Canal de Opinião por Noé Nhantumbo
Que a gula não faça descarrilar o comboio da paz.
Pode parecer fácil resolver os diferendos existentes. Impossível não é, especialmente se não surgirem os que habitualmente controlam os “dossiers” a partir dos seus sumptuosos aposentos.
Temos um Moçambique com forças difusas, decididas a fazerem valer suas agendas privadas.
Estávamos quase a aprofundar uma guerra pelos recursos, tudo porque os que se dizem “donos” de Moçambique não queriam partilhar Moçambique.
O momento é deveras melindroso e potencialmente explosivo.
Nada pode ser deixado ao acaso e simplesmente entregue aos habituais “constitucionalistas”.
Não se pode construir Moçambique excluindo a maioria do usufruto de seus direitos.
A perspectiva sob a qual está organizada a partilha dos recursos minerais é visivelmente enganadora. Ex-camaradas repartindo um alegado espólio transformou-se em ciência governativa.
Com o patrocínio directo de conglomerados financeiros e industriais concedendo créditos e assistência técnica, desenvolveu-se uma cultura de impunidade institucionalizada.
Vergonha após vergonha, chamada “dívida soberana” por alguns defensores empedernidos de um regime, colocaram o país de rastos.
Recuperar é possível. Mas é preciso querer que tal aconteça.
Os que querem discutir a paz são capazes, até porque está quase tudo preparado para que os líderes das partes em beligerância assinem.
Não há nada escondido nem secreto sobre o que divide os moçambicanos.
Que há muita invencionice e discurso furado por parte dos que se dizem “libertadores”, todos sabemos.
A reforma geracional é inexorável.
Quem não preparou herdeiros, que se culpe a si próprio.
Hoje, já não estamos numa encruzilhada.
Todos sabem o que deve ser feito.
Parece haver um relativo nas hostes dos defensores da ditadura e da imposição. Será resultado de concertação estratégica entre pares?
Como recurso de última hora, ensaiam-se movimentos desestabilizadores da oposição, numa pré-campanha antecipada em que abundam vaticínios de desagregação deste ou daquele partido.
É jogo já experimentado antes.
Cabe à oposição cuidar-se e abandonar infantilismos políticos contraproducentes. Qualquer vitória só o é depois do fim do jogo.
E este jogo deve ser por Moçambique e não pela defesa de regalias insultuosas num oceano de pobreza em que se transformou o país.
Esperemos que haja serenidade e clarividência por parte dos nossos políticos, para, de maneira firme, construírem os consensos fundacionais de uma nova era de paz concreta.
Recuperar o AGP de Roma depois das experiências havidas tendo em conta que Moçambique pertence aos moçambicanos e não a grupos grupos especiais de interesses privados habituados a dividir entre eles as riquezas que afinal são de todos.
Tem sido essas forças sinistras que inviabilizam ciclicamente a paz e o desenvolvimento endógeno.
Nem “jatrophas”, nem “Proagri”, nem “Sustenta” trarão o desenvolvimento desejado, porque foram todos eles desenhados para enriquecer elites predadoras.
Não é pessimismo, mas bem pelo contrário.
Distribuir milhares de hectares para o “Prosavana” também é produzir sem terra e enriquecer franjas de “lobistas” e os detentores do poder.
A paz que se pretende incorpora elementos de democracia política e económica.
Que ninguém se esqueça disso. (Noé Nhantumbo)
CANALMOZ 20.02.2017