Canal de Opinião por Noé Nhantumbo
“Empresários vermelhos” contra a democracia é o que entrava entendimentos entre cidadãos de um mesmo país. Estes empresários sabem que, se desamarrados do partido vermelho, a bancarrota já teria sido declarada faz tempo.
Uma montagem visando manter o poder nas mãos das mesmas pessoas que chegaram ao poder em 1975 levou a que se estabelecem alianças entre os políticos poderosos e aqueles que se tornaram empresários privados graças ao apoio estratégico dos primeiros.
Moçambique está sendo vítima de uma cultura de partidarização socio-económica que impede progresso e estabilidade política.
Os políticos andam desavindos alegadamente porque as suas agendas são díspares ou porque os seus partidos têm orientação política que não permite consensos.
Criou-se uma maneira de estar e ser em que a cor política define tudo.
Depois de décadas de partido único, a sociedade ainda não está liberta daquela orientação ideológica que dizia que os não membros do partido-Estado eram reaccionários, contra-revolucionários e inimigos.
Com o AGP surgiu a esperança de que o pluralismo político tivesse vindo para ficar. Mas o que se verificou foi uma máscara ou pintura falsa.
O país continuou a ser construído ou destruído se quisermos a verdade em moldes monocromáticos.
Para permitir e favorecer a implantação de uma situação favorável aos mentores e promotores do “Empoderamento” Económico Negro na maioria dos casos ilícito houve necessidade de estabelecer redes controladas de tráfico de influência.
Os melhores pagadores de quotas no partido que suporta o Governo são os empresários.
Claro que os empresários sabem que a sua sobrevivência e progressão dependem das quotas e presença nas actividades do partido.
Os vencedores dos concursos para o “procurement” eleitoral são empresários filiados no partido Frelimo.
Quem transportou o material que o STAE necessitou para a realização das eleições de 2014 foram empresários ligados à Frelimo.
Quem controla os parques de máquinas agrícolas do FDA são “empresários vermelhos”.
Isto são constatações poucas vezes referidas, mas constituem uma verdade indesmentível. Não há quem não saiba que ganhar contratos chorudos e empreitadas se precisa de estar “encostado” ao partido no poder.
Esta situação tornou-se insustentável e promotora de crises como a que vivemos nos dias de hoje.
Está tudo associado e, se falhamos na política, também estamos falhando na economia.
A agricultura que não produz porque alguém entendeu que tudo tem de ser avermelhado, os créditos avermelhados.
Compatriotas, enquanto se finge somos democratas mas afunilamos os negócios para os “camaradas”, este Moçambique caminhará para o abismo.
Moçambique não está sendo partilhado e compartilhado.
Há que repensar este Moçambique numa perspectiva nacional em que a agenda de desenvolvimento traga justiça política e económica reais.
Não se pode continuar a ter um país em que uns poucos têm tudo e a maioria nada tem.
Discursos bonitos e perfumados não trarão soluções para os nossos problemas.
Fintar a verdade é fintar a paz, e quem assim faz está promovendo a guerra.
O que parece de difícil solução não é propriamente tão complexo. Tudo se resume à inexistência de vontade real de encontrar soluções até conhecidas.
O que nos atrasa como país e sociedade tem sido uma postura de “tudo para mim” e nada para os outros.
Antes de falarmos de desenvolvimento endógeno e sustentável, há que tratarmos da questão nuclear que é um sistema político democrático e sustentável.
Aquela ladainha de “renomados analistas” defendendo que os “perdedores” de eleições em Moçambique só sabem queixar-se de fraude é parte da cartilha dos mentores e promotores da fraude que tem existido e se sofisticando desde 1994.
2017 está começando e temos de ver os protagonistas do nosso processo político assumindo responsabilidade efectiva dos “dossiers”. Quem não está preparado para responder aos anseios dos moçambicanos que se demita.
Basta de mediocridade política e governativa.
Compactuar com a corrupção nos faz corruptos e ou nos unimos como cidadãos para remover este cancro activo ou estaremos todos perdidos.
É vergonhoso que seja socialmente aceite a convivência com tanta podridão. (Noé Nhantumbo)
CANALMOZ – 23.01.2017