Canal de Opinião por Noé Nhantumbo
Só se aprende quando há humildade de reconhecer que não se sabe e predisposição de ouvir os outros.
Não é a idade ou instrução académica que determinam quem sabe e quem não sabe.
Não há proprietários únicos da verdade e do saber. A aparente dificuldade de conciliar as partes em conflito em Moçambique é histórica e muitas vezes associada a ambição desmedida dos protagonistas políticos existentes.
Antes, foi artifício utilizar a ideologia como cavalo de batalha para separar e depurar os outros. De maneira sistemática e permanente, implantou-se um regime arrogante e prepotente, cheio de aversão a entendimentos ou construção de consensos, mesmo que isso se afigure indispensável. Questiona-se a causa de tanto sofrimento e impasses, mas, ao mesmo tempo, os “players” fecham-se para com a realidade insustentável. Alcançado o poder na sequência de uma descolonização inclinada, quem lá chegou, tem-se esforçado em não largá-lo. E nesse sentido houve uma opção férrea e firme de fechar os caminhos para uma convivência democrática real.
De maneira vil e decidida, ao mesmo tempo que diziam que estavam a construir o Estado, estavam, na verdade, montando os instrumentos e mecanismos para a sua perpetuação no poder.
Se não temos presidentes vitalícios, isso deve-se simplesmente às lutas intestinas e não ao cumprimento do preceituado pela CRM. Golpeiam-se palacianamente, e fingem, em público, que se entendem. E como agora está em risco a sobrevivência do seu “modus vivendi”, unem-se, embora pareçam desavindos.
Mas, como a dinâmica sociopolítica é permanente, as fissuras abrem-se, e agora já se observam buracos enormes em todo o edifício que se julgava consolidado.
Diz-se que o caminho percorrido era o único possível na altura, mas isso só é parcialmente verdade. Na verdade, não era necessário tanto morticínio para se chegar à mediocridade sociopolítica de hoje.
Uma economia sem economia e finanças selvagens revelam a mediocridade do sistema montado, por mais que os defensores recrutados procurem vender o contrário.
Porque este sistema anacrónico só pode sobreviver e replicar-se com base no servilismo, surgiu a necessidade de partidarizar o Estado e embrutecer cidadãos através da lavagem cerebral e branqueamento sucessivo.
Mentir e socorrer-se de amnésia tornou-se recurso dos que poderiam esclarecer zonas de penumbra da nossa história.
Mas o heróico povo moçambicano demonstra, a cada dia que passa, a sua resiliência.
Já nada será como antes.
Os sacrifícios consentidos por milhões não foram em vão.
Honramos os nossos heróis, e não só os heróis oficiais.
Honremos os nossos heróis assumindo os desafios de hoje.
O comodismo e o estomacalismo visceral é contra o progresso sociopolítico almejado ou pretensamente publicitado.
Compatriotas, não nos enganemos uns aos outros sobre o que reacende a beligerância.
O embuste e o vantagismo unilateral reinante só complicam as contas.
Há que escolher entre a guerra pelos recursos e uma verdadeira paz que orgulhe todos como filhos da mesma pátria.
A luta por Moçambique continua. (Noé Nhantumbo
CANALMOZ – 28.11.2016