As obras vão mal mais do que nós supomos ... e quando a obra corre mal e apelamos para o caderno de encargos, então as coisa pioram. Frank Lamp. Chalrman da Bovls Constructlon. Conferência de Londres, 1944
A patologia social, organizacional e empresarial, originada pela burocracia, poderá ser explicada em termos simples que nos permitem entender, prevenir e erradicar a nefasta e endémica moléstia. A burocracia, numa análise superficial, caracteriza-se pelo facto de os objectivo determinados pela organização, serem quase inteiramente substituídos pelos objectivos de protecção pessoal. A estrutura da gestão tende, deste modo, a desviar-se para a protecção pela hierarquia.
Nestas condições torna-se perigoso tentar atingir os objectivos da entidade pois corre-se o risco de nos "entalarmos". Se fazemos alguma coisa, há logo críticas insidiosas, se não fizermos nada, somos apodados de preguiçosos. O dilema resolve-se, na prática, transferindo a tarefa para a autoridade mais elevadas que reage com narcisismo pelo facto de ser solicitada. Vossa Excelência no seu elevado critério decidirá. Na derradeira hierarquia, surge então a salvação através do magnífico e inútil documento burocrático que impede a acção. As coisas que inicialmente decorreram mal, pioraram no seu fim.
Esta prática social embaraça e aflige os engenheiros, em virtude de os marginalizar. Os concursos das obras são disso um bom exemplo. A obra adjudica-se ao concorrente avalizado por centenas de milhões anuais de USDollars que apresente a proposta mais baixa. Esta decisão não requer análise. O dono da obra fez o seu melhor porque reuniu construtores financeiramente sólidos e como tal de comprovada idoneidade; o empreiteiro não reclama porque pode controlar o preço e o próximo concurso é seu se assim o desejar; a responsabilidade do mau sucesso da obra fica na contingência que não era previsível.
O objectivo de uma obra bem sucedida foi abandonado e substituído por uma decisão burocrática que paralisa a iniciativa e entorpece o funcionamento e o desenrolar da acção. No entanto todos os intervenientes protegidos. Quase todos problemas da vida moderna envolvem opiniões técnicas.
A anomalia de uma solução burocrática que marginalize uma opinião de carácter técnico transforma-a em patologia que causa desgraça. A democracia não requer só liberdade, ela, essencialmente, necessita de opinião pública informada que reaja à burocracia. Os serviços hoje de um modo geral, estão burocratizados. Isso deve-se à banalização dos quadros.
O Laboratório de Engenharia de Moçambique nos anos 60 até à independência, era um serviço operacional de prestígio internacional devido ao carácter científico dos seus quadros que além de investigarem, mantinham-se operacionais no terreno, para garantirem a qualidade das obras.
Esta estrutura infelizmente perdeu-se. Hoje os serviços e os seus engenheiros estão marginalizados devido à tremenda burocracia em que se desenvolvem as obras.
As obras de engenharia são complexas e possuem um mercado particularmente específico. Estas condições requerem quadros com preparação científica que lhes permitam actuar, no mercado das obras com eficácia. As condições de mercado determinam que o engenheiro, além da ciência terá que considerar também o mundo dos negócios.
METICAL – 26.09.2001
NOTA: Por isso as infraestruturas coloniais se mantém de pé. É normal ouvir que “a ponte do Rio Licungo” foi rio abaixo. É mentira. A ponte está lá e a ser utilizada. Rio abaixo foram os acessos, apenas.
Fernando Gil
MACUA DE MOÇAMBIQUE