Por Capitão Manuel Bernardo Gondola
As más notícias são hoje um facto em Moçambique. Cada vez que abrimos um Jornal, ligamos a televisão ou o rádio, somos confrontados com informações muito, mais muito tristes. Acontece, que não há um só dia que passe sem que nalguma parte do país, aconteça algo que todos consideremos como uma desgraça. Todos nos sentimos tristes, uns mais, outros menos, quando ouvimos falar do sofrimento alheio.
Em Moçambique, estes tristes acontecimentos podem ser divididos em duas grandes espécies:
Os que principalmente têm causas naturais: secas, inundações e…, afins e…, aqueles que têm nossa própria causa: crimes, violência de toda espécie, guerra, corrupção, pobreza, mentira, embuste, injustiça económica, política e…, até social. Você vê, tudo isto é consequência do nosso mau comportamento.
E…, quem é responsável por esse mau comportamento? Nós. Presidente da República, Primeiro-ministro, Ministros, Vice-ministros, Procuradores, Governadores, Directores nacionais, Reitores, Administradores, políticos, deputados, cientistas, médicos, advogados, juristas, académicos, formadores de opinião pública, Directores escolares, professores, estudantes, padres, bispos e…, tal como Eu; combatentes, universidades, empresas, artistas, comerciantes, vendedores, técnicos, desportistas, automobilistas, operários e…, desempregados. Enfim… Todos.
Você vê, não há uma única classe ou sector da sociedade em Moçambique, que não contribua para o regime diário de tristes notícias. Não podemos de modo algum como acontece com frequência partir do princípio, que não temos noção do bem e de mal ou do que é moralmente correcto, só porque alguns são incensuráveis.
Como fonte da ética, temos de admitir que a compreensão do que é certo ou errado, bom ou mão, do que é moralmente apropriado e do que não é, do que é acto positivo e do que é acto negativo, possa variar como acontece conforme as circunstâncias e mesmo de pessoa para pessoa. Não podemos de modo algum pretender criar um código de regras ou de leis, que respondam a todos os embaraços como base de conduta moral.
A riqueza e a diversidade da experiência suscitaria além disso, o argumento infeliz que, perante esse tipo de leis, somos apenas responsáveis pelo seu cumprimento e não verdadeiramente responsáveis pelas nossas acções. Repare, que isto não quero dizer, que seja inútil estruturar princípios moralmente vinculativos. Pelo contrário, para que exista alguma esperança de resolver os nossos problemas temos de encontrar forma de o fazermos. Certamente, temos de ter meios para escolher entre, por exemplo; o terror e a guerra como meio de reforma política e os princípios de tolerância política e, a pacificação. Devemos nós moçambicanos todos; poder demonstrar, que a violência para com os outros está errado.
E…, é possível estabelecer princípios éticos vinculativos se tomarmos como ponte a consequência de que, todos desejamos a felicidade e queremos realmente evitar o sofrimento. Não podemos discriminar entre certo e errado se não tomarmos em linha de conta os sofrimentos dos outros e os seus sofrimentos. A noção de verdade absoluta é difícil. Porém, o comportamento ético não é algo que adoptamos por ser essencialmente correcto. Além disso, se é verdade que o desejo de alcançar a felicidade e evitar o sofrimento é uma predisposição que deve ser partilhada por todos. Destarte, segue-se que cada moçambicano, tem o direito de procurar este objectivo. Por conseguinte uma das coisas que determina um acto é ético ou não seja o efeito que ele tem sobre a experiência ou a expectativa de felicidade que os outros têm.
Destarte, um acto que prejudique os outros ou que é violento é potencialmente um acto contrário à ética. Digo, potencialmente contrário a ética, uma vez que, embora as consequências das nossas acções sejam importantes, há factores a considerar que incluem tanto a questão da intenção, como a da natureza do acto em si. O facto de as nossas acções parecerem complacentes não significa, que sejam positivas ou éticas, se as nossas intenções forem egoístas.
Tomemos como exemplo; com a intenção de enganar os outros, fingindo a bondade é um comportamento muito negativo. Você vê, um comportamento desses é violento mesmo que, não envolva qualquer tipo de violência. É violento não apenas pelo seu fim ser negativo, mas também por desmanchar a confiança e a expectativa, que a outra pessoa ou pessoas tem de que seja verdade. Podemos facilmente imaginar um caso em que um indivíduo esteja compenetrado de que as suas acções são bem-intencionadas e destinadas ao bem dos outros quando, na realidade, são totalmente imorais. Por exemplo; o que cumpre ordens simples de matar pessoas, acreditando que se trata de uma causa justa, supõe que essas acções são para o bem da sociedade. Porém, de acordo com o princípio da não-violência, matar ou fazer matar é por definição um acto contrário à ética. Você vê, cumprir esse tipo de ordem é um comportamento extremamente negativo.
Na verdade, o conteúdo das nossas acções também é importante para determinar se são moralmente correctos ou não, dado que, certos actos/comportamentos nossos são negativos por definição. Você vê, é facilmente entendido se virmos a forma como as nossas acções são afectadas quando nos deixamos dominar por pensamentos e emoções negativas poderosas como o ódio e a cólera. Felizmente, você vê, ao oposto dos desastres naturais, que devastam o país todo pelos quais pouco ou quase nada podemos fazer; os problemas comportamentais que originam frequentemente as más noticiais, por serem essencialmente éticos, podem ser erradicados. Com efeito, se não houver disciplina interior, mesmo os meios que usamos para resolver se tornam, por vezes, uma fonte de problemas como infelizmente acontece.
n/b: Já estou em Cabo Delgado (terra natal). Cheguei ontem no voo da LAM. Amanhã mesmo estarei no planalto dos macondes, berço do nacionalismo moderno moçambicano.
Manuel Bernardo Gondola