, em 2009, quando Chissano finalmente decidir em retirar-se, a sua imagem vai estar - como está a acontecer em muita opinião pública - intimamente ligada à manuntenção e agravamento crescente desta conjuntura. Mas são as escolhas do Presidente, feitas com base nas informações que lhe dão, provavelmente, informações muito deturpadas sobre a realidade que o país vive.
METICAL – 20.09.2001
NOTA: Quinze anos depois qual é a situação do País? E ainda os tomam como "heróis"!
Fernando Gil
MACUA DE MOÇAMBIQUE