Já lá vão mais de quarenta anos, que, do Rovuma ao Maputo, foram os dois saudosos libertadores, um deles ainda vivo, bem aplaudidos e recebidos por todos. Esgotaram-se em discursos e vivas, mas contrariamente ao que aconteceria depois, em Angola, não precisaram de mandar dar tiros, já estavam detidos, no calabouço de Lourenço Marques, todos os políticos da oposição e os que conheciam por dentro aquela FRELIMO de fora. Aquela FRELIMO representando duas das nações de Moçambique, a Nação Maconde no seu planalto da margem direita do Rovuma, com os seus guerrilheiros desenraizados e a Nação Changana chegada a Gaza, há menos de dois séculos com Sotchangana e os seus guerreiros de azagaias de cabo comprido, bem precisava de conquistar os corações das outras Nações de Moçambique, para se pôr a trabalhar com elas e a desenvolver o país, porém a viagem revolucionária foi curta para isso, mas mais do que longa para abrir os olhos e fazer compreender aos operadores económicos, trabalhadores e funcionários da Nação Portuguesa de Moçambique o que estava para vir e não tardou.
O nome de Lourenço Marques, comerciante português encarregado pelo capitão de Moçambique, em 1544, de reactivar o comércio milenário de metais no Sul do Save, que tinha sido interrompido pelo império português do Índico e da Ásia, dando nova vida às praias do Bilene e da Costa do Sol, foi apagado dos mapas e substituído pelo nome de um dos três rios da Baía do Espírito Santo, precisamente um dos dois donde só vinha marfim e por onde não chegavam barcos carregados de anilhas de cobre.
O exército moçambicano de cerca de quarenta mil homens, herdeiro das tradições dos soldados moçambicanos do exército português, que, durante a primeira guerra mundial tinham entrado profundamente no território alemão ao norte do Rovuma, carregando dentro da escura selva com os seus hinos de guerra, suas espingardas e suas baionetas, foi desmobilizado e enviado para as suas aldeias. Até hoje, parece que Moçambique não tem exército digno desse nome para defender as suas fronteiras e manter unidas as suas Nações. Os jovens recrutas desmotivados e mal comandados deixam-se apanhar e morrem aos grupos.
Rapidamente, tinha ficado tudo preparado para o neocolonialismo soviético em 1974. Trabalhadores e trabalhadoras independentes sustento de famílias, Testemunhas de Jeová recusando pendurar retratos de homens por respeito às suas igrejas, comerciantes culpados de vender e comprar, críticos de boa fé, vítimas de invejas pessoais, funcionários competentes, mesmo os da FRELIMO, como André Matsangaíssa, foram todos perseguidos e enviados para os campos de reeducação, uma nova versão tropical do gulague soviético da Sibéria.
Os revolucionários mais empedernidos e os administradores mais competentes nomeados governadores das províncias não conseguiram ganhar os corações das grandes nações Macua, a mais numerosa de Moçambique, e Chona, com mais de três mil anos de história, desde Sofala até às ruínas do templo judaico do Zimbabwe, nem de todas as outras, que não se tinham apaixonado pelo novo regime.
Quando o saudoso Samora Machel ao fim de doze anos a animar as festas da independência, a dizer e fazer disparates, compreendeu que nem o socialismo, nem a revolução estavam a servir os interesses de Moçambique e tentou furar o cerco que ele próprio tinha feito à sua volta, isolando-se e ficando ultrapassado com as suas elucubrações de marxismo-leninismo mal digerido, o avião presidencial estatelou-se, morrendo ele e os ministros, que o acompanhavam, Aquino Bragança, outros altos funcionários, toda a tripulação soviética, menos um tripulante que se tinha ido sentar atrás, quando a tripulação do avião julgava que ia aterrar, em Mavalane.
Veio então Joaquim Alberto Chissano, com o seu Primeiro Ministro Doutor Pascoal Mocumbi, e tentou iniciar uma política de desenvolvimento do país. Apercebeu-se de que Moçambique, além de estar em guerra civil, tinha caído num poço, o poço do desenvolvimento socialista, onde tinha caído, setenta anos antes, a Rússia e as suas colónias governadas por um indígena assimilado, mestiço de kalmuque e judeu alemão. Para de lá sair, tinha que acabar a guerra civil e estabelecer um estado de direito democrático em Moçambique. Com a ajuda da RENAMO, depois dos acordos de paz, a FRELIMO começou a fazer eleições e a ter representações da oposição. Porém os acordos de paz só eram aplicados em seu proveito e, a esse respeito, parece que o governo da FRELIMO do Rovuma aos saltos até ao Maputo, não chegou a compreender, que um país multinacional só é viável com transparência e partilha honesta e sincera, beneficiando a todos. Depois de Chissano, o terceiro presidente Armando Chembene Guebuza habilmente aproveitou o apoio de Marcelino dos Santos para tentar abrir a Frelimo e torná-la mais representativa. Pôs Moçambique na via do desenvolvimento capitalista, valendo-se dos seus grandes recursos em energia.
Porém, depois dos primeiros 15 anos de guerra civil, a paz só durou 20 anos e a Pérola do Indico afundou-se novamente nas guerrilhas, guerra civil e negociações intermináveis, num centro de conferências, que avisadamente Joaquim Alberto Chissano construiu.
Vamos agora assistir à chegada dum Moçambique de Sofala ao Zumbo?
Daqui a quantos anos?
Os australianos já abandonaram Moatize e outros projectos mineiros de Moçambique, quando surgiram dificuldades artificiais do lado moçambicano. O carvão de Moatize tem um prazo muito limitado para ser vendido como recurso energético e grande concorrência internacional para ser aproveitado nas indústrias químicas.
Agora, poucos anos depois, já se tornou claro e certo que todos os recursos energéticos de Moçambique vão ficar sem mercado dentro de poucos anos.
Vem aí a energia solar com novas tecnologias e painéis ao preço da chuva. Vêm aí os novos painéis solares muito baratinhos e até já chegaram e continuam a chegar. Até a Arábia Saudita se está já a reconverter, equipando-se e cobrindo o seu deserto, com os novos painéis solares.
O Reino de Marrocos já construiu parques de painéis solares ao Sul do Alto Atlas e programou o revestimento do seu deserto do Sahará Ocidental com painéis solares para se abastecer e exportar energia eléctrica para a Europa. A Argélia, que baseou o seu desenvolvimento e poderio em fontes de energia ultrapassadas, pode agora fechar o seu POLISARIO e utilizar os seus parcos recursos para se reconverter, como a Arábia Saudita já está a fazer.
O embaixador Franco Nogueira, ministro de Salazar, que conhecia a África melhor do que nós, foi muito pessimista quanto ao futuro da Guiné, Angola e Moçambique afastados de Portugal, pensando que, tornando-se estados falhados, seriam absorvidos pelos seus vizinhos anglófonos e francófonos. Já temos a Guiné que se esforça por sair da situação de estado falhado e por se libertar do neocolonialismo dos narcotraficantes e dos francófonos. Que vai acontecer a Moçambique, se os seus dirigentes não tiverem vontade nem sagacidade para evitar tais situações?
Precisamos de saber com urgência, se os representantes da grande Nação Chona de Moçambique estão interessados em fazer do falecido embaixador Franco Nogueira o profeta das desgraças de Moçambique.
Não queremos que Moçambique de Sofala ao Zumbo venha a resultar na desintegração de Moçambique. O chefe da RENAMO valeu-se do precedente do Sudão do Sul para exigir a separação das províncias de Moçambique, onde a RENAMO tinha obtido a maioria nas últimas eleições, mas já devia ter reparado que o Sudão do Sul está em guerra civil desde a sua independência. Precisa também de compreender que logo a seguir à divisão em dois, Moçambique vai se desintegrar em meia dúzia de republiquetas para fornecer portos e praias aos países anglófonos. Pensa ele que vai ser capaz de governar a Nação Macua e as outras? Pensa ele que se pode desembaraçar da nova Nação Changana, oferecendo-a ao Transval, sem que a Nação Maconde se reunifique nas duas margens do Rovuma?
Daqui a quantos anos vai ele ganhar a guerra ou assinar novos acordos de paz, que o satisfaçam?
O mais tardar, em 2030, já ninguém comprará carvão, gás e petróleo a Moçambique e a central hidro-eléctrica de Cahora Bassa, mandada construir por Salazar, para pagar a sua dívida, aos mineiros moçambicanos, da África do Sul, continuará por mais algum tempo a fornecer energia cara a Moçambique.
Desde a independência, Moçambique já perdeu quase cinquenta anos de desenvolvimento. A RENAMO parece querer agora compartilhar e desenvolver essas responsabilidades com a FRELIMO, tentando ultrapassá-la com toda a pressa.
Depois de ter falhado o desenvolvimento de Moçambique do Rovuma ao Maputo, agora o tempo já não corre a favor do desenvolvimento de Moçambique de Sofala ao Zumbo. Só corre a favor do entendimento de todos os moçambicanos de Sofala ao Zumbo e do Rovuma ao Maputo. Desencantem-se uns e outros sobre a comunidade internacional, que tem problemas mais importantes a resolver e vai deixar de se interessar pelos problemas de Moçambique brevemente desprovido de recursos energéticos competitivos.
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