Canal de Opinião por Noé Nhantumbo
Todo o cuidado é pouco nos próximos dias e meses. Por causa de fúria hegemónica de alguns, temos assistido a retrocessos em questões que se julgavam ultrapassadas.
As teias que amarram pessoas e grupos de interesse privado em Moçambique abundam e não descansam.
Instalou-se uma cultura da morte ou de desprezo puro e simples da vida humana que na verdade não é nova.
Pela manutenção do poder temos compatriotas que optam pela mentira cínica e cruel.
Depois do brilhantismo independentista começou-se a ver quem era quem na realidade.
Começaram positivamente em dividir entre eles o espólio da guerra colonial. Foram também rápidos em distribuírem-se patentes militares que agora garantem reformas mais ou menos gordas.
Depois construíram um aparato de autoprotecção inexpugnável.
Obviamente que o seu totalitarismo não se estabeleceu sem reacção de um número crescente de moçambicanos.
Exímios malabaristas até conseguiram convencer os seus “camaradas” internacionalistas de várias latitudes sobre a justeza de suas posições. Esconderam os seus brutais abusos sobre os direitos humanos e conluiados com abrilistas portugueses abriram caminho para uma guerra civil que diziam que venceriam em semanas.
É nossa história, compatriotas.
Nada valeu mentir sobre ela ontem, assim como não vale a pena mentir hoje.
As escorregadelas no processo político nacional são resultado de posições concretas de políticos conhecidos que ainda não conseguiram imaginar Moçambique sem a sua hegemonia.
Ao longo dos anos e através de processos doutrinários e de compra de obediência, conseguiram construir uma base de apoio considerável.
Uma boa parte dos apoiantes são os funcionários do partido que suporta o seu Governo. Gente dócil e obediente que cumpre escrupulosamente as ordens e instruções, mesmo que sejam subliminares.
Assim têm sido organizadas as fraudes eleitorais, que amiúde redundam em conflitos e chegaram desta vez à categoria de hostilidades político-militares de vulto.
Hoje, fala-se muito da falta de confiança entre os beligerantes, mas quase nada se diz sobre a falta de honestidade e de senso de destino comum.
Quando se fala de desarmamento, procura dar-se a uma parte o direito de continuar armada. Esse unilateralismo pretensamente de Estado não cola, porque se sabe que as forças de defesa e segurança ainda não são republicanas. Obedecem a comandos partidários como sempre foi.
Agora que parece terem-se esgotado os recursos ou opções militaristas, surge oportunidade de os beligerantes se enfrentarem com uma abertura e honestidade patriótica.
Estamos todos encostados contra a parede que é o povo moçambicano.
Este já não aceita ser mais enganado por políticos com agendas obscuras e sinistras. Políticos de escrúpulos suspeitos enriquecendo à custa do sangue de inocentes, engravatado a mistelas alegadamente de Paris passeiam a sua classe proclamando-se padres de uma igreja de pecadores graduados.
Não sejamos puritanos ou pretendentes a isso. Não há imaculados em política, mas pode--se fazer muito mais e melhor. A voracidade com que se atacam os recursos e os outros mostra que não existe interesse genuíno em restabelecer a paz.
Aqui parece que a equação é continuar a enganar, protelar e depois liquidar quem se oponha à hegemonia estabelecida em 1975.
Se não tem sido a resistência e resiliência heróica de milhares de moçambicanos, estaríamos subjugados como os angolanos vivem.
Falam de democracia porque está na moda, não porque a queiram promover. Até os seus amigos de ontem estão envergonhados do que fizeram no passado, pois hoje se dão conta de que contribuíram para engordar déspotas.
Existem dois elementos da equação definidos, descentralização e reintegração militar. É um binómio sobejamente conhecido.
É preciso despender recursos construindo forças defesa e segurança republicanas ao mesmo tempo que se aprofunda a descentralização que deverá passar por emendas constitucionais consensuais e sem malabarismos de constitucionalistas que nunca o foram.
A remodelação havida no SISE pode ser instrumental para a paz na medida em que seu novo chefe conhece o “dossier” e já conviveu profundamente com o comando militar da Renamo.
Também parece que paira ar fresco com outro conteúdo à volta do PR.
A Renamo tem revelado capacidade de contenção e disciplina, se olharmos para o passado. As duas partes nunca estiveram de acordo político viável. Também tem sido visível que, embora não haja participação directa de outros partidos e sensibilidades sociais, estes actores têm sido escutados. Mais tem de ser feito, e isso só acontecerá com o estabelecimento de uma CRM mais democrática assim como promotora daquela paz e democracia desejada e sonhada pelos moçambicanos. (Noé Nhantumbo)
CANALMOZ – 13.02.2017