As últimas duas semanas foram caracterizadas por chuvas fortes
As últimas duas semanas foram caracterizadas por chuvas fortes, em toda a província de Gaza. As mesmas já eram esperada com ansiedade, uma vez que esta é uma das províncias severamente afectadas pela seca que devastou extensas áreas de produção agrícola e gado. Aliás, pela primeira vez, em vários anos, o regadio de Chókwè ficou sem água e o canal que distribui água pelo regadio esteve, durante todo o ano passado, seco.
Mas, em uma semana de chuva, a água voltou e apanhou muitos agricultores desprevenidos, uma vez que os que produzem arroz já haviam perdido a esperança, porque até finais de Dezembro não havia água e não lavraram os campos.
Azevedo Machaieie é um desses agricultores, que agora estão a correr contra o tempo para ver se conseguem, pelo menos, produzir o arroz de ciclo curto, mas isso vai depender da disponibilidade da semente e dos tractores para preparar as machambas.
No ano passado, Machaieie diz que conseguiu produzir cerca de 11 toneladas de arroz, apesar da seca, dificuldade de acesso a máquinas para as colheitas e excesso de pássaros. No regadio de Chókwè, a chuva não causou muitos estragos, porque não havia muitas culturas nas machambas.
Situação contrária verifica-se no regadio do Baixo Limpopo, onde mais de 400 hectares de milho estão quase perdidos, porque a chuva inundou os campos. Os camponeses preferiram plantar milho, porque, com a escassez da água, não era possível lançar a semente do arroz. Agora que choveu, também terão de seguir o mesmo caminho dos seus colegas de Chókwè. No entanto, neste momento, estão empenhados em tentar salvar o milho, abrindo pequenas valas para tentar drenar a água ou colher o milho que está minimamente em condições.
Ontem, domingo, os produtores do Baixo Limpopo trocaram a igreja pelas machambas, para tentarem salvar o esforço dos últimos meses. António Marquele é um desses camponeses. Estima que mais de 100 agricultores estão em apuros, por causa da inundação das suas machambas.
O Conselho Municipal de Xai-Xai diz que está atento ao sofrimento dos camponeses, mas também aflito, porque não tem condições para adquirir semente urgentemente para distribuir pelos camponeses, de modo a produzirem arroz, aproveitando a água disponível. Mas Ernesto Chambisso, edil de Xai-Xai, diz que esforços estão em curso para apoiar os camponeses.
A governadora da província de Gaza, Stela Pinto Novo, diz que há perdas um pouco por toda a província. Diz que avaliações ainda estão em curso, mas estima-se que mais de mil hectares estejam perdidos, em quase todos os distritos. No entanto, ainda não houve necessidade de assistir em alimentação as populações afectadas. A província dispõe de reservas alimentares para assistir 17 mil pessoas durante um mês.
Oito mortos em toda a província
Stela Pinto Novo diz ainda que, desde Outubro, oito pessoas morreram devido a chuvas intensas e trovoadas. A maior parte das vítimas foram crianças, arrastadas pelas correntes das águas dos rios quando apascentavam gado, as quais, na tentativa de atravessar os rios, que outrora estavam secos, não conseguiram calcular a profundidade dos mesmos e afogaram-se.
Conta-se, ainda, que o mau tempo destruiu mais de 140 escolas, em toda a província, e mais de 10 mil casas, na sua maioria de construção precária. De acordo com o governo, a maior parte dos proprietários fez a reconstrução das casas, logo que o estado do tempo melhorou, daí que não houve necessidade de criação de centros de acomodação ou de fazer reassentamentos.
Na capital provincial, por exemplo, houve casas que ficaram alagadas. Entretanto, visto que a chuva se registou depois de um período muito seco, logo que parou de chover, as águas não demoraram secar.
Se continuar a chover com alguma insistência e se registar cheias, o Município não prevê reassentar famílias, pois diz ter uma base de dados de todas as pessoas que residem em zonas baixas que nas cheias anteriores receberam terrenos em zonas altas. Neste sentido, está apenas preparado para prestar apoio logístico às pessoas para se mudarem para os terrenos que detêm nas zonas seguras.
Circulação difícil em alguns distritos
Circular em Gaza está difícil neste momento. Nos distritos de Massingir, Manjacaze e Chibuto, há vias cortadas, cuja transitabilidade é quase impossível. Na zona norte da província, o trânsito está condicionado em Mapai e Chicualacuala.
As chuvas da última semana também agravaram a situação de algumas importantes estradas da província, casos do troço Chissano-Chibuto, da via de Madzucane e do troço Chibuto-Guijá. Salientar que estas três estradas foram severamente danificadas pelas cheias de 2013 e nunca mais beneficiaram de qualquer reabilitação.
A cidade de Xai-Xai também tem cerca de 70 quilómetros de estradas urbanas e periurbanas danificadas pela erosão. A edilidade está, neste momento, a mobilizar-se para tentar repor a transitabilidade dentro da capital da província de Gaza.
O PAÍS – 23.01.2017