As relações entre Portugal e Moçambique estão azedas. Depois de três semanas sem responder a uma carta do Presidente Marcelo sobre empresário desaparecido, Filipe Nyusi envia finalmente um ministro a Lisboa.
O Presidente moçambicano Filipe Nyusi foi dos raros chefes de Estado convidados por Marcelo para a sua tomada de posse Miguel Manso Depois de sete meses de silêncio, Maputo vai enviar o seu ministro do Interior a Portugal para discutir o misterioso caso do empresário português raptado em Julho em Moçambique — e desaparecido desde então. O insólito mutismo gerou um profundo mal-estar no Estado português.
O ministro moçambicano Jaime Basílio Monteiro chega a Lisboa na quarta-feira e deverá encontrar-se com o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa e com o primeiro-ministro António Costa, em reuniões separadas, confirmou o PÚBLICO junto de várias fontes.
Após múltiplas démarches portuguesas ao longo dos últimos meses, Rebelo de Sousa enviou há três semanas uma carta ao seu homólogo Filipe Nyusi para pressionar de novo Maputo, mas nem essa diligência surtira até agora qualquer efeito. António Costa falou também com o seu homólogo Agostinho do Rosário e disponibilizou a Polícia Judiciária portuguesa para cooperar com a moçambicana na investigação. E nada.
Este domingo, o PÚBLICO revelou o desaparecimento do português, um empresário agrícola que há anos trabalha na Beira, no centro do país, e noticiou o mal-estar que o silêncio de Maputo gerou em Lisboa.
O Governo moçambicano pediu as duas audiências esta quinta-feira, depois de ignorar repetidas diligências. Desde Julho, também o Ministério dos Negócios Estrangeiros e a Procuradoria-Geral da República fizeram repetidos contactos formais e informais junto de Maputo. Há dezenas de especulações a circular tanto em Moçambique como em Portugal sobre as circunstâncias e as possíveis motivações dos raptores, umas colocando o rapto num cenário político, outras num cenário económico.
Não se sabe o que o ministro Jaime Basílio Monteiro vem a Lisboa dizer. Do mesmo modo que não é clara a leitura política que deve ser feita sobre a opção moçambicana de enviar um ministro em pessoa, em vez de uma carta.
No MNE, no Governo e em Belém domina uma expectativa cautelosa. É de antecipar que o ministro moçambicano traga informação concreta sobre o português desaparecido, uma vez que vem mandato pelo Presidente Filipe Nyusi.
Mas inesperada visita de Jaime Basílio Monteiro pode ter dois significados: Maputo quer fazer um gesto de contrição, reforçando a mensagem de que o arrastado problema de comunicação chegou ao fim e não se repetirá, ao mesmo tempo que afirma a importância que atribui às boas relações com Portugal.
Ou, simplesmente, que Maputo não quer pôr nada por escrito, preto no branco, em relação ao mistério do português desaparecido.
PUBLICO(Lisboa) – 24.02.2017
NOTA: Trata-se de Américo Sebastião.