EUREKA por Laurindos Macuácua
Cartas ao Presidente da República (40)
Tudo bem, Presidente? Não. Não se preocupe. Não lhe vou perguntar nada sobre o não termos pago os quase 60 milhões de dólares da prestação de Janeiro.
Vou deixar este assunto à maturação. Quero falar dos dois anos da sua governação….
De maneira sucinta, estes dois anos foram prenhes de buracos. Se fosse um tambor, jamais enchia. Culpa de quem? Do povo é que não é. O senhor é que está a dirigir esta nação. Cabia a si ter desenhado as melhores estratégias para solucionar problemas prementes.
Vejamos, o Presidente demorou muito (não sei a fazer o quê) na aceitação da mediação internacional ao conflito político-militar e na auditoria às dívidas ocultas.
Não sei se essa morosidade lhe é peculiar.
Se for, este ano, 2017, tem que mudar. O Presidente precisa de ser audaz na resolução dos problemas do País. Quantas vítimas fez o conflito com a Renamo? Por quê demorou tanto para fazer uma simples chamada a Dhlakama? A passo de camaleão não vamos longe…
E o Presidente ainda deve-nos a paz.
Ela não é efectiva. Trégua não é paz. E, por outro lado, não sei até aqui porquê não pediu o regresso dos mediadores internacionais. Está acomodado na almofada dos dois meses de trégua? Nós, o povo, esperamos uma outra atitude da sua parte. O senhor jurou não descansar enquanto a paz não for efectiva em Moçambique.
A agilidade, Presidente, é característica primordial dos bons líderes. O Presidente demora com assuntos e enquanto isso o País está a ser devastado. Sinceramente se tivesse sido ágil a questão económica devia ter conhecido outro rumo.
Isto tudo cheira-me à falta de foco. Não sei em que campo a sua governação é bem sucedida. Parece estar a tactear.
O seu discurso inaugural, Presidente, foi uma lufada de ar fresco. Dois anos depois é isto: rostos impregnados de tristeza. A falta de entusiasmo é colectiva. Eu não sei em que é que o Presidente gastou o seu tempo nestes últimos dois anos!
O que consigo perceber é que o Presidente não consegue romper com a cartilha frelimista.
Colocou alto a fasquia do que iria realizar e nada. Houve muitas promessas para nada. Declarou tolerância zero contra a corrupção, mas fortunas continuam a ser feitas à sorrelfa e turbinadas com dinheiro público.
Há uma roubalheira infernal e deplorável, num País que, ainda mais, está premido pela brutal desvalorização do metical. Os salários do pobre povo são continuamente esfarelados enquanto o noticiários reportam todos os dias escândalos de meia dúzia de pessoas que sugam ininterruptamente o Estado. As cifras reportadas que irrigam as pastagens de alguns camaradas e parte dos seus sequazes somam um montante de dinheiro fabuloso que flui dentro dessa teia diabólica de corrupção inaudita.
O povo não precisa recordar-lhe, continuamente, que o seu trabalho, Presidente, é levar este País a bom porto. Os telefonemas que diz que tem estado a fazer a Dhlakama não nos vão levar a terra prometida. Há falta de clareza na sua actuação, Presidente.
As eleições autárquicas do próximo ano, vão servir para o povo punir os que não trabalham, os que mentem…
DN – 20.01.2017