A Polícia da República de Moçambique (PRM) disse hoje que vai continuar com as suas operações para "garantir a ordem e segurança" da população no centro do país, após o líder da Renamo, Afonso Dhlakama, anunciar um cessar-fogo temporário.
"Tomámos conhecimento deste acordo, mas aquilo que é o papel da polícia continuará naturalmente. Continuaremos firmes", declarou o porta-voz do Comando Geral da PRM, Inácio Dina, na conferência semanal de balanço das actividades policiais.
Apesar de destacar a importância da trégua de uma semana anunciada por Dhlakama, Inácio Dina disse que as Forças de Defesa e Segurança "cumprem um mandato constitucional" e, por isso, podem posicionar-se em qualquer ponto do país.
"Nós vamos continuar a proteger as pessoas. Em nenhum momento a presença da polícia serviu para ameaçar o cidadão", observou Inácio Dina, reiterando que a missão da corporação é "garantir que as pessoas estejam sempre seguras".
Na manhã de hoje, o líder da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo) anunciou uma trégua de uma semana como "gesto de boa vontade", no seguimento de uma conversa telefónica mantida na segunda-feira com o Presidente moçambicano.
"Anuncio a cessação das hostilidades militares a partir das 00:00 de Quarta-feira. Em todo o território moçambicano, não haverá ataques entre as forças armadas da Renamo e as Forças Armadas de Moçambique", afirmou Afonso Dhlakama em declarações por telefone aos jornalistas, reunidos na sede nacional do maior partido de oposição em Maputo.
O Presidente da República, Filipe Nyusi, manifestou hoje o seu optimismo para o fim da crise política e militar em Moçambique, após a conversa telefónica que manteve com o líder da Renamo.
"Conseguimos falar, eu e o presidente da Renamo, Afonso Dhlakama, e a chamada era simplesmente para desejar festas felizes um ao outro e saber como as coisas estão, mas, como sempre, esse tipo de contacto tem que se explorar ao máximo", declarou Filipe Nyusi, citado pela Rádio Moçambique.
Moçambique atravessa uma crise política e militar, marcada por confrontos, no centro do país, entre o braço armado do principal partido de oposição e as Forças de Defesa e Segurança, além de denúncias mútuas de raptos e assassínios de dirigentes políticos das duas partes.
A Renamo acusa a Frelimo de ter viciado as eleições de 2014, que deram vitória ao partido no poder há mais de 40 anos, e exige governar em seis províncias onde reivindica vitória no escrutínio.
Dhlakama assinalou hoje que tem mantido conversas com Nyusi, com o objectivo de "cultivar a confiança", mas não vai ceder na continuação dos mediadores internacionais nas negociações de paz.
No seu discurso do estado da nação, o Presidente da República, disse que propôs à Renamo a criação de um grupo de trabalho especializado, "sem distinção política" nem a presença do actual grupo de mediadores para discutir o pacote de descentralização, um dos temas essenciais das negociações de paz.
Os trabalhos da comissão mista das delegações do Governo e da Renamo pararam em meados de Dezembro sem acordo sobre o pacote de descentralização e os mediadores abandonaram Maputo, referindo que só regressarão se forem convocados pelas partes.
Nas declarações hoje à imprensa, Dhlakama salientou que, além das hostilidades militares e dos ataques da Renamo, importa também parar com a vaga de raptos e assassínios contra membros do seu partido, admitindo que esta trégua temporária possa ser definitiva.
As autoridades governamentaos têm responsabilizado a Renamo por vários ataques a alvos civis e emboscadas nas principais estradas do centro do país, onde a circulação está condicionada a escoltas militares obrigatórias.
Além do pacote de descentralização e da cessação dos confrontos, a agenda do processo negocial integra a despartidarização das Forças de Defesa e Segurança, e o desarmamento do braço armado da oposição e sua reintegração na vida civil.
SAPO – 27.12.2016