Bate-fundo por Salvador Raimundo
OS cara-de-paú esfregam as mãos de contente, após exercício de acumulação ilícita do dinheiro proveniente de matrículas e do escalonamento de professores e alunos, no primário e no secundário.
É por estas alturas que funcionários administrativos do sistema educativo e professores renovam o mobiliário e tratam de ampliar as suas casas de habitação.
A corrupção, em Moçambique, funciona em cadeia, desde a escola, passando pelos serviços distritais até aos provinciais, onde a palavra de ordem é tirar maior proveito possível da situação, com o agravante de o designado décimo terceiro vencimento, este ano, ter sido amputado.
Mais grave ainda é a elevada capacidade de invenção, manipulação manifesta em todos, incluindo responsáveis, numa teia de cúmplices ordinários que teima em vingar e em se solidificar.
Enquanto uns envelhecem e tentam resistir a reformas, outros tantos vão emergindo neste modelo de roubalheira autêntica, de tal modo que, a determinada altura, acabam se acotovelando entre si, imediatamente ameaçando a sua existência.
Quando assim acontece, os mentores são isolados do resto da malta, acabando excluídos e transferidos para lugares longínquos, vítimas da própria malcriadez…
No meio deste emaranhado, o discurso em prol da rapariga na escola cai em desuso, dado o cinismo que o rodeia.
Na Secundária Bonifácio Gruveta, pelos lados de Khongolote, uma aluna, 16 anos de idade, acabadinha de transitar para a 11a Classe, sem nunca ter reprovado, vê o seu nome inscrito para estudar à noite.
Num país onde o crime de violação sexual contra a rapariga estudante dispara em catadupa, a indicação desta para o curso nocturno motiva a desistência, antes isso que morrer espetada até à morte, nos meios suburbanos de Khongolote.
Ademais, a miúda é deficiente física, questão que, certamente, não tem passado despercebida. Este, tão somente, exemplo da precaridade do ensino em Moçambique.
Não há presidente, nem ministro, capaz de inverter este tipo de asneira, porque assente em arraiais.
A chegada do novo ministro é motivo de concertação entre os cartéis do crime dentro da Educação. Analisados os prós e os contra, é montado o esquema de actuação, em muitos casos ‘engolindo’ o titular.
Existem os resistentes e ministros que são presa fácil. Estes caiem mais cedo que aqueles.
Jorge Ferrão esteve mais tempo a auscultar e muito pouco a tentar implementar a sua estratégia, até ser exonerado.
Conceita Surtane parece mais dada aos ares condicionados que os poeirentos...
Qualquer ministro tem uma margem de actuação muito curta, a ser sabiamente aproveitada, sob pena de erros de palmatória.
Conceita tem a oportunidade de evitar crime contra a miúda da Gruveta – cujo trajecto nocturno passa por curvas e contra-curvas em suburbanos ameaçadores. Fica o desafio.
EXPRESSO – 23.01.2017