Canal de Opinião por Noé Nhantumbo
Tréguas que poderiam servir para preparar um acordo político envolvente e definitivo terão ou estarão a ser usadas para fortalecer posições, recuperar posições, vender uma imagem de boa gente para o país e o mundo.
Há gente que se guindou ao poder e que sempre esteve no poder que não equaciona ou sonha abandonar este poder.
Fingem que estão na reforma, mas as teias que têm montadas nos corredores do poder não lhes dão descanso.
São figuras de poder indesmentível, enraizadas numa máquina política que seria órfã sem a sua presença, ou pelo menos essa parece ser sua percepção.
Se dissermos que os donos da Frelimo cantam democracia, mas abominam-na, não estaremos longe da verdade. Também a sua génese foi tudo menos democrática. Formada numa situação que "em terra de cegos que tem um olho é rei", os reis de ontem continuam os reis de hoje.
E são reis a tempo inteiro. O figurino escolhido por eles já foi até definido quando um deles disse "entregar o poder à juventude é perigoso, pois esta venderia Moçambique".
A delegação do poder que periodicamente ensaiam não passa de embuste. Os delegados, mais do que ninguém, sabem quem, na verdade, manda.
Esta trégua ainda vigente deve ser encarada com muitas cautelas. Os que se armaram meticulosamente e que fazem disso o seu capim em que os seus cabritos comem não estão obviamente satisfeitos. A logística da guerra enriquece.
Havendo sanidade política entre os quase eternos beligerantes teremos, teremos paz.
Mas, atenção, que abunda gente matreira, que só está bem maquinando e manipulando.
Uma prática reiterada de manipulação e de pesca nas águas turvas caracteriza certas pessoas.
E como que a piorar o cenário, temos um batalhão inserido na comunicação social que promove a radicalização. Alguns dos exponentes desta falange são poderosos de ontem que não conseguem ver-se e rever-se como homens e cidadãos normais. O poder é para eles uma substância psicotrópica irresistível. São drogados do poder, que jamais aceitaram subalternidades.
A esperança é a resiliência e criatividade dos moçambicanos.
Gente quase endeusada ontem saiu de fininho por uma porta bem pequena.
As organizadoras das claques e equipas que cantavam hosanas ao "iluminado líder" estão sendo recolhidas, uma a uma, e as mais expeditas já mudaram de campo.
Com muitas manobras étnico--políticas desenhadas para garantir votos, poderemos ter simplesmente mais um congresso da Frelimo sem roturas, mas com aquela continuidade habitual.
A paz, compatriotas, está refém da agenda dos poderosos donos da Frelimo.
Mas a história é imparável. Hitler sonhava com um Reich de Mil Anos.
Agora que o sabor da derrota já é conhecido, há os que se multiplicam proferindo aquele discurso mecânico de que vamos recuperar esta ou aquela cidade. Diziam alguns que possuíam sentido de Estado, mas o que parece conhecerem bem é a primazia no protocolo de tal Estado.
A luta por um Moçambique que dignifica os seus filhos é contínua.(Noé Nhantumbo)
CANALMOZ – 18.01.2017