Centelha por Viriato Caetano Dias ([email protected] )
A inveja não é pelo carro ou pela casa que tens, porque eles até têm melhor, mas sim pelo teu brilho. A tua inteligência. A capacidade de transmitir e criar mais-valias que os outros não conseguem. Não têm a capacidade de pensar e perspectivar as coisas. Então, tentam apagar a tua lâmpada para acender a deles. Chiquinho Conde in Jornal O País, 5 de Outubro de 2016.
O título entre comas, da presente Centelha, foi “empalmado” no Diário da Zambézia, edição nº 2316, de 18 de Outubro de 2016. Para os mais cautos, exceptuando aqueles que fazem poucos das minhas reflexões, sabem que eu muitas vezes tenho tido ideias que depois o futuro confirma. Na semana passada, aqui nesta gazeta de Wamphula Fax, escrevi uma crónica intitulada “Pressentindo a derradeira queda da Renamo.” Como é de praxe recebi uma carrada de insultos gratuitos que têm em vista assassinar a minha têmpera. Lembro-me de quando andava na Universidade de Évora, em Portugal, ouvir um professor da cadeira de Problemas Actuais do Direito Internacional Público dizer que “É preciso formar as vossas ideias e defender aquilo que acreditam.” Defendo que uma Renamo militarizada, que assassina populações civis e indefesas como forma de pressionar o governo a atender seus caprichos e fantasias, não pode vingar (vencer). A Renamo está condenada, à semelhança de outros partidos que jazem nas brumas do tempo, a ser incinerada pela História da nossa democracia.
O tempo foi mestre para validar as minhas hipóteses, agora com fortes evidências sobre as deserções dos seus membros, conforme reporta o Diário da Zambézia “Membros e simpatizantes da Renamo na Zambézia, tendem a abandonar o seu partido, afirmou esta segunda-feira em Quelimane Inês Martins deputada da Assembleia da República pela bancada da Renamo.” A narrativa jornalística do Diário da Zambézia prossegue: “Inês falava num comício menos concorrido pelos simpatizantes desta agremiação política por sinal a maior da oposição em Moçambique, por ocasião da passagem dos 37 anos da morte do primeiro presidente da Renamo André Matade Matsangaissa, na ocasião, lamentou a desistência de seus membros que diariamente tendem a abandonar o partido.” E mais: “A fonte disse ressentir-se da desistência de seus membros, numa altura em que a Renamo pretende unir mais forças para vencer as negociações entre seu líder e chefe do Estado Moçambicano visando o cessar-fogo com vista a alcançar-se a paz no nosso país, tendo os encorajado a não desistirem do partido porque segundo ela a vitoria esta prestes a chegar.”
Estes são sinais irrefutáveis que a Renamo está em queda livre e o coveiro é o seu próprio líder o “monarca” Afonso Dhlakama. É impressionante a tamanha cegueira deste homem, narcisista inigualável e expoente máximo da incongruência política, que ainda não leu os sinais dos tempos. Está a ficar cada vez mais isolado e marginalizado, incluindo por aqueles que outrora o haviam jurado dedicar-lhe amor maternal. Os vassalos, que não são aselhas, compreenderam que confiar em Dhlakama é como tirar sangue de uma pedra. Perceberam que, com Dhlakama, estavam à deriva. Comem e bebem à tripa-forra, enquanto o “monarca” bate-se por uma causa perdida. Os comícios vazios, exceptuando uma negligenciável presença no terreno daqueles que ainda resistem em acreditar num homem desacreditado pela História, denunciam o futuro moribundo da Renamo. A ideia de que a paz só prevalecerá com o assalto ao poder nas seis províncias não passa de subterfugio, pois é consabido que a Renamo pouco se importa com o poder. Como é que um partido que não participa em eleições, por relaxamento político ou por pieguices, pode ganhar eleições? A Renamo quer o seguinte tripé: (i) desestabilização do país em cumprimento de agendas externas; (ii) acesso aos recursos, e (iii) acomodar o bando de lacaios que acompanham o “monarca” nos búnqueres.
Li com satisfação a instigante carta de Nini Satar dirigida ao “monarca” Afonso Dhlakama. Nela, o “homem das quantias irrisórias”, questiona: “O que me preocupa agora, volvido um ano, é se o líder da Renamo entendeu o conteúdo da minha anterior missiva. Não lhe pedi mais nada que não seja devolver a paz aos moçambicanos. É pedir muito?” A questão agora é minha: senhor presidente da Renamo, para si, quanto custa a palavra PAZ? Diz-me para que os moçambicanos possam fazer uma companha de recolha de fundos a seu favor! De novo, Nini Satar espingardeia: “Em algumas ocasiões, a Renamo, o seu partido, apareceu a reivindicar determinados ataques em que morreram civis. Esses não eram moçambicanos? Poderia lhe fazer a pergunta de uma outra forma: essa sua incessante busca do bem-estar do povo moçambicano só pode ser com Kalashnikov? Presidente, entenda que não lhe estou a acusar de ser belicista. Só que julgo que há outros meios para se alcançar um determinado objectivo que não seja a via da guerra. A guerra atrasa o país, faz deslocados, desempregados, retrai investimentos, joga o nome do país na lama. É esse o Moçambique que o senhor quer governar? […] É que do jeito como o senhor aposta na guerra sempre que quer reivindicar alguma coisa, parece que alguém lhe deu garantias secretas que só pode triunfar usando esse caminho. Porquê não insiste no diálogo? Ou por outra, nalgum momento ganhou alguma coisa por causa dessa guerra?”
Sobre a governação nas seis províncias, já referido acima, Nini Satar interroga: “Há qualquer que o líder ainda precisa de explicar aos moçambicanos. As tais seis províncias vão ser independentes do resto do país? É que o Plano Económico e Social, bem como o Plano da Acção do Governo já foram aprovados pelo Governo central, liderado pela Frelimo. Como é que a Renamo vai governar sem estes instrumentos? Onde é que a Renamo há-de ir buscar dinheiro para as seis províncias? Tem garantias de apoios? De quem? Quanto di
que as perguntas de Nini Satar serão respondidas? Estou curioso. Zicomo e um abraço nhúngue ao meu amigo Mitongas.
P.S.: Para quando a atribuição do Nobel da PAZ ao presidente Robert Mugabe? É altura de a África criar uma academia internacional para distinguir os seus heróis.(x)