Canal de Opinião por Noé Nhantumbo
E na senda de autoprotecção dos seus impérios atropelam tudo e todos.
Já teríamos paz definitiva se os grandes senhores assim o quisessem e desejassem. Tão simples como isso.
A avalanche de desinformação semeada a cada dia faz parte de procedimentos bem antigos. Só nos lembrarmos de que aquando do período dourado do partido único havia como que uma central produtora de mensagens subliminares visando endeusar dirigentes e embrutecer as massas. Era o grande projecto de construção do "Homem Novo".
Esse projecto desmoronou--se. As suas bases eram uma utopia imposta pelos verdadeiros mentores da iniciativa. Exportar uma ideologia que se queria ou se dizia pura foi uma fantasia que durou enquanto durou.
Durante a sua implementação, sofreram milhões de pessoas com base em considerações estratégicas dos que supunham que eram os comandantes de um processo que afinal eram paus-mandados.
São estes paus-mandados que passaram anos convencendo os seus compatriotas de que eram gente especial e obviamente com direitos especiais. Até tinham direito a lojas especiais, onde só quem era dirigente deveria comprar, para não se misturar com a gentalha que era o tal povo.
Proclamações e discursos convenientemente escritos por peritos em propaganda política inundavam os órgãos de informação oficial que eram os únicos existentes.
A génese da crise de hoje não é mais do que a comprovação da derrocada do complexo dos "cidadãos especiais".
O espectáculo indecoroso com que alguns se exibem nos canais televisivos vomitando ódios em nome do direito à opinião é claramente uma forma de defesa do seu legado e dos seus impérios construídos sabe-se lá como.
Os pontos de divergência que colocam compatriotas em guerra são conhecidos e já foram motivo de apurados diagnósticos. Um longo período negocial em Roma levou a que se assinasse o AGP que se esperava definitivo.
Mas logo que os "cidadãos especiais" se deram conta de que o poder lhes fugia, começaram a rasgar o AGP. Atacaram nos pontos nevrálgicos na esperança de que uma Renamo removida das FADM e sem presença na PRM e FIR assim como no SISE se desmoronaria por si. Isso até foi vaticinado por um dos membros fundadores da Freiimo, Marcelino dos Santos.
JAC estava no comando do barco quando essa estratégia começou a ser implementada. AEG limitou--se a aprofundar o processo, povoando tudo o que é canto com células de seu partido. O acesso aos fundos públicos de maneira claramente ilícita enraizou-se. As empresas públicas manifestamente viáveis foram sendo dilapidadas de forma agressiva e no fim do mandato de AEG encontravam-se em situação de falência.
Agora como muito bem um economista moçambicano, procuram salvação e no processo têm ajuda da "solidariedade internacionalista" de sempre.
Antes, a "solidariedade internacionalista" fechou os olhos a chacinas fratricidas em nome de um realismo político dúbio. Foi uma solidariedade ou caridade internacionalista que vendeu e propagou a ideia de que o regime de Maputo era merecedor de apoio face a uma pretensa agressão estrangeira e a uma guerrilha com inspiração e apoio estrangeiro.
Assinado o AGP, os "esclarecidos agentes internacionais da solidariedade socialista europeia" continuaram a sua ofensiva de demonização de quem se opusesse aos seus amigos de sempre.
Quem inventou ou promoveu a "tese das pequenas irregularidades que não alteram nem mancham os resultados eleitorais"?
Quem praticamente tem advogado uma democracia de segunda para Moçambique?
Quem tem beneficiado da hospitalidade do poder do dia?
Consultorias e observações eleitorais perfeitamente em consonância com os objectivos dos detentores do poder têm sido principescamente pagas.
Vivem à lorde e como lordes no seu micromundo numa capital em que a maioria vegeta sem água e sem pão. Eles claramente que consomem água mineral e degustam camarões quando querem.
A combinação de intervenções entre os malabaristas nacionais e os internacionais até se atreve a insinuar que os moçambicanos devem aceitar que os prevaricadores e depredadores dos cofres públicos e assinantes das dívidas antes ocultas sejam ilibados.
A impunidade e imunidade judicial é o que sempre tiveram. Se agora isso se mostra insustentável e de difícil implementação, os "cidadãos especiais" apreensivos "mandam dizer" que só abandonarão a cena se lhes for garantida impunidade.
É o fim da estrada para os "cidadãos especiais", queiram ou não. Não é só por falta de força anímica, mas é todo um projecto que já não se aguenta de pé nem com recurso a "spindoctors" importados de Londres ou de Lisboa.
O cerco internacional financeiro coordenado já devia ter ensinado que os amigos de ontem estão abandonando o barco e este está metendo água por vários buracos.
Falhou o recurso a dinheiro fresco da índia e China. Adiantamentos monetários contra exportações futuras de gás não estão recebendo respostas positivas. Até as decisões de investimento final estão sendo adiadas, como que à espera de alguma coisa que todos sabem, menos os interessados locais.
Se alguém tinha dúvidas de que os recursos naturais podem ser uma maldição, já há elementos suficientes que o demonstram.
Quem planifica em segredo traçados de gasodutos de gás e nos corredores assina contratos também secretos, de que estará mesmo esperando e desejando?
Quem se une com corporações internacionais e se apossa de milhares de hectares de terra em supostas "joint-ventures", que deseja na verdade?
Tirar terra aos camponeses não será semear a discórdia?
Face ao que se apresenta a todos e às hesitações dos poderosos, "cidadãos especiais" alguma coisa deve ser feita de forma firme, patriótica e urgente.
Não se pode perpetuar o estado de guerra só porque beneficia os "cidadãos especiais". (Noé Nhantumbo)
CANALMOZ – 17.01.2017