Investigação às “dívidas escondidas” já ouviu o antigo Presidente da República
Dando seguimento aos trabalhos que veem realizando no âmbito da averiguação do escândalo das chamadas “dívidas escondidas”, a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) ouviu, na manhã de ontem, o antigo Presidente da República, Armando Guebuza. Antes de Guebuza, há sensivelmente três semanas, a mesma Comissão auscultou, no âmbito do mesmo processo, Manuel Chang, antigo ministro das Finanças, durante a administração Guebuza.
A Comissão Parlamentar de Inquérito, criada a 26 de Junho passado, foi constituída para averiguar os nebulosos contornos que culminaram com a contratação de dívidas que rondam a casa dos USD 2.2 mil milhões, pela Empresa Moçambicana de Atum (EMATUM), ProIndicus e a Mozambique Asset Managment (MAM), durante o segundo mandato de Armando Guebuza.
A CPI tem, até a próxima quarta-feira, 30 de Novembro, a data limite para apresentar o relatório final do trabalho realizado.
O esconde esconde de Guebuza
Numa acção com altos níveis de secretismo, a partir da não partilha atempada da agenda sobre a audição, Armando Guebuza chegou à sede do parlamento moçambicano rodeado por vários seguranças que tinham a missão clara de não deixar que os poucos jornalistas que já estavam na AR captassem a imagem do antigo presidente moçambicano.
Com a audição marcada para as 9h, Guebuza chegou à Assembleia da República (AR), exactamente quando eram 8h30, numa viatura de marca Mercedes Benz, classe executiva, com a chapa de inscrição AEE 323 MC.
A sua viatura vinha escoltada por duas motorizadas da Polícia de Trânsito e uma outra de marca Toyota, cor creme metalizado.
Para além da escolta, o antigo estadista fazia-se acompanhar por um batalhão de assessores. O grupo de assessores era composto por Armindo Chavana, Gabriel Muthisse, Alexandre Chivale, Isalsio Mahajane e outros, figuras que durante o reinado de Armando Guebuza formavam a chamada frente falante de apoio e branqueamento de uma imagem que Guebuza ia perdendo de forma acentuada. Aliás, estes nomes fazem parte da lista conhecida por G-40.
Depois de passar pela porta principal e sem dizer uma palavrinha sequer, Guebuza dirigiu-se à zona em que se encontram as salas VIP da AR e rumou directo para sala onde decorreu a audição. Nela (sala) já estavam os 10 deputados da bancada parlamentar da Frelimo e um do Movimento Democrático de Moçambique. A bancada da Renamo não tem qualquer membro, em virtude de, desde à primeira hora, ter prescindido de fazer parte por entender que a mesma nunca iria apresentar resultados palpáveis.
Terminou a audição e Guebuza fugiu
Volvidos 45 minutos, a audição conhecia o seu término. Com os jornalistas a serem entretidos por um grupo que tinha exactamente a missão de entreter jornalistas e bem distante da sala de audição (aos jornalistas não foi permitida sequer aproximar a sala), eis que se dá conta de que Armando Guebuza estava já a sair das portas traseiras, preparando-se para deixar as instalações da AR pela entrada das comissões e não da entrada principal, por onde entrou à chegada.
Apercebendo-se do esquema de fuga desenhado por Guebuza e seus assessores, os jornalistas correram para a entrada dos fundos para tentar arrancar qualquer declaração ou imagem de Armando Guebuza. Só que todas as tentativas redundaram em total fracasso. Os jornalistas foram barrados pelos seguranças que acompanhavam o antigo Presidente da República, impedindo qualquer tentativa de aproximação.
Acompanhado por Eneas Comiche, Presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito, até à saída, Guebuza entrou no seu Mercedes Benz e desapareceu do local, na companhia dos seus seguranças.
Para além de Eneas Comiche, que é presidente, a comissão é constituída por Sérgio Patie, vice-presidente, José Katupha, Lucas Chomera Jeremias, Francisco
Mucanheia, Alberto Matukutuku, Jaime Neto, Olinda Mith, Esmeralda Muthemba, Luciano de Castro, todos pela Frelimo e Venâncio Mondlane, da bancada do Movimento Democrático de Moçambique.(Ilódio Bata)
MEDIAFAX – 29.11.2016
NOTA: O desrespeito à Constituição que jurou cumprir é factual. Por onde anda o dinheiro é que tem de ser explicado.
Fernando Gil
MACUA DE MOÇAMBIQUE