Bate-fundo por Salvador Raimundo
Trump acaba de assinar decreto-lei que permite a rápida construção do muro fronteiriço entre os Estados Unidos da América e o México. E isso está a dar que falar, entre os contra e os pró.
Ainda não se conhece o tipo de muro a erquer, cujas custas rondam os 30 mil milhões de dólares norte-americanos. Se muro de betão ou baseado em rede e arame farpado.
Por cá temos vários muros (visíveis e invisíveis), que nos separam da Swazilândia, África do Sul, Zimbabwe, Malawi...
O muro politicamente badalado é o da fronteira com a África do Sul do apartheid, por lhe ter sido ligado à rede eléctrica, propositadamente para electrocotar quem a ele se fizesse, com a finalidade de pular para o outro lado da linha divisória.
Com o fim do apartheid, o único que as novas autoridades sul-africanas fizeram foi desligar a corrente eléctrica responsável pela enorme onda de críticas um pouco por todo o lado. Mas a estrutura continua no mesmo lugar e cada vez mais vigiada por militares fortemente armados e, por vezes, acompanhados de cães altamente treinados.
As mortes não anunciadas são frequentes, quase ao mesmo ritmo que antigamente, por o número de moçambicanos que pretende atravessar a fronteira, para o país prometido, continuar alto.
São vastas as razões que levam as pessoas a optarem pela travessia através do muro, em detrimento das vias legais, entre elas, o tráfego de seres humanos, falta de documentação requerida, levarem consigo objectos proibidos ou porque acompanhados de menores sem a necessária papelada que lhes confere não serem parte do mencionado tráfego.
Para isso, o recurso a vias alternativas requere meios financeiros, muito dinheiro para pagar, inclusive, elementos da guarda-fronteira moçambicana que fiscalizam a área do cimo das montanhas.
Estes, ao cabo de uma jornada laboral, se juntam e fazem contabilidade da colecta, para uma divisão equitativa dos rands roubados.
A própria intermediação, destas escapadelas, tem sido acusada de actos criminosos, pois raramente deixa escapar a ocasião para abusar sexualmente das suas presas ou de as retirar todos os pertences antes de as deixar continuar a terrível caminhada.
Caminhada que pode terminar na boca da polícia canina sul-africana, para o graúdo da bicharada.
Por sorte, a caminhada ainda pode terminar em campos agrícolas, em canaviais onde o trabalho forçado teima em prevalecer, pesem os acordos rubricados pelo punho de Helena Taipo e Vitória Diogo, agora, com as autoridades sul-africanas.
O facto é que quem anda a assinar os papéis não é o mesmo que anda a fazer a fiscalização.
Aquilo é uma verdadeira escravatura, onde homens e mulheres são a prova de que as políticas mudam, mas o trato entre os seres humanos continua a ser o mesmo, antes e depois do apartheid.
Eis o episódio dos muros...Pena a exiguidade do espaço de que se dispõe para estas linhas sugestivas.
EXPRESSO – 27.01.2017