Maputo) Samora Machel, o primeiro Presidente de Moçambique independente, o “Pai da Nação” morreu juntamente com os 34 membros da sua comitiva no despenhamento do avião que o trazia da Zâmbia no dia 19 de Outubro de 1986 em Mbuzini, numa altura em que se aproximava do Ocidente, distanciando-se do marxismo-leninismo que a Frelimo abraçara a seguir à independência, o que gerou tensões no seio dos camaradas.
As causas deste acidente ou crime estão ainda por esclarecer, mas a 18 de Outubro corrente, em Mbuzini, o primeiro-ministro, Carlos Agostinho do Rosário, afirmou que o esclarecimento das circunstâncias da morte de Samora Machel continuam a ser uma prioridade nacional e um imperativo patriótico.
Graça Machel, a sua esposa na altura e hoje viúva de Nelson Mandela, afirmou na mesma ocasião que a descoberta das verdadeiras causas do acidente, é da responsabilidade dos governos moçambicano e sul-africano.
A pedido de Graça Machel e Nelson Mandela a morte de Samora Machel foi investigada por uma equipa especial de investigação denominada “The Scorpions”.
Oficialmente o avião Tupolev 134 de fabrico soviético despenhou-se nas colinas de Mbuzini, vindo de Lusaka, Zâmbia, devido à emissão de falsos sinais de rádio, que o fizeram baixar de altitude, o que efectivamente aconteceu, pois o piloto russo (que também faleceu no acidente) julgando que estava a baixar em direcção ao aeroporto de Maputo, conduziu de facto o avião para a África do Sul, onde se despenhou.
Hans Low, um ex-agente secreto sul-africano (preso desde 1997 e condenado a 22 anos de prisão por homicídio), afirmou ao jornal Sowetan Sunday World que a morte de Samora Machel não foi um acidente e admite ter feito parte do grupo que preparou um plano B para assassinar Samora, caso falhassem os falsos sinais de rádio que deveriam induzir o avião em erro.
Em Moçambique, a versão oficial dada pela Frelimo acusa o regime do apartheid de crime de terrorismo de Estado, enquanto alguns membros do partido dos camaradas apontam para um golpe de Estado levado a cabo por indivíduos que pretendiam impor mudanças no regime marxista em vigor em Moçambique, foi o que afirmou por exemplo o tenente general agora na reserva Hama Thain, evocando interesses externos com conluio de forças internas.
Como revelou em livro de memórias o então ministro Jacinto Veloso, o mecânico de bordo do avião presidencial Vladimir Novoselov, que se encontrava hospitalizado em Maputo, foi evacuado “à pressa” para Moscovo sem conhecimento da comissão de inquérito, o que só foi possível graças às facilidades concedidas pelo então ministro da Segurança Sérgio Vieira.
Joaquim Chissano, mal tomou posse como segundo Presidente de Moçambique, recusou continuar a voar em aviões russos tripulados por soviéticos, pode ler-se num estudo da autoria da investigadora Yvonne Clayburn intitulado “Estratégia de desinformação soviética aplicada ao desastre de aviação de Samora Machel”. Ela admite que a AIM desempenhou um papel preponderante, em conluio com uma equipa soviética especializada em técnicas de desinformação, enviada para Moçambique no dia seguinte à morte de Samora Machel.
O investigador norte-americano de acidentes de aviação Alan E. Diehl, enviado para a África do Sul em Janeiro de 1987 pelas autoridades americanas para tentar apurar as causas da queda do Tupolev, publicou nos finais de 2013 um livro sobre o acidente de Mbuzini, que revela entre outros que Jesus Cardoso, controlador do tráfego aéreo na Torre de controlo do aeroporto de Maputo na noite do acidente, foi “assassinado” dias depois e confirma que o extinto regime do apartheid tinha um sistema de rádio-navegação móvel ou VOR que poderia ter sido utilizado para desviar aviões do seu plano de voo inicial, mas indica também que a tripulação cometeu erros crassos.
Este investigador pediu na altura que as Nações Unidas investigassem a causa do despenhamento do Tupolev 134 que poderia ter sido, segundo ele um “crime contra a humanidade”.
No entanto, para o investigador João Cabrita autor do livro “The Tortuous Road to Democracy” traduzido para português sob o título “A Morte de Samora Machel” o acidente de Mbuzini foi o resultado de erros humanos, excluindo a hipótese de qualquer tipo de conspiração.
Neste mesmo livro este historiador escreve que Joaquim Chissano usou o argumento étnico para suceder a Samora Machel e afastar o seu sucessor natural Marcelino dos Santos.
DN – 25.10.2016
NOTA: Há aqui uma confusão sobre os livros de João Cabrita. São duas obras absolutamente distintas.
Fernando Gil
MACUA DE MOÇAMBIQUE