Canal de Opinião por Noé Nhantumbo
Mesmo para quem não queria ver ou acreditar que a III República se mantém, intacta cada vez mais tudo se conjuga e se demonstra.
Quando se dizia que as escolhas da equipa ministerial eram disso indicativo, alguns rapidamente trouxeram para as redes sociais que eram teorias de conspiração.
Houve mudanças ministeriais que nem foram remodelações de peso. O que se fez foi aprimorar uma máquina para melhor servir os verdadeiros detentores do poder.
Nos ministérios poderosos, onde repousa o controlo da riqueza do solo, subsolo e do mar, está tudo organizado para servir a agenda previamente traçada.
Nas pastas em que não se conseguiu encaixar pedras adequadas aos objetivos, colocou-se nos institutos e empresas públicas dos pelouros gente preparada para cumprir a agenda.
E com a máquina montada ou reciclada, prossegue a acumulação de capital, como o negócio da digitalização audiovisual o demonstra.
Quando é revelada a estrutura accionista do liquidado “Nosso Banco”, clarifica-se a função dos titulares dos cargos públicos.
Conluiaram-se para delinquir sistematicamente nas finanças públicas, com segurança completa de impunidade.
Os camaradas que foram recebendo guloseimas através de cargos e toda uma engenharia de domesticação utilizando fundos como os famosos 7 milhões para os distritos. Comprar votos e depois utilizar o poder adquirido como se queira tornou-se prática corrente e mesmo com vozes discordantes no seio da Frelimo, o vencedor do congresso de Pemba firmou-se incontestavelmente.
Não tenhamos dúvidas, compatriotas. Independentemente das nossas inclinações partidárias ou filosóficas, o nosso país foi tomado, capturado e controlado por interesses privados.
Uma máquina eficiente de enriquecimento ilícito está estabelecida e funciona bem oleada.
De República, Moçambique tornou-se um feudo, onde os senhores feudais decidem o que querem, sem que os súbditos tenham qualquer opinião.
Os preceitos de governação republicana foram rasgados.
Chegados a este ponto, e porque se tornou insustentável toda uma sociedade em crise, sangra numa hemorragia fatal.
De soberanos, agora cumpre-se as ordens do FMI/BM.
Toda a estrutura dominante e que se supunha à prova de qualquer ataque, agora mexe-se em todas as direcções, procurando tapar os buracos abertos.
Mas são tantos os buracos abertos que não há mãos suficientes para fazê-lo.
Haverá saídas viáveis e airosas? Sim.
Custará muito de inteligência, criatividade, coragem, determinação e patriotismo.
Aquele esforço titânico para a Independência precisa de ser reeditado com todo o vigor.
Não há mãos a medir, e a urgência é real.
O que se diz nas redes sociais e comunicação social em defesa ou contra o que está acontecendo tem o seu valor relativo como tudo.
Os partidos políticos em presença têm de fazer muito mais do que estão fazendo neste momento.
O Parlamento, que poderia estar fazendo coisas úteis, amarra-se em discussões fúteis e umbilicais em geral.
Mesmo com a crise real existente, os nossos deputados entregam-se a jogos de retórica e diversionistas.
As sinuosidades do processo de construção do país não devem fazer desfalecer.
É uma situação peculiar, que exige uma resposta consistente, patriótica vigorosa.
As senhoras e senhores das ong’s nacionais, os parceiros internacionais tradicionais precisam de aumentar a pressão de forma concertada e estratégica.
Sabe-se que não é uma tarefa fácil. Governar jamais foi fácil.
Mas governar, se não for feito de forma patriótica, mina os alicerces da República.
Nada pode resistir aos rombos sucessivos a que foi sujeito o Estado.
A cumplicidade implícita ou demonstrada por práticas recorrentes de defesa do indefensável, mesmo que feita por intelectuais tidos e considerados de gabarito, não colhe e não resolveu nada até agora.
Não vale a pena esperar que os nossos problemas sejam resolvidos através de inacção e cumplicidade, silêncio.
Os nossos filhos já sofrem por causa daquilo que jamais deveria ter sido feito.
Sem vinganças, mas com sentido de Estado, as lideranças partidárias devem ser responsabilizadas pelo que se passa e por aquilo que não está acontecendo em benefício dos moçambicanos.
Agir e agora cabe a cada um de nós.
Cometeram-se erros de percurso, e alguns foram motivados por percepções erróneas de que a defesa do partido era superior e mais importante do que a defesa de Moçambique e do seu povo.
Basta de desculpas e de viver-se de ilusões. Parasitismo e roubalheira de colarinho branco conduziram-nos a este beco mais ainda temos saídas. (Noé Nhantumbo)
CANALMOZ – 17.11.2016