CENTELHA por :Viriato Caetano Dias ([email protected] )
De alguma forma nós temos a culpa, mas essa é a maldição de ter nascido com uma colher (de cobre/metal) à nossa boca. Kenneth Kaunda, antigo presidente da Zâmbia
Num desses dias chuvosos, em Tete, um amigo padre chamou-me para reflectir sobre Moçambique. Como tem sido habitual em nossos encontros, pensei, inicialmente, que o objectivo do convite fosse a oração pela paz, mas depois de ver o seu semblante carregado como uma nuvem negra, logo percebi que naquele dia haveria uma sessão descomunal de descarrego da alma. Estava tão apreensivo com o destino do país que, a dado momento, até pensei que ele fosse apanhar um ataque de nervos. “Amigo Viriato, as coisas não andam bem, o país está à beira do colapso.”
O padre amigo, que pela natureza da sua profissão está habituado a receber confissões, naquele dia, pediu-me que os papéis fossem invertidos.
Eu fiz de conta que era padre, este, que também é um pecador, fez de conta que era o confessado. Prometi a ele, ao amigo padre, não guardar algumas das suas lucubrações (sem prejuízo de nenhuma violação do segredo de formação) que agora partilho com os leitores do Wamphula Fax.
O padre amigo, visivelmente emocionado, começou por dizer que os moçambicanos perderam o hábito de pensar (fermento do trabalho). Manifesta-se, no país, uma crescente falta de prática de raciocínio. As pessoas estão proibidas de pensar diferente, por isso desenvolve-se a cultura da estupidez. Perdeu-se a causa libertária do país, a tocha que iluminava os nossos horizontes. Hoje, poucos estão dispostos a sacrificar-se pela pátria. A marcha da unidade só existe no cemitério do passado histórico. Avivá-la e trazê-la para este mundo materialista é cara e faltam exemplos concretos, pois há mais charlatões que pensadores. Charlatões sem pensamento estratégico. Quando lhes são confiados um cargo de direcção, por culpa da quotização étnica, compadrio e compatibilidade da incompetência, escangalham tudo. São, geralmente, rodeados de uma claque que, mesmo sabendo das pulhices dos seus “deuses”, ovacionam em troca do vil metal.
O padre amigo, aborrecido com o sistema nacional de educação, comentou que algumas pessoas estudam pelo dinheiro. Não há investigação e os formados tornam-se mais estúpidos. Há desmaios na escola x e y, mas nunca se levou a sério uma investigação científica para compreender o fenómeno. Não há respostas para a interpretação dos fenómenos naturais que acontecem no país, mas gasta-se rios de dinheiros para promover a mediocridade As escolas destinam-se a criar quadros qualificados para o progresso nacional e não viveiros de bajuladores, muito menos em embriões de patifes. As escolas deixaram de ensinar ao povo os caminhos da dignidade, de tal forma que enraizou-se o mal no seio da sociedade. Nas suas palavras “quem manda em Moçambique é o dinheiro.”
O padre amigo falou também da cultura. Lamentou o facto de a juventude gostar e gastar mais em coisas que pouco ou nada engradecem a Nação moçambicana. Os jovens não conhecem a História do país. Ignoram as línguas locais e desvalorizam acentuadamente os valores culturais. É uma juventude infestada pelas bebidas e drogas.
Nunca o país esteve tão inseguro com essa juventude.
Uma juventude que procura dominar as tecnologias de informação de comunicação, mas não as regras elementares da boa educação. O “bom dia, boa tarde e boa noite” custa mais que memorizar a senha do telemóvel. Aquilo que aprendem com as tecnologias servem para desrespeitar as fronteiras do próximo.
Perdeu-se a nossa moçambicanidade e passou-se a amar mais os partidos políticos em detrimento do país na sua pluralidade. Como resultado disso, criou-se, no país, uma cultura do medo. Medo de agir e de pensar diferente.
Medo de fazer o que é correcto, medo de dizer a verdade, medo de ser confundido, medo de amar e de ser amado.
Zicomo e um abraço nhúngue ao César e ao Rui.
WAMPHULA FAX – 26.01.2017