O ciclone Dineo, que fustigou vastas zonas da região Sul de Moçambique, com gravidade para a província de Inhambane, na quarta-feira da semana passada, veio reavivar um fenómeno por nós, amiúde, denunciado nas páginas deste jornal, mas que é respondido com um assobio ao lado, por quem de direito.
Estou a falar da qualidade, ou a falta dela, na maioria das infra-estruturas construídas no Moçambique pós-independência.
Esteve bem o Primeiro-ministro Carlos Agostinho do Rosário ao apontar pública e claramente a má qualidade das obras como uma das causas da destruição das infra-estruturas públicas na província de Inhambane, na passagem do ciclone tropical Dineo.
Disse, e bem, que “o grande problema é a qualidade das obras, os projectos de construção têm de ter em conta que, no nosso país, sempre haverá ciclones”.
Infelizmente, como também já o dissemos milésimas vezes, neste Moçambique não há responsabilização em situações que tais, porque, caso contrário, seriam identificados os responsáveis pela edificação de infra-estuturas sem a qualidade necessária e penalizados.
Não estarei longe da verdade se afirmar que a escola onde os avós, pais e o próprio nosso Primeiro-ministro frequentaram o ensino primário, construída por estrangeiros (colonizadores portugueses), ainda tem tecto firme, depois de atingida por numerosas intempéries, após a sua construção.
Os nossos “engenheiros” e outros responsáveis pelas obras públicas por este Moçambique todo não se envergonham de, depois de reclamar milhões de USD, nos apresentarem “barracas” no lugar de edifícios públicos decentes, que cedem ao menor sopro do vento?
Mas, também, quem se envergonharia ou teria receio algum sabendo que nada lhe será feito pelos seus imediatos superiores?
Porque não desabam ou ficam sem tecto a Escola Secundária Josina Machel, Francisco Manyanga, Primária 16 de Junho, em Maputo, o Hospital Geral de Chamanculo, aqui na capital, o Hospital Rural de Chicuque (Inhambane), só para citar poucos exemplos?
Compatriotas, à vista desarmada, quem quiser que dê uma olhada aos edifícios construídos pelos colonizadores antes da independência, e pelos nossos patrícios, depois de Junho de 1975 e faça a comparação e tire as suas conclusões, sem paixões.
Por quanto tempo mais seremos presenteados com este cortejo de moscambilhas erguidas à custa dos nossos impostos e dos de contribuintes de países generosos connosco?
Haja ponto final nisto, sob pena de os seus responsáveis serem condenados pelas actuais e futuras gerações!
“Tiku 15” é uma rubrica que se inaugura hoje e que, sempre que Deus o permitir, será semanal (sairá às sextas-feiras).
Espero que seja de alguma utilidade, mesmo sabendo que a falta de cultura de leitura campeia neste país em que até alguns ministros são alérgicos aos meios de comunicação social sérios, mas aficionados do imoral.
refinaldo chilengue
CM – 24.02.2017